Economia

Consumado desastre: PIB da Grande
Osasco ultrapassa PIB da Província

DANIEL LIMA - 19/02/2014

Caçapa cantada, caçapa consumada: pela primeira vez na história o PIB (Produto Interno Bruto) da Província do Grande ABC foi superado pelo PIB da Grande Osasco, como podem ser definidos os oito municípios da Região Metropolitana de São Paulo à Oeste da Capital. CapitalSocial alertou em texto preparado em janeiro do ano passado, com base no PIB de 2010, então o mais atualizado, que a Província seria superada na temporada de 2011. Não deu outra. Agora a Grande Oeste ou Grande Osasco é 7,4% superior à Província na geração e acumulação de riquezas. Antes, a Província já tinha sido superada pela Grande Campinas. Com isso, caímos para o quarto lugar no PIB estadual, também atrás da Capital, líder absoluta.


 


A ultrapassagem de Osasco, Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba e Vargem Grande Paulista possivelmente tenha algum impacto na autoestima regional. O orgulho acomodatício de perder apenas para a Capital já sofrera duro golpe com o avanço da Grande Campinas, integrada por 19 municípios. Mas nada se compara à constatação de que a tão próxima Grande Osasco poderia infligir lição de competitividade econômica à Província.


 


Como cansamos de alertar ao longo dos anos, desde os tempos em que comandávamos a redação da revista LivreMercado, da qual CapitalSocial é sucessora digital, a ultrapassagem da Província do Grande ABC parecia inexorável. Não bastasse a letargia regional, mistura revoltante de descompromisso com o futuro mesclado de esbórnia político-administrativa, os efeitos do trecho oeste do Rodoanel se confirmam cada vez mais danosos à Província.


 


A Grande Osasco foi beneficiada com a inauguração do trecho oeste seis anos antes do corte de fita da chegada do trecho sul do Rodoanel, que serve à Província. Mas, muito mais que isso, o trecho oeste interage com a economia daquela região, com 13 alças de acesso. Já o trecho sul conta com apenas três acessos e, mais que isso, passa apenas lateralmente pela geografia regional, por causa das justas inquietações ambientais.


 


O PIB de 2011 divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que os oito municípios da Grande Osasco somam R$ 94.277.13 bilhões, enquanto o PIB da Província do Grande ABC registra R$ 87.292.38 bilhões. No ano passado, quando CapitalSocial projetou que a Grande Osasco poderia superar a Província, o PIB dos oito municípios à Oeste da Região Metropolitana de São Paulo registrava R$ 83.7 bilhões, contra R$ 84.8 bilhões da Província. 


 


Diferença que vai aumentar


 


A estagnação da economia da Província em 2011, mesmo a reboque do setor automotivo, foi contraposta pelo avanço da Grande Osasco. A projeção é que, quando no final desta temporada, o IBGE divulgar o PIB dos municípios brasileiros em 2012, a Grande Osasco alargará a diferença.


 


O PIB da Grande Oeste é sustentado principalmente por Barueri e Osasco, que somam R$ 71.218.49 bilhões, ou 75% do total daqueles oito municípios. O PIB da Província do Grande AB C é mais descentralizado, mas o peso de São Bernardo, com 45% de participação, também é elevado. A diferença de matrizes econômicas é que inquieta a Província. A Grande Osasco tem no setor de serviços com relativo valor agregado o carro-chefe do desenvolvimento, ante a ainda forte dependência da Província do setor industrial em permanente fragilização. Os setores de comércio e serviços dos sete municípios locais são de baixo valor agregado.


 


A queda da Província do Grande ABC ante a Grande Osasco é antiga preocupação deste jornalista. Acompanhamos atentamente os números oficiais para medir o tamanho das diferenças entre as duas regiões. Quando da implantação do Plano Real, em 1994, e ante o anúncio da construção do trecho oeste do Rodoanel, inaugurado em 2002, começou o processo de migração industrial e de serviços à Oeste da Capital. Em 1995 o Valor Adicionado da Província (uma espécie de prévia do PIB) era 67,14% superior ao da Grande Osasco. Já em 2011, a diferença caiu para 31,95%.


 


Como é possível a Província do Grande ABC registrar superioridade no Valor Adicionado de 2011 frente à Grande Osasco e ser superada no PIB? O indicativo é de que aqueles oito municípios interiorizam de forma mais consistente as riquezas construídas. A situação desfavorável à Província do Grande ABC é ainda mais dramática quando se coloca o medidor demográfico em confronto: a Província conta com mais de um milhão de habitantes de vantagem.


 


Velocidade em crescimento


 


A velocidade de crescimento do Valor Adicionado da Grande Osasco ajuda a explicar a ultrapassagem no PIB. Entre 1995 e 2011 o VA da Grande Osasco cresceu em termos nominais, sem considerar a inflação, 707,20%, ante 289,73% da Província. A velocidade média da Grande Osasco durante o período foi 59% superior à da Província do Grande ABC.


 


Por essas e por outras tantas razões CapitalSocial mantém tom de ceticismo sobre o desenvolvimento econômico e social da Província do Grande ABC. Diferentemente, portanto, de outros veículos de comunicação que insistem em confundir jornalismo com torcida organizada. Dar tratamento equilibrado às revelações estatísticas que confirmam a realidade dos fatos não significa prática de jornalismo incendiário ou corrosivo. A base da credibilidade informativa está estruturada em dados concretos. Dá um tiro no pé quem acredita que o triunfalismo é a melhor saída à recuperação regional.


 


Dizer que o Grande ABC tem futuro é uma frase feita que ouvimos ao longo dos últimos 30 anos. Desde quando começaram a surgir os primeiros estragos sindicais, à parte os benefícios do movimento para os trabalhadores locais. O problema é que, como no caso do Brasil, o futuro jamais chega. Ou melhor: o caso da Província do Grande ABC é mais complexo, porque já tivemos um passado de glórias que se esvaem gradual e corrosivamente, sem que o conjunto da sociedade, principalmente os administradores públicos, se dê conta de que já passou da hora de reagir com mais ações e menos marketing. Como exigir da classe política medidas reformistas se os formadores de opinião estão acovardados pelos lobistas de plantão, sequestradores dos tomadores de decisão?


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