Janeiro foi quase improdutivo em insumos para o Observatório de Promessas e Lorotas, inovação de CapitalSocial que mede e dimensiona o tamanho das propostas dos prefeitos da Província do Grande ABC. Foram contabilizados apenas dois novos registros, igualmente na categoria de lorotas: o prefeito de São Caetano, Paulo Pinheiro, anunciou um túnel sob a Avenida Goiás para desafogar o trânsito local. E o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, não resistiu à conquista de uma fábrica de componentes dos 36 caças supersônicos Gripen NG a serem produzidos no Brasil pela empresa sueca Saab: garantiu em sua página pessoal no Facebook que se encontrou com o ministro da Defesa, Celso Amorim, quando anunciou que serão gerados cinco mil empregos diretos.
CapitalSocial decidiu catalogar os dois anúncios como lorotas, que significam descrédito à execução das propostas, e não de promessas, que podem estimular a expectativa de viabilidade. CapitalSocial considera exagerados os projetos dos dois prefeitos.
O Observatório de Promessas e Lorotas conta agora com 104 apontamentos em apenas seis meses de atividades. O prefeito Carlos Grana, de Santo André, segue na liderança com 360 pontos, mas está ameaçado por Luiz Marinho que, com os 20 novos pontos da lorota de cinco mil empregos na fábrica dos caças, atinge 330. Donisete Braga, prefeito de Mauá, ocupa a terceira posição com 150 pontos, contra 130 pontos de Paulo Pinheiro. Lauro Michels, de Diadema, está na quinta posição com 110 pontos. Gabriel Maranhão, prefeito de Rio Grande da Serra, soma 50 pontos, enquanto Saulo Benevides, de Ribeirão Pires, contabiliza 30. Cada promessa vale 10 pontos na contagem geral, enquanto cada lorota significa 20 pontos.
Apenas mil postos
O vice-presidente mundial da Saab, Lennart Sidahl, anunciou na última quinta-feira, 30 de janeiro, que o investimento inicial de US$ 150 milhões para produzir algumas das peças que serão utilizadas nos caças Gripen será aplicado numa unidade com localização geográfica privilegiada, entre as rodovias Imigrantes, Anchieta e o Rodoanel. Ao site do jornal O Globo, o executivo projetou não mais que mil empregos diretos.
CapitalSocial considera excessivo o total de postos de trabalho divulgado pelo prefeito Luiz Marinho. Faz parte do vocabulário sindical, e Luiz Marinho guarda os hábitos e os vícios do sindicalismo, engordar ou emagrecer números de acordo com as conveniências. Foi assim que o prefeito de São Bernardo reagiu recentemente em defesa da manutenção da ultrapassadíssima fábrica da Kombi, alegando que quatro mil empregos corriam risco de desaparecerem. O contingente envolvido na operação não chegaria a dois mil, direta e indiretamente. A Kombi acabou saindo de linha muito mais tarde do que deveria pelos padrões tecnológicos e de segurança que se exigem já havia muito tempo na indústria automobilística.
Já o prefeito de São Caetano, Paulo Pinheiro, declarou em 10 de janeiro que estuda a construção de túnel sob a Avenida Goiás para desafogar o tráfego local. A ideia do peemedebista, conforme publicou o Diário do Grande ABC, é direcionar para a futura ramificação viária o trânsito de veículos que partem de Santo André da Avenida Dom Pedro II em direção à Capital e também pela Avenida Guido Aliberti ou vice-versa.
CapitalSocial cataloga o anúncio de Paulo Pinheiro na categoria de lorota por causa da impraticabilidade financeira da obra, cujos valores nem foram mencionados pelo prefeito. A Prefeitura de São Caetano não tem recursos orçamentários para uma obra de tamanho impacto logístico. O prefeito Paulo Pinheiro fez o anúncio da obra, mas disse que os estudos de impacto econômico, custos e viabilidade estavam em fase de avaliação. Pinheiro disse que o túnel terá duas faixas que fariam a ligação do trajeto diretamente, sem paradas. Segundo o Diário do Grande ABC, para elaborar o empreendimento, a administração municipal se inspirou no Complexo Viário Ayrton Senna, conjunto de três vias subterrâneas que compõem o sistema da região central de São Paulo. Não falta inspiração aos administradores públicos que coalham o Observatório de Promessas e Lorotas.
Apesar do tratamento midiático espetacular, a proposta é observada como espécie de plano complementar do Palácio da Cerâmica, já que a prioridade seria a construção de uma via paralela à Avenida Goiás, junto aos trilhos da Linha-10 Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), proposta catalogada como promessa no Observatório de CapitalSocial. A CPTM ainda não se posicionou sobre a demanda da Administração Paulo Pinheiro, mas informações de bastidores da companhia dariam conta de que não há a menor possibilidade de atendimento. O Plano A de Paulo Pinheiro abre espaço a uma variante: construir uma rua paralela à linha férrea. O prefeito argumenta que do lado do Bairro Fundação já há uma rua com as características que pretende implantar. No caso, afirma, bastaria uma extensão que teria de romper o custo de desapropriações.
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