O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC vai ingressar no novo século sob comando de Luiz Marinho, reeleito presidente para o próximo triênio. Entretanto, erra quem imagina que o nome Marinho sugere unanimidade. Na verdade, ele é mais respeitado entre entidades patronais do que na própria base. Enquanto, o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), José Carlos Pinheiro Neto, não economiza elogios ao sindicalista que trocou postura beligerante de outrora por versão light de negociação, no chão de fábrica a imagem do sindicalista não passa sem arranhões.
Em pelo menos seis empresas, durante a eleição prévia dos comitês, os operários quebraram a unanimidade desse modelo de gestão e lançaram chapas oposicionistas. Na Volkswagen, pleno reduto de Marinho, a oposição atingiu 42,5% dos cerca de 16 mil votos e na Scania, 53% de 1,3 mil. Mesmo com votação expressiva, a oposição não teve fôlego para lançar chapa própria contra Luiz Marinho.
De qualquer forma, lideranças das chapas de oposição dos comitês marcaram espaço na base e ensaiam aglutinar forças em um único grupo. Durante o processo de escolha dos comitês, as chapas 2 receberam apoio de 34 dos 80 sindicatos de metalúrgicos do País filiados à CUT (Central Única dos Trabalhadores). O alinhamento à oposição chegou de São José dos Campos, Campinas, Santos, Limeira, Belo Horizonte e Contagem, entre outros municípios. Marinho reage e declara que quando essas entidades entrarem em processo eleitoral irá apoiar as chapas que tiverem identificação com o perfil de atuação que considera mais adequado à realidade.
Os integrantes das oposições discordam de que os acordos com a classe empresarial são necessários para garantir empregabilidade. Para eles, os acordos garantem alguns empregos nas montadoras, mas não inibem demissões na cadeia produtiva de autopeças. Para os oposicionistas, o processo de fechamento de postos de trabalho não está restrito ao Grande ABC. Apontam como exemplo São José dos Campos e Campinas, que não aprovaram o banco de horas e conseguiram impedir demissões. "Marinho se desgastou com a categoria por causa do acordo do banco de horas" -- dispara Celso Routulo, o Paraná, que liderou a Chapa 2 na Volks. O banco de horas é utilizado para amenizar o impacto da redução da produção no quadro de trabalhadores, mas aos olhos dos algozes de Marinho o dispositivo dificulta a geração de empregos.
Paraná reclama ainda que os acordos são mal explicados para a base e que depois de aprovados em assembléia apresentam itens não discutidos. "Não temos mais plenárias no sindicato para discutir as negociações. Tudo é discutido por fábrica. Quebrou a unicidade da categoria" -- lamenta. Ele garante que as críticas ao estilo moderador de Marinho não têm traços ideológicos nem tampouco partidários. "Estamos interessados em política sindical e não temos tido espaço para levar propostas. O Marinho discute com os representantes das empresas como se o trabalhador só tivesse a perder. É nesse ponto que divergimos. Queremos inverter esse processo" -- argumenta o metalúrgico.
As oposições dos comitês são, no mínimo, desprezadas por Luiz Marinho. Para ele, o movimento não tem expressão dentro das fábricas. "Se houvesse oposição de 42,5% no sindicato, não conseguiria fazer assembléias na Volks" -- diz Marinho. Admitindo ou não as oposições, Marinho terá de conviver pelo menos com a idéia de que existem.
José Denílcio de Melo, o Zezão, membro da Chapa 2 da Scania, está entre os 26 nomes que acompanham o de Luiz Marinho na direção do sindicato. "É a primeira vez que a Scania, berço das lutas trabalhistas na região, vai participar da diretoria do sindicato" -- comemora Martiniano Ribeiro França, o Martin, que liderou os oposicionistas na eleição dos comitês. Ele garante que não pretende fazer oposição sistemática ao mandato de Marinho, mas sim aproximar mais o sindicato do trabalhador. "Isso não significa defender greves ou formato truculento de negociação com as empresas, mas ouvir mais a base. Nem sempre quem está no comando das negociações tem as melhores idéias" -- pondera Martin.
Nesse ponto Marinho mostra-se mais flexível com os opositores e se diz aberto ao diálogo. "Converso com todo mundo que quiser conversar comigo" -- afirma o presidente, que a partir de 19 de julho dá sequência ao comando de cerca de 100 mil metalúrgicos. Além de acertos internos, Marinho terá de ajudar a traçar o futuro de uma categoria que nos últimos cinco anos viu desaparecerem 30 mil postos de trabalhos. Uma responsabilidade e tanto para quem acabou de ser eleito pela revista Time uma das 50 personalidades mais importantes da América Latina para o próximo milênio. Um resultado direto da postura conciliadora entre capital e trabalho que os oposicionistas preferem interpretar de outra forma.
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