Economia

Especialistas afirmam que Província
é território de risco a investimentos

DANIEL LIMA - 26/03/2014

A notícia é desagradável mas não pode ser omitida sob pena de crime de prevaricação informativa: a Província do Grande ABC é um território a ser evitado por investidores porque o grau de organicidade de agentes corruptores elevou-se às alturas nos últimos tempos. A fonte de CapitalSocial é um representante de uma empresa multinacional especializada em competitividade. O anonimato é compulsório. Não se pretende desafiar as forças delinquenciais da região que dão as cartas, principalmente no setor público em estreita comunhão com empresários consolidados de vários setores. A reserva de mercado em várias modalidades e sob critérios nada nobres é um paredão que desaconselha a chegada de novatos, inovadores ou não.


 


Existisse uma organização a medir o grau de risco de municípios e regiões brasileiros, certamente a Província do Grande ABC ocuparia um dos primeiros lugares no ranking de deterioração do ambiente de negócios, afirma o consultor especializado. Não bastasse o pacote do chamado Custo ABC que não só desacelerou como deslocou centenas de negócios industriais principalmente ao Interior mais próximo da Região Metropolitana de São Paulo, o entranhamento de elementos políticos e empresariais que retroalimentam laços de reciprocidades ilegítimas tornou-se peso sobressalente.


 


Ao acúmulo de obstáculos que se consolidaram ao longo de décadas como incontornáveis principalmente à indústria de transformação, a rede de corrupção soma outros setores econômicos, principalmente de serviços. O aperfeiçoamento de ações subterrâneas nos negócios, sobretudo sob o controle de grupos que agem interligadamente mas não necessariamente do mesmo ramo, é o ponto nuclear às recomendações de que se evite ao máximo a instalação de negócios na Província do Grande ABC.


 


Fio desencapado


 


O tema é espécie de fio desencapado. Oficialmente não se ouvirá de nenhuma consultoria em competividade uma frase sequer que dê indicações sobre o ambiente pecaminoso que permeia a Província do Grande ABC. Temem-se retaliações de autoridades políticas graduadíssimas. 


 


Entretanto, a propagação de escândalos geralmente mantidos a salvo da mídia nos últimos tempos, envolvendo investidores nas áreas de shopping, saúde, transporte, mercado imobiliário entre outros, é suficiente para cristalizar o mapa da Província do Grande ABC como espaço territorial em conflito com a ética e a moralidade e em estreita relação potencial com o Código de Processo Penal. Como se já não bastassem tantas contraindicações decorrentes de subúrbio metropolitano e também os rescaldos das tensas relações trabalhistas que ainda sufocam pequenas e médias empresas e encarecem os custos das grandes empresas.


 


Um relatório confidencial de uma consultoria especializada em competitividade territorial aponta contraindicadores ao desembarque de empreendimentos na região. Nada muito diferente do que este jornalista aponta há muito tempo com sentido diferente das consultorias, ou seja, de mobilização social em busca de mudanças.


 


Ressalva-se um ponto de vista positivo dos consultores especializados que, apesar do que registram, apontam que os entraves poderão ser minimizados de acordo com o grau de aproveitamento do potencial de consumo de uma região com quase três milhões de habitantes.


 


Ou seja: numa engenharia maluca, desafia-se os investidores a uma contabilidade heterodoxa de inserir na coluna de ativos da Província do Grande ABC a capacidade de retorno do investimento após deduções relacionadas a buracos ditados pelo excesso de custos extra-campo.


