O processo de reestruturação econômica de uma cidade ou região não se dá sem traumas. Em Santo André já estamos há quase duas décadas envolvidos com mudança de perfil econômico que lentamente vem causando fissuras. Uma cidade que se desenvolve com vocação eminentemente industrial se organiza do ponto de vista urbano para atender a esse perfil. Ao iniciar-se processo de esvaziamento do parque fabril e crescimento de outras atividades econômicas, o Município se depara com estruturas urbanas inadequadas que trazem inconveniências de natureza social e econômica.
Não é muito simples acompanhar esse processo desencadeado pelo mercado com ações de reestruturação urbanística, até porque é necessário que se configurem tendências claras e irreversíveis para que ocorram ações públicas de adequação.
Exemplo característico é a Avenida Industrial. Principal eixo industrial do Grande ABC do começo do século e berço da indústria andreense, também foi a primeira a começar a sofrer o processo de estagnação e esvaziamento econômico. Foram necessários vários anos de galpões abandonados e degradação urbanística para que o mercado consolidasse ali nova tendência.
Como a Avenida Industrial, diversos outros corredores importantes de Santo André apresentam a mesma característica: Avenida dos Estados, Avenida Queirós dos Santos, Avenida Giovanni Batista Pirelli e Avenida Pereira Barreto, entre outras. Cada um desses corredores se transformou com sua própria intensidade e em momentos distintos, mas tendo em comum o fato de gerarem áreas de estagnação e de inadequação urbana, consolidando, assim, imagem negativa da cidade.
Um novo tempo
O desafio a que se impõe a atual gestão é preparar a cidade para um novo tempo, em que preponderarão outras atividades econômicas. Para tanto, diversos esforços têm sido desenvolvidos em várias frentes simultâneas, desde a ação regional, fortemente estimulada pelo nosso prefeito, engenheiro Celso Daniel, até as questões locais de desenvolvimento econômico vinculadas ao fomento de novos empreendedores e à formação e qualificação de mão-de-obra, passando pelo fortalecimento das ações de caráter social como ampliação da assistência à saúde e à rede de ensino público.
Há ainda um conjunto de outras ações relevantes nessa área, entre as quais o esforço de modernização administrativa e qualificação dos serviços públicos, ou ainda a inovadora experiência de concentração de projetos sociais como renda mínima, Banco do Povo, urbanização de favelas etc., que ocorrem no projeto integrado de combate à exclusão social.
Mas gostaria de detalhar melhor no âmbito deste artigo as ações de natureza urbanística com incidência concreta sobre a cidade que estão, de fato, redesenhando e construindo uma nova Santo André. Durante o ano de 1997 desenvolvemos grande esforço na concepção dos principais projetos de intervenção urbanística na cidade. Ao final do ano, apresentamos para a sociedade os três principais projetos de modificação e requalificação urbana a serem colocados em prática no âmbito deste governo: o projeto do Centro, o projeto de Vila Luzita e o de Santa Terezinha. Além disso, foi apresentado (e já iniciado) o projeto da nova Avenida Industrial e da recuperação estrutural da Avenida dos Estados.
Em 1998, debruçamo-nos no detalhamento das propostas apresentadas e na elaboração de projetos complementares de outros centros de bairros importantes que pudessem se conectar aos centros principais escolhidos, ampliando a onda de renovação urbanística por toda a cidade. Desenvolvemos, assim, um novo programa destinado a requalificar urbanisticamente outros centros de bairros na cidade.
Ainda em 1998 colocamos em andamento as obras de infra-estrutura que possibilitariam a renovação urbana pretendida nas áreas escolhidas. Foram tocadas pelo Semasa as obras de drenagem no centro, concluídas em sua primeira etapa em setembro e com previsão de finalização da segunda etapa em maio deste ano, com custo global aproximado de R$ 12,9 milhões; a recuperação da Avenida Industrial, concluída no seu primeiro trecho em parceria com o ABC Plaza Shopping e em andamento no segundo trecho, previsto para ser entregue em abril deste ano, ao custo de R$ 1,520 milhão; a recuperação da Avenida dos Estados, concluída em junho de 1998 ao custo de R$ 8,6 milhões; a canalização do córrego Guarará e abertura da Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, prevista para ser entregue em julho deste ano ao custo de R$ 5,5 milhões; além de outras obras de apoio como os piscinões de Santa Terezinha e do Bairro Bom Pastor.
