São Bernardo é o Município da Província do Grande ABC que mais duramente sofreu abalos desde a implantação do Plano Real conjugada com a abertura econômica e, principalmente, com a descentralização automotiva no País. A desindustrialização atingiu em cheio a região e fez grandes estragos que voltam a ser medidos por CapitalSocial, assim como o foram pela revista LivreMercado, cuja redação comandei por duas décadas.
O resumo da ópera é que a mobilidade social da cidade mais importante da região perdeu velocidade quando comparada a outros endereços. Inclusive endereços da região, território duramente impactado pelas mudanças macroeconômicas. Santo André e São Caetano também apresentam números muito aquém dos concorrentes externos do G-20, o grupo dos 20 municípios mais importantes do Estado de São Paulo. Os confrontos com o Estado de São Paulo, com o Brasil e com os Estados do Norte e do Nordeste, já analisados aqui, são ainda mais desvantajosos para a Província do Grande ABC.
A presença da classe média-média e média-baixa em São Bernardo foi duramente enfraquecida ao longo dos anos. Tanto que o Município caiu do primeiro para o sétimo lugar no ranking do G-20. Os dados são do IPC Marketing, empresa especializada em potencial de consumo, indicador muito mais completo que o PIB (Produto Interno Bruto) porque detecta o acúmulo de valores monetários de cada unidade municipal da Federação. Não faltam exemplos de que o PIB muitas vezes mascara dados municipais porque não necessariamente espalha internamente, nos limites territoriais, a produção de riqueza. Já o potencial de consumo registra os valores monetários em poder dos moradores de cada Município, independentemente dos lugares em que trabalham ou realizam negócios.
Velocidade baixa demais
Entre o primeiro ano pós-Plano Real, em 1995, base dos dados do IPC Marketing, e o extremo do trabalho, 2013, São Bernardo aumentou em apenas 23,35% a velocidade de produção e de absorção de famílias de classe média-média e média-baixa, quando confrontado com o conjunto da população. O índice é baixíssimo quando comparado aos demais representantes da Província do Grande ABC no G-20 e ainda mais comprometedores ante a maioria dos demais municípios do agrupamento. Nem tanto se o oponente for Santo André, cuja velocidade de geração ou absorção de classes médias avançou 39,4%% no período, e São Caetano, que cresceu econômicos 37,46%.
Em 1995, mais de um terço dos domicílios de São Bernardo (exatamente 36,40%) constavam da categoria social de classe média-média e média-baixa. Eram 59.132 famílias ante 162.317 de todas as classes sociais do Município. Já em 2013, o crescimento em números absolutos que elevou o total de domicílios de classe média a 119.061, conferiu crescimento de participação relativa no período de apenas 23,35%. O resultado é menos da metade de Diadema e de Mauá, que mais avançaram na região. O índice de participação da classe média de São Bernardo subiu no período de 36,40% para 44,90%. Daí o resultado de 23,35% na velocidade de crescimento. Um desastre que custou a liderança do ranking do G-20 e lançou o Município ao sétimo lugar entre os 20 concorrentes.
Traduzindo de forma mais simples: embora São Bernardo tenha mais que dobrado o total de domicílios de famílias de classe média-média e média-baixa, o resultado é frustrante quando se compara com o conjunto da população. Inclusive ou principalmente porque perdeu em números absolutos, de forma líquida, grande contingente de ricos, como já mostramos. Detalhando números, em 1995 São Bernardo contava com 162.317 domicílios de todas as classes sociais. Na ponta extrema dos estudos do IPC Marketing, alcançou 265.170 mil moradias. Um crescimento de 63,36% no período. Em 1995 São Bernardo contava com 36,40% de classe média-média e média-baixa para cada grupo de 100 moradias. Em 2013, passou a contar com 44,90%. A velocidade de crescimento de 23,35% é a mais baixa entre os integrantes do G-20.
Diadema avança mais
Um contraponto com a vizinha Diadema, de melhor desempenho na Província do Grande ABC durante os 18 anos pesquisados, sempre tendo em conta o comportamento da classe média-média e média-baixa no universo da população de cada Município, torna a situação de São Bernardo mais clara. Diadema contava em 1995 com apenas 22,50% de moradias dessa classe social (38,18% inferior a São Bernardo) e em 2013 saltou para 35,20% (21,60% abaixo de Diadema). A velocidade de produção e de absorção de classe média em Diadema no período foi de 54,44%, o que significa superioridade de 57% sobre São Bernardo. Nada mais humilhante para a Capital Econômica da região. Nada mais simbólico da baixa mobilidade regional no período, já que os números gerais estão muito aquém de outros territórios.
Um contraponto relevante também pode ser feito com Sorocaba, há muitos anos um dos endereços preferenciais a investimentos industriais. O crescimento das famílias de classe média-média e média-baixa em Sorocaba nos 18 anos a partir de 1995 foi praticamente o dobro do de São Bernardo: 198,30% ante 101,30%. A participação relativa dos classes médias em Sorocaba em confronto com a população total subiu de 26,00% em 1994 (pouco acima de Diadema, portanto) para 41,70% -- um salto de 60%, mais que o dobro do registrado por São Bernardo.
Ainda sobre o desempenho do estrato de classe média-média e média-baixa durante os 18 anos registrados pelo IPC Marketing, e como prova de que o Município vai mal das pernas na geração e na captação de famílias de estrato social mais avançado, alguns confrontos são dilacerantes: em 1995 os classes médias de São Bernardo eram 14,56% superiores em participação relativa que os representantes da região no G-20, 21,70% que o G-20, 37,63% que o Estado de São Paulo, 56,59% acima do Brasil, 62,08% superiores aos do Norte e 76,65% aos do Nordeste. Já em 2013 os números comprovam as debilidades provocadas principalmente pelo refluxo industrial. São Bernardo passou a contar com participação relativa de classes médias no conjunto da população apenas 6,46% superior aos integrantes locais do G-20, 6,68% ao G-20 como um todo, 12,47% ao Estado de São Paulo, 28,50% ao Brasil, 39,20% à Região Norte e 55% à Região Sudeste. Há um evidente reenquadramento do perfil socioeconômico de São Bernardo em relação a diversas geografias.
Pior mesmo é a posição no ranking do G-20. Vejam como está a situação dos 20 municípios por ordem de participação relativa de classes médias no total das respectivas populações.
1. Santos, 48,20%
2. São Caetano, 47,70%
3. Jundiaí, 47,60%
4. Paulínia, 47,30%
5. Campinas, 45,50%
6. Santo André, 44,98%
7. São Bernardo, 44,90%
8. São José dos Campos, 44,70%
9. Ribeirão Preto, 42,80%
10. Piracicaba, 42,70%
11. Sorocaba, 41,70%
12. São José do Rio Preto, 41,40%
13. Taubaté, 41,30%
14. Osasco, 39,60%
15. Sumaré, 39,10%
16. Mogi das Cruzes, 38,50%
17. Barueri, 36,30%
18. Mauá, 36,00%
19. Guarulhos, 36,00%
20. Diadema, 35,20%
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