Antiga deformidade do chamado Novo Sindicalismo que surgiu no Grande ABC há 20 anos e que gerou um dos ingredientes do Custo ABC, na forma de mão-de-obra mais cara em relação ao restante do País, já tem hora para ser eliminada. A julgar a perspectiva de sucesso anunciada por Heiguiberto Guiba Navarro, presidente da CNM-CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores), em setembro do ano que vem um congresso nacional formatará o Sindicato nacional da categoria, que começaria a atuar no início do século. Ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que reúne São Bernardo e Diadema, Guiba espera esparramar para todo o País as reivindicações e conquistas que sempre estiveram centralizadas no Grande ABC.
Resta saber se na prática a teoria da Confederação Nacional dos Metalúrgicos será mesmo aplicada nestes tempos de globalização. O peso do custo da mão-de-obra do setor metalúrgico na região, sobretudo nas automobilísticas, é forte inibidor de investimentos que aumentem o quadro de trabalhadores. Pior do que isso: mais e mais as grandes montadoras investem em tecnologias que reduzem a relação de empregados.
A descentralização da indústria automotiva, que se espalha pelo Vale do Paraíba, Grande Curitiba, Rezende (RJ) e Rio Grande do Sul, além de Minas Gerais, decorre, entre outras razões, do peso dos salários e de benefícios sociais conquistados ao longo dos anos de convenções trabalhistas no Grande ABC, a maioria dos quais deveria ser responsabilidade do Estado.
Guiba Navarro defende a assinatura de contratos coletivos nacionais para amenizar as diferenças entre regiões. Ao criar um piso salarial nacional e estender direitos sociais já conquistados no Grande ABC, o contrato acabaria com a vantagem comparativa dos Estados onde a mão-de-obra é mais barata e desprotegida. "Muitos Estados anunciam a falta de organização sindical e os baixos salários para atrair empresas. O contrato coletivo acabaria com isso" -- disse recentemente o sindicalista.
Sem biônicos
A CNM prevê a unificação estatutária dos 90 sindicatos de metalúrgicos até setembro do ano que vem. A proposta de Guiba vai mais longe. Sem dizer nomes, ele pretende alterar a face do sindicalismo cutista. Diz que quer acabar com a prática de eleição de chapas prontas, de gente não ligada a nenhuma fábrica. A declaração de Guiba, durante o 4º Congresso Nacional dos Metalúrgicos da CUT, realizado num hotel-fazenda em São Pedro, Interior de São Paulo, só chocou quem não tem atividade sindical e quem imagina que os sindicalistas não caíram na armadilha de mandatos biônicos, como os políticos escolhidos por colégios eleitorais restritos nos tempos do regime militar.
É verdade que Guiba nem de longe ofereceu essa conceituação ao centralismo de decisões nos Sindicatos, mas a comparação não é despropositada. Na essência, trata-se de colocar sob os holofotes personagens que não passaram pela democracia da representatividade efetiva das bases.
Guiba Navarro afirmou com todas as letras -- e ninguém ousou contestá-lo nem durante e nem nos dias seguintes ao encontro -- que o sindicalismo está infestado de elementos estranhos à corporação de trabalhadores. "Queremos o sindicato de dentro das fábricas, não de porta de fábrica" -- declarou Guiba. Como se não se importasse com a audiência externa, Guiba disse também que a idéia das comissões de fábricas, uma das bandeiras mais desfraldadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, não passa de espécie de embuste, embora não tenha usado essa terminologia. "A idéia só floresceu em grandes empresas, como montadoras de veículos" -- declarou. A nova proposta é ramificar de tal forma as representações dos trabalhadores que cada pequena e média indústria terá seu comitê de base, eleito pelos próprios trabalhadores. É essa base que Guiba espera ver representada na entidade nacional e nas entidades regionais e estaduais.
Quanto à eventual ilegalidade do projeto de sindicato nacional, argüida por especialistas do setor trabalhista, Guiba Navarro foi claro. Ele citou o exemplo emblemático da própria CUT, marginalizada pela legislação nos primeiros tempos de atuação no início dos anos 1980, mas paparicada por autoridades de plantão simplesmente porque reunia representatividade. Isto é, força capaz de mobilizar os trabalhadores e mudar o rumo dos acontecimentos. Além disso, como a efetiva operacionalização da nova entidade deverá ocorrer apenas por volta do ano 2001, acredita-se que, até lá, a unicidade sindical, isto é, tolerância de existir apenas um Sindicato por base territorial, empecilho que atrapalharia o Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da CUT, já deverá ter virado passado. Afinal, está na alça de mira de mudanças do Ministério do Trabalho.
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