As obras no centro
No centro, destacamos as obras de recuperação estrutural e reformulação viária do eixo da Avenida XV de Novembro, Avenida José Amazonas, viaduto Juscelino Kubitschek, Avenida José Cabalero, Avenida Justino Paixão, Viaduto Ângelo Gaiarsa, Coronel Alfredo Fláquer (via Perimetral rebaixada e elevada) e Avenida Santos Dumont. Estas intervenções revitalizarão um dos principais corredores viários do Município, responsável pela ligação entre o 1º e o 2º subdistritos e do centro com a região sul da cidade. Viabilizarão ainda importante modificação no tráfego na região central, na medida em que vão possibilitar o descongestionamento da Alfredo Fláquer.
Faz parte dessa intervenção a construção de duas passarelas de pedestre, uma ligando a Avenida Padre Anchieta à Praça IV Centenário (em frente ao Américo Brasiliense) e a outra na transposição da Avenida Coronel Alfredo Fláquer na altura da Rua Dom Duarte Leopoldo e Silva (em frente à Coop), além da reforma integral da passarela existente. Será implantado ainda novo paisagismo em frente ao Paço Municipal na Avenida José Amazonas e na Praça IV Centenário, com construção de significativa área verde em frente ao Américo Brasiliense e à Rua Delfim Moreira. Todo esse conjunto urbanístico remodelado receberá nova iluminação com características ornamentais.
Na Avenida Coronel Alfredo Fláquer serão realizados os maiores investimentos, pois todo o conjunto estrutural da via confinada, um marco da engenharia viária da década de 1970, estava em ruína depois de quase 30 anos sem nenhuma reforma de porte. Estão sendo reconstruídas as placas de concreto que funcionam como guarda-corpo da via elevada e reafixadas todas as demais placas após tratamento das ferragens e recobrimento das armaduras expostas pela ação do tempo.
Os pontilhões existentes sobre a via rebaixada estão sendo impermeabilizados e recebendo novo pavimento. Para aumentar a segurança na via rebaixada, implantamos sistema de defensas (tipo new jersey) entre as duas pistas e refizemos todo o pavimento com tecnologia de concreto asfáltico armado que permite maior durabilidade com menor espessura de pavimentação. Além disso, toda a iluminação está sendo refeita e serão implantados equipamentos de controle de velocidade e de monitoramento remoto por câmeras de vídeo.
Na Praça Ademar de Barros (no entroncamento da Avenida Coronel Alfredo Fláquer com Avenida Santos Dumont) estamos implantando novo sistema viário que aumenta a fluidez do tráfego de passagem, reduzindo o conflito com o movimento de retorno ao centro. Neste processo, serão reformados o paisagismo e a iluminação da praça, com destaque para a estátua ao imigrante italiano ali implantada.
No miolo da área central, a principal intervenção viária ocorre na Avenida Bernardino de Campos, na área do Terminal Oeste sob o viaduto Antônio Adib Chamas (18 do Forte), na Avenida Queirós dos Santos, na Rua General Glicério e na Avenida Arthur de Queirós. As ações visam à implantação de novo binário de acesso à área central que terá como eixo de penetração no centro a Avenida Arthur de Queirós e Rua General Glicério e como eixo de saída a Avenida Queirós dos Santos.
Modificações importantes
A modificação possibilitará nova orientação ao tráfego oriundo de São Paulo, Zona Leste e 2º subdistrito que se dirija ao centro ou bairros da região sul da cidade para o viaduto Pedro Del’Antônia e deste para a Rua Itambé e Avenida Queirós dos Santos, descongestionando assim o viaduto Antônio Adib Chamas e a Avenida XV de Novembro.
Essa nova orientação do tráfego na área central desencadeará uma série de outras mudanças que no conjunto permitirão maior fluidez no centro e maior integração com a Avenida Industrial que se expande em direção ao Bairro Jardim como corredor privilegiado da implantação de novos e qualificados serviços -- como o ABC Plaza já inaugurado.
Ainda na área central cabe destaque à intervenção urbanística na Rua Coronel Oliveira Lima, principal via do comércio de rua do Município, palco de estudo à parte que propôs arrojada obra de cobertura e qualificação do calçadão. A obra, já em andamento, prevê a cobertura do trecho que vai da Rua Luís Pinto Fláquer (Largo da Estátua) até a Rua Dr. Albuquerque Lins (Quitandinha), além da reformulação paisagística, de piso e de mobiliário urbano de todo o conjunto, incluindo a Praça do Carmo.
