Imagine um bairro predominantemente residencial, exclusivamente de casas de bom padrão, de acesso rápido ao Centro da cidade ao mesmo tempo em que está suficientemente distante para proporcionar tranquilidade e calmaria. Imagine ainda que o bairro de nome originário do tupi-guarani tem ruas largas, áreas verdes por toda parte, além de imenso parque forrado de vegetação nativa que representa um bálsamo de qualidade de vida. E que, além de tudo isso, é abençoado do ponto de vista logístico na medida em que oferece deslocamento rápido para São Paulo e outras cidades do Grande ABC. Acertou em cheio quem respondeu Parque Jaçatuba, em Santo André, localizado do lado de lá da linha férrea e da Avenida dos Estados, sempre em relação ao Paço Municipal.
São tantas as qualidades do território ocupado pela classe média que a profusão de construções cheirando a tinta fresca não chega a causar surpresa. "As vendas de casas e sobrados cresceram em média 20% ao ano nos últimos dois anos graças aos atrativos locais somados à facilitação das condições de financiamento, que impulsionam o mercado imobiliário como um todo. Isso apesar de os imóveis do bairro terem se valorizado 9% ao ano nos últimos dois anos" -- garante o consultor Marcio Pereira, cuja empresa está instalada desde 1997 na Avenida Itamarati.
E quais seriam os atrativos que convertem o Parque Jaçatuba em endereço concorrido para quem quer morar bem a preços que ainda não foram contaminados pela especulação, já que um sobrado novo em folha de 145 metros quadrados construídos em terreno de 125 metros quadrados, com três suítes e quatro vagas de garagem, acaba de ser comercializado por R$ 205 mil?
A jóia da coroa é o Parque Regional da Criança, cuja fachada em forma de castelo só não encanta ainda mais quem trafega pela Avenida Itamarati porque vândalos deixaram pichações. Ao passar pelas catracas, visitantes encontram área densamente arborizada com lagos, pista de cooper e caminhada, quadra de tênis, equipamentos para alongamento e ginástica, além de imenso playground com escorregadores que fazem a alegria da criançada, especialmente nos finais de semana. São quase 70 mil metros quadrados preservados em nome do entretenimento infantil e da qualidade de vida. "O Parque Regional da Criança valoriza muito o Parque Jaçatuba e região. Quanto custa ter uma área verde pertinho de casa para passear e respirar ar puro pela manhã antes de ir trabalhar?" -- pergunta o consultor imobiliário Marcio Pereira.
Mais que oásis
O Parque Regional da Criança não representa oásis em meio a ambiente inóspito. As praças Martinho Lutero e Américo Odair Botura -- e também a Itatiba, equipada com playground e dois campos de futebol de areia -- mostram que áreas de descanso e respiro estão por toda parte.
Como se o Parque Regional da Criança e as praças não bastassem, o Parque Jaçatuba conta com outro monumento à qualidade de vida: a sede poliesportiva do Esporte Clube Santo André. São 57 mil metros quadrados que reúnem parque aquático com quatro piscinas descobertas e uma coberta aquecida, dois campos de futebol com grama natural e um de grama sintética, duas quadras poliesportivas descobertas, uma quadra de areia, playground, pista de cooper, além do Palácio dos Esportes com duas quadras cobertas, quatro pistas de boliche, sala de tevê, sala de jogos e outras. O universo associativo do Santo André atinge 34 mil pessoas, média de cinco familiares para cada um dos 6,8 mil títulos associativos.
Lugar bom para morar é fácil. Difícil é encontrar local que, além de agradável, seja relativamente próximo a tudo. Isso faz com que a posição geográfica desponte como outro grande patrimônio do Parque Jaçatuba. O bairro é margeado pela Avenida dos Estados. Isso significa que os moradores se deslocam com facilidade em direção a Mauá, São Caetano e São Paulo. A distância até o Centro de Santo André é de aproximadamente dois quilômetros e pode ser percorrida em apenas três minutos fora do horário de rush. "O Parque Jaçatuba está próximo do Centro de Santo André sem se contaminar pela loucura do Centro de Santo André" -- define Marcio Pereira, ele próprio morador do local há seis anos.
