O estoque de ricos da Província do Grande ABC é cada vez menor em proporção ao conjunto da população e, pior ainda, é cada vez menos volumoso também em números absolutos quando confrontado com os principais municípios do Estado, sem contar a Capital. E São Bernardo, a Capital Econômica da região, lidera a perda de velocidade de produção e de ocupação de famílias do topo do estrato social. É a última colocada no ranking do G-20 Paulista.
Não à toa lançamentos imobiliários dirigidos aos endinheirados de São Bernardo e também da região formam uma cordilheira de micos e cada vez mais se reduzem na oferta geral. O empreendimento Domo, no entorno do Paço Municipal de São Bernardo, é o mais bem acabado exemplo de frustração. Implantou-se ali um imenso paredão de concreto em forma de imóveis residenciais e de serviços de alto padrão sem que se combinasse com os russos, no caso os consumidores.
Há espigões destinados a ricos em outros endereços da região. A maioria não consegue atingir a velocidade de vendas desejada. A Província do Grande ABC que as empresas de construção civil da Capital acreditavam encontrar não existe ou está muito aquém das estatísticas defasadas ou mal interpretadas. Estragos semelhantes se dão no setor de shoppings centers. Os novos empreendimentos lançados na região, casos do Atrium, do Golden Square e do São Bernardo Plaza, demoram a engrenar porque fazem parte de um bolo mais que regional de excesso de ofertas de espaços comerciais planejados.
Entre 1995, um ano após o lançamento do Plano Real, e 2013, 11 anos sob o controle do governo federal pelo PT, os dados do IPC Marketing, empresa especializada em potencial de consumo, asseguram que a Província do Grande ABC representada por cinco municípios no G-20, o grupo dos 20 maiores municípios paulistas, perdeu a corrida de novas famílias ricas. Foram 34,55% menos em relação à concorrência. São Bernardo teve o pior desempenho da Província: o crescimento de apenas 9,48%, em números absolutos, do contingente de ricos, foi 85% inferior à média do G-15, ou seja, dos municípios do G-20 que não constam da geografia regional.
Acréscimo discreto
Os cinco municípios da Província que constam da lista dos 20 maiores do Estado totalizavam 38.516 famílias economicamente ricas em 1995, início da pesquisa de potencial de consumo do IPC Marketing. Já em 2013, outro extremo do trabalho, totalizavam 54.630 residências. O acréscimo de 16.114 famílias de classe rica em 18 anos significa que se criaram em média apenas 895 novas famílias ao ano com maiores ganhos financeiros e econômicos. Já os 15 municípios que também integram o G-20 contavam em 1995 com 110.830 famílias ricas e cresceu, em 2013, para 181.687 – uma diferença de 70.857 ou crescimento médio anual de 3.936 famílias, 7,7 vezes mais que a Província.
No conjunto, o G-20 Paulista, estudado há vários anos por CapitalSocial com suporte do IPC Marketing, empresa dirigida pelo especialista Marcos Pazzini, reunia em dezembro de 2013 o total de 236.317 famílias ricas. Houve perda relativa desse estrato social no conjunto da população do G-20, já que em 1995 representava 7,19% ante 6,81% de 2013. A queda relativa da Província do Grande ABC foi maior, porque em 1994 os 38.516 famílias ricas representavam 7,11% da população da região, ante 6,24% em 2013. A Província contava com 541.905 domicílios em 1995 e saltou para 874.968 no extremo da pesquisa, em 2013. O G-20 contabiliza 3.468.556 moradias para uma população de 10.571.576 habitantes – quase uma cidade de São Paulo, que soma mais de 11 milhões de pessoas.
O maior índice de geração e de ocupação de famílias ricas entre os cinco municípios da Província incluídos no G-20 foi registrado em Mauá, com crescimento de 216,42%. Mas o universo do Município é diminuto: as 4.604 famílias ricas de 2013 (contra 1.455 de 1995) não passam de 8,42% do total da região. São Bernardo, lanterninha no ranking regional, avançou apenas 9,48% no período de 18 anos ao dar espaço a novas 1.729 famílias ricas. Diadema aparece em segundo lugar na classificação regional com crescimento de 140,44% no nicho de ricos, contra 56,04% de Santo André, terceira colocada e 39,58% de São Caetano, quarta e penúltima na classificação regional.
Perdas internas
A proporção de ricos de São Bernardo quando em confronto com os demais municípios da Província do Grande ABC sofreu dura queda no período pesquisado pelo IPC Marketing. Em 1995 a cidade então administrada por Maurício Soares, ex-advogado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, contava com 47,36% dos ricos da Província. Já na outra ponta da pesquisa, a proporção caiu para 36,56%. Uma perda relativa de 22,80%. Santo André contava com 31,76% em 1995 e registrou 34,94% em 2013. Já São Caetano contabilizava 12,52% dos ricos da região logo após a implantação do Plano Real e caiu a 12,32% em 2013. A perda de participação relativa regional dos ricos em São Bernardo foi compensada por Mauá e Diadema, principalmente.
As famílias ricas dos demais integrantes do G-20 espalham-se por todo o Interior do Estado. Jundiaí avançou 112,69%, Sumaré 621,84%, Taubaté 114,58% e Paulínia 377,03%. Também na Região Metropolitana de São Paulo houve registros de saltos, caso de Barueri e seus condomínios residenciais disputadíssimos por endinheirados e que cresceu, no período, 90,81% -- 54% acima da Província.
Quando se comparam as famílias ricas da Província do Grande ABC com as famílias ricas do Estado de São Paulo e também com as famílias ricas do Brasil, novas derrotas são registradas. No âmbito estadual, os paulistas somavam 547.667 famílias ricas em 1995 e saltaram a 833.599 em 2013. A diferença de 52,21 significa adicional de 285.932 no período, ou 15.885 novos ricos por ano. Em termos relativos, o Estado perdeu representantes de moradias de ricos, já que passou de 6,46% para 5,95% da população. Já no âmbito nacional, eram 1.355.117 famílias ricas assim que o Plano Real foi levado adiante, ante 2.532.605 em 2013 – avanço de 86,89%, ou 51,84% acima da Província do Grande ABC. Nos números relativos, os ricos brasileiros caíram em relação à população em geral de 4,40% registrados em 1995 para 2,66% em 2013. No conjunto, o Brasil ganhou 1.177.488 famílias ricas no período de 18 anos – 65.416 em média por ano. As 16. 114 famílias ricas adicionadas à população da Província do Grande ABC no período são apenas 1,36% dos números nacionais.
O comportamento da classe média tradicional será alvo da próxima análise de CapitalSocial, sempre com base nos estudos do IPC Marketing. São Bernardo apresenta resultados mais satisfatórios, tanto quanto a Província do Grande ABC, mas seguimos perdemos tanto para os demais 15 integrantes do G-20 como também para o Estado de São Paulo e o País. Quem disse que desindustrialização combinada com ausência de setor de serviços de valor agregado não custa caro para a sociedade? Ainda mais uma sociedade tão desguarnecida em cidadania.
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