O prefeito Luiz Marinho pretende colocar São Bernardo no mapa de empresas fornecedoras da Petrobrás. Quer São Bernardo petrobralizada, com o perdão do neologismo que pode até ser de mau gosto, mas é cortante e, muito mais que