Verticalização floresce
A constatação de que tranquilidade e logística transformam o Parque Jaçatuba em território residencial concorrido não se reflete apenas na proliferação imobiliária e na aceleração de vendas detectada por empresa de consultoria. Os primeiros sinais de verticalização mostram que a solução para adequar a oferta à demanda passa necessariamente pelo crescimento em direção ao céu porque o bairro tem apenas 600 mil metros quadrados de território, menos da metade do Bairro Jardim, por exemplo, com 1,54 quilômetro quadrado de área e 7,2 mil habitantes (IBGE, 2000).
Na Rua Icó, travessa da Avenida dos Estados, plantão de vendas anuncia a construção do condomínio Forma Vivere, sob responsabilidade da Posi Engenharia e Construções e comercialização da Itaplan. Serão 20 andares com 160 apartamentos de 71 metros quadrados privativos que incluem três dormitórios com uma suíte. Ou oito apartamentos por andar.
Os compradores podem optar entre uma ou duas vagas de garagem. O maior atrativo, porém, estará nas áreas de uso comum. O projeto do Forma Vivere prevê verdadeiro clube com piscinas adulto e infantil, playground, fornos de pizza, academia, sauna, salões de festas e jogos, pista de skate, quadra poliesportiva, salão de beleza, espaço zen, lan house, entre outras dependências. O empreendimento está em fase de pré-lançamento e deve ser concluído em abril de 2009. O preço de cada apartamento deve girar em torno de R$ 140 mil.
Além disso, enorme placa da MBigucci anuncia a construção de prédio residencial acoplado a conjunto comercial em terreno localizado na Avenida Itamarati, em frente à padaria Palácio do Pão. O departamento de marketing da construtora e incorporadora sediada em São Bernardo informa que características como quantidade de apartamentos e escritórios ainda não foram definidas, já que o empreendimento está em fase de planejamento. Mas garante que o lançamento deve ser realizado até o final deste ano.
Verticalização é sinal de maturidade urbana, mas deve-se tomar cuidado para que o tiro do progresso não saia pela culatra do crescimento desordenado a ponto de pôr em risco a qualidade de vida que justifica o interesse nas edificações. Afinal, não é preciso ser urbanista para saber que quanto maior a concentração de prédios numa determinada região, mais maciça é a presença de veículos, barulho e poluição atmosférica. Por isso, cabe ao Poder Público manusear com destreza instrumentos de zoneamento em busca do ponto de equilíbrio capaz de harmonizar bem-estar dos moradores e vetores de interesse imobiliário.
Lançamento comercial
Não é porque estão próximos do Centro de Santo André e do ABC Plaza Shopping que moradores do Parque Jaçatuba precisam se deslocar a fim de satisfazer necessidades de consumo. O bairro oferece dezenas de estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços ao longo da Avenida Itamarati, que começa na Avenida Antonio Cardoso, quase na Avenida dos Estados, e chega até o Parque João Ramalho.
São lojas de informática, farmácias de manipulação, salões de cabeleireiro e estética, consultórios odontológicos, pizzarias, agências de viagens, lojas de vestuário, corretoras de seguros, clínicas veterinárias, igrejas e infinidade de atividades acolhidas, na grande maioria dos casos, em residências adaptadas. Atividade que chama atenção é a de serviços automotivos. Quem procura alinhamento, balanceamento, rodas, som, alarme e consertos encontra muitas alternativas. É melhor trafegar com cuidado: radares de controle de velocidade impõem limite máximo de 40 quilômetros por hora ao longo da Avenida Itamarati.