Trata-se de obra complexa, que busca dar ao trecho a comodidade e a facilidade encontradas nos shoppings. Para tanto, aspectos de layout e segurança deverão estar sendo trabalhados, além de outras questões de infra-estrutura elétrica e hidráulica e de serviços de apoio das lojas existentes nesse trecho. O conjunto dessas intervenções vai se aproximar de R$ 11 milhões e deve estar concluído até o final do ano.
Complementa as ações a modernização do sistema de estacionamento rotativo na área central. A concessão do serviço à iniciativa privada permitiu que se realizassem investimentos na ampliação do número de vagas em mais de 120% (de 650 para 1,5 mil vagas). O gerenciamento por meio de parquímetros eletrônicos potencializa a rotatividade e garante maior oferta de vagas.
Todas essas ações visam dotar o centro de Santo André de condições adequadas para cumprir novo papel para a cidade e região. É necessário dar fluidez ao tráfego de acesso e de passagem (macro-acessibilidades) e também condições de se chegar e parar nos pólos geradores de tráfego (micro-acessibilidade).
Beleza e atratividade
Mas não é apenas isso que importa: é necessário que o centro seja bonito e tenha atrativos que orgulhem o cidadão. É com essa perspectiva que estamos empreendendo extensa intervenção paisagística para trazer mais beleza à área central. São marcos importantes dessa ação os jardins em frente ao Paço Municipal, a nova praça em frente ao Américo Brasiliense, o eixo da Avenida José Amazonas e a área localizada na Avenida dos Estados no acesso ao viaduto Antônio Adib Chamas. Sem prejuízo das ações que pretendemos pulverizar na cidade, trataremos estas áreas com padrão de excelência paisagística como referência de nossa ação.
Faz parte ainda do conjunto de intervenções de porte na área central a construção da nova rodoviária, a ser iniciada agora em abril e que deverá estar totalmente pronta no final deste ano. A obra proporcionará a Santo André equipamento de porte, digno da importância da região e que virará a página do constrangimento de se embarcar e desembarcar embaixo do viaduto. A nova rodoviária será construída na Avenida Industrial, junto ao viaduto Castelo Branco, em parte pela iniciativa privada que investirá aproximadamente R$ 3,5 milhões e em parte pela municipalidade que deverá desembolsar R$ 1,5 milhão. A obra foi concebida para interligar a Avenida Industrial com a Avenida dos Estados (na altura do Sesi), permitindo ampla acessibilidade local e regional.
Fora da área central, os dois centros de porte escolhidos para intervenções de maior vulto foram o de Santa Terezinha e o de Vila Luzita. Em Santa Terezinha as obras já iniciaram e consistem de intervenção viária, levada a efeito junto com as obras da Avenida dos Estados, que garantiram novo acesso aos bairros do 2º subdistrito por meio de nova rotatória na interseção com a Rua Colônia, para desafogar o tráfego na rotatória de Prefeito Saladino. Esse novo acesso é complementado na Praça Pinto Bandeira com as obras da Rua Antonina, Avenida Pinhal e Rua Alemanha, que se configurarão em novo binário de acesso à região do Camilópolis e Vila Lucinda.
Ainda no campo das intervenções viárias, estão em execução o novo desenho geométrico da Praça Camilo Peduti e a duplicação da Avenida João Pessoa, que garantirão rápido escoamento à divisa com São Paulo e à Avenida Sapopemba, importante corredor limítrofe entre a Capital e Santo André. A divisa se encontra muito deteriorada, mas será inteiramente recuperada a partir deste mês, melhorando em muito as condições de fluidez e segurança do tráfego.
Este conjunto viário constitui eixo coletor importante do tráfego de toda uma região que engloba os bairros de Camilópolis, Vila Lucinda e Parque Novo Oratório em Santo André e Vila Industrial e Jardim Elba em São Paulo em direção à Avenida dos Estados e desta para o centro de Santo André.
Mais investimentos
As obras viárias são apenas parte da intervenção em Santa Terezinha. Complementa as ações todo um conjunto de melhorias urbanísticas que se concentram na Alameda Martins Fontes, Praça Rui Barbosa, Alameda Vieira de Carvalho, Alameda São Bernardo, Praça Artur Azevedo e Rua Bartolomeu de Gusmão. Nesta área será implantado o projeto urbanístico idealizado pelo arquiteto Jorge Bomfim e sua equipe, que dará nova identidade ao bairro e uma qualidade urbanística e paisagística invejável. O conjunto das intervenções deverá estar concluído em outubro deste ano a custo estimado de R$ 2 milhões.