 


Pontos de vulnerabilidade


 


Eis alguns vetores relacionados pela consultoria especializada como contrapontos à vantagem de se dispor da riqueza de potencial de consumo consolidada pela Província do Grande ABC ao longo de décadas e que, mesmo com queda absoluta e relativa nos últimos 20 anos, continua a apresentar vantagens comparativas no quesito:


 


1. Militância sindical – Chama-se a atenção ao risco de investimentos industriais porque os custos tangíveis e intangíveis são elevados. Os custos tangíveis são o legado do movimento sindical à classe trabalhadora, sobretudo a média salarial elevada em comparação a outros territórios, combinada com ganhos indiretos de conquistas trabalhistas. Os custos intangíveis referem-se ao ambiente corporativo, principalmente nos setores metalúrgicos e químicos, ostensivamente socialistas e inibidores de valores como meritocracia e autoprotetores a irregularidades funcionais.


 


2. Logística saturada – Exceto em condições muito especiais, de proximidade inquestionável aos acessos do trecho sul do Rodoanel, os quais não passam de escassos três pontos, a logística de transporte é entendida como adversário crucial à competitividade. O empreendimento que se situar tecnicamente fora do entorno dos acessos do Rodoanel ou que esteja distante das rodovias Anchieta e Imigrantes está mais suscetível a desequilíbrios.


 


3. Criminalidade consolidada – Embora a Província do Grande ABC já tenha vivido períodos de segurança pública catastrófica, os níveis de criminalidade ainda estão acima de outras regiões do Estado. Além disso, há indicadores de que articulações entre forças policiais e organizações criminosas mantêm boa vizinhança como contraponto mais interessante que hostilidades. Trata-se de uma situação estruturalmente precária. A qualquer momento pode romper-se. Como em passado recente.


 


4. Saturação consumada – Em vários setores de serviços e comércios há comprovações estatísticas de que já se ultrapassaram todos os limites de harmonia entre oferta e demanda. Isso significa que o grau de desembolso paralelo, irregular, escuso, à aprovação de negócios na Província do Grande ABC deve ser mais bem calibrado, porque os empreendedores poderão dar com os burros nágua. Mercado imobiliário, shoppings, comércio varejista, entre outros, são zonas de risco. Os custos adicionais não valeriam a pena porque, em última instância, o retorno financeiro ultrapassaria o tempo previsto e poderia causar mais estragos que satisfação.


 


5. Institucionalidade frágil – As recomendações de consultorias que medem os riscos reservados por determinados territórios nacionais colocam a Província do Grande ABC entre os piores indicadores de institucionalidade. Entenda-se institucionalidade como a capacidade de organização da população em equilíbrio com representantes do capital e dos poderes públicos, notadamente as administrações municipais. A obscuridade metropolitana, agravada pela efervescência da Capital, é vista como agravante à agressividade de forças corruptoras. A debilidade reativa da sociedade desestimula autoridades policiais, ministeriais e judiciais a agir com mais rigor e urgência para interromper e punir desvios. Haveria uma espécie de buraco negro a separar o mundo de expectativa de normalidade, ocupado pela sociedade, e o mundo de efetividade de irregularidades, controlado pelos poderes político e econômico.


 


6. Politização enraizada – Também pesa contra investimentos na Província do Grande ABC o que as empresas de classificação de competitividade chamam de politização unilateral enraizada. No caso da região, há mais de uma década no poder federal, o PT conta com militantes políticos e sindicais que não medem consequências a iniciativas que tornam os representantes de empresas reféns de propostas nem sempre compatíveis com critérios socializantes. Reclama-se que se infiltrou sobremodo nas indústrias o conceito de que se deve atuar incisivamente à obtenção de conquistas ou manutenção de conquistas trabalhistas. Tudo deve ser feito em silêncio, intramuros, para não causar estragos políticos externos.


 


7. Especulação imobiliária – Embora registre valores inferiores aos verificados na Capital, o custo da terra na Província do Grande ABC obedece a critérios especulativos exacerbados, fora da realidade quando se compara com a queda do PIB (Produto Interno Bruto) local e os avanços de outras regiões do Estado. Os valores inibem, quando não afugentam, novos investimentos, e induzem empresas locais a estudarem e a aprovarem realocações mais rentáveis também porque usufruem da guerra fiscal e de indicadores de qualidade de vida insuperáveis. 


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