Há quem garanta que padaria é termômetro de desenvolvimento da vizinhança. Se for verdade, é sinal de que o Parque Jaçatuba é mesmo especial. A Palácio do Pão, na Avenida Itamarati, é surpresa a quem imagina que só vai encontrar padarias de ótimo nível nos endereços badalados do Grande ABC. São 2,2 mil metros quadrados que compreendem padaria, confeitaria, ilha de frios, adega com 100 rótulos de vinhos nacionais e importados, mercearia e espaço para alimentação; isto é, café-da-manhã e almoço. Tudo em ambiente requintado, com pisos e balcões de granito.
"Normalmente a padaria segue o padrão da vizinhança. No nosso caso a recíproca também é verdadeira: contribuímos para a qualificação do bairro" -- observa o proprietário Francisco Carlos Gonçalves Marques Pereira, que administra a Palácio do Pão com o irmão e sócio Henrique Gonçalves Machado Marques Pereira.
Francisco Carlos Pereira justifica a afirmação ao lembrar que agências da Caixa Econômica Federal e do Bradesco se instalaram nos últimos anos bem ao lado da padaria, em prédios de salas comerciais. E aponta para a placa que anuncia o empreendimento da MBigucci -- bem em frente -- para comprovar tendência de crescimento e qualificação. "O Segundo Subdistrito de Santo André já não é mais o patinho feio, embora ainda exista quem ganhe dinheiro aqui e vá gastar do outro lado" -- explica o comerciante em observação carregada de significado: o Segundo Subdistrito de Santo André, que abrange os bairros do lado de lá da linha férrea e da Avenida dos Estados, sempre foi encarado com certo preconceito pelos moradores do chamado lado de cá. Mas o crescimento imobiliário e comercial de bairros como Santa Terezinha, Parque das Nações e Parque Jaçatuba tem contribuído para fazer desvanecer o Complexo de Gata Borralheira em nível municipal.
O terciário da Avenida Itamarati e das ruas próximas é formatado basicamente para atender a vizinhança -- e entenda-se por vizinhança, no caso, não apenas os 4,2 mil moradores do Parque Jaçatuba mas também os 13,6 mil habitantes da Vila Curuçá, bairros que se confundem em vários trechos, e os 16,2 mil do Parque João Ramalho. Mas há exceções. A loja de fábrica de jeans RedO, localizada em frente à Praça Itatiba, é comércio de referência. Atrai consumidores do Grande ABC e de São Paulo -- além de revendedores de todo o País -- em busca de produtos muito mais baratos que os encontrados em shoppings. São 500 metros quadrados forrados de jeans e camisetas da RedO e de outras grifes. "Muita gente estranha uma loja como esta em um bairro tão tranquilo" -- sintetiza o proprietário Rafael Maita Ferreira, que compartilha o comando da empresa com a mãe Elizabeth e o pai Acchiles Ferreira.
Produção e venda de jeans não constavam dos planos da família. Eles tinham um bar no mesmo local -- o Red Onion -- que funcionou de 1995 a 2005. E não era um bar qualquer, mas um monumento em homenagem ao rock and roll, com direito a palco para apresentação de bandas e cardápio variado de opções gastronômicas. Mas o recrudescimento da violência, com a intensificação de brigas, não deixou alternativa além do fechamento. Em 2006 a família começou a revender jeans fabricados por terceiros. Aproveitava-se a experiência do pai, que trabalhava como diretor de uma das maiores companhias do ramo têxtil do País. Em seguida passou a desenvolver os produtos de forma terceirizada. Isto é: empresas independentes produziam calças e jaquetas de acordo com especificações técnicas e de qualidade da RedO .
A receita foi bem-sucedida. Outras quatro lojas próprias foram inauguradas após a abertura da pioneira no Parque Jaçatuba, em março de 2006: na Vila Helena e no Centro de Santo André, no Centro de São Bernardo e no Bairro Olímpico, em São Caetano. Mas nenhuma se compara à primeira. "Cerca de 35% das vendas estão concentradas na loja do Parque Jaçatuba, principalmente porque centralizam vendas no atacado" -- explica Rafael Maita. Ele e a família moram no bairro há quase 30 anos. E não pretendem se mudar.
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