Em Vila Luzita as obras também têm forte conotação viária. Toda a região vinha sendo asfixiada pelo tráfego permanentemente congestionado junto ao Largo da Vila Luzita, que não acompanhou o crescimento da região nos últimos anos e nem se preparou para receber o intenso tráfego de passagem proveniente de São Bernardo com a abertura das avenidas Peri Ronchette, Luís Pequini e Rua dos Vianas.
Pensar o desenvolvimento da região implica necessariamente resolver este grave problema estrutural. Sendo assim, aproveitamos as obras de canalização do Córrego Guarará e a abertura da Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo -- empreendidas pelo Semasa e que propiciaram a ampliação do Largo de Vila Luzita -- para implantar novo sistema viário na região, constituído basicamente de um binário entre as avenidas Adriático e São Bernardo. A idéia é trazer o tráfego oriundo de São Bernardo para a Vila Luzita pela Avenida São Bernardo e levar o tráfego da região para São Bernardo pela Avenida Adriático.
Para tanto, foi necessário constituir nova rotatória sobre o Córrego Guarará com a construção de duas novas pontes, uma em frente a Rua Macedo Soares e outra em frente a Rua Dr. Ariovaldo Telles de Menezes. A Avenida Adriático e a Avenida São Bernardo receberam nova pavimentação e se constituem um circuito de ligação composto também pelas ruas Carneiro Ribeiro, Professor Marina Cintra, César Luchesi e Rua dos Professores. No entroncamento da Avenida São Bernardo com Rua Carijós foi feito rebaixamento da via para melhorar a fluidez e a segurança do tráfego.
Para assegurar o funcionamento do binário, a Avenida São Bernardo será de sentido único de circulação desde a Rua Carijós até a Rua Carneiro Ribeiro, e de sentido duplo desta até o Largo da Vila Luzita. O tráfego oriundo do Jardim Irene e Jardim Guarará será coletado pelas ruas do Ciprestes, Eusébio de Queirós e Saracantã, todas incluídas no plano de melhorias viárias.
Do ponto de vista urbanístico, a inovação será a ampliação do espaço exclusivo de pedestre no Largo da Vila Luzita, que será conseguido com o fechamento da Rua Alcides Maia e a integração do Largo com a Praça da Igreja. Nesse espaço será implantado o projeto do arquiteto Zanetini e sua equipe, encarregados do desenho urbano do largo e da continuação da avenida. O tratamento paisagístico, de mobiliário urbano e de iluminação que se pretende oferecer na região é compatível com o projetado para a área central da cidade e tem o sentido de marcar novo centro regional. Toda essa intervenção deverá estar concluída até novembro deste ano a custo de aproximadamente R$ 2,2 milhões.
Transporte estruturado
Mas não é só. Na perspectiva de costurar a cidade integrando os seus muitos centros, está pensado para a região o primeiro sistema de transporte estruturado em corredor tronco-alimentado do Município. A idéia é construir um Terminal Urbano junto a Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, próximo ao Largo da Vila Luzita, que funcione como ponto de aglutinação de linhas alimentadoras que circularão nos vários bairros da região. A partir do terminal, as pessoas viajariam para o centro em dois corredores, um expresso pela Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo e outro semi-expresso pela Avenida D. Pedro I. Esse sistema de transporte de média capacidade teria condição de atender à demanda atual da região e reserva para atendimento futuro com previsão de crescimento.
A estruturação do corredor exigirá obras ao longo de toda a Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo e da Avenida D. Pedro I. O sistema será construído e operado pela iniciativa privada e deve estar totalmente pronto no início do próximo ano com investimentos de aproximadamente R$ 17 milhões. Parte das obras de infra-estrutura viária será tocada pela Prefeitura a custo de aproximadamente R$ 1,35 milhão.
As obras aqui descritas de forma sucinta estruturam a nova Santo André que se articula e se expande para atender a novos desafios impostos pelo mercado. É a busca por uma nova cidade que atenda aos desafios de um novo tempo.
Klinger Luiz de Oliveira Sousa é arquiteto urbanista e secretário de Serviços Municipais da Prefeitura de Santo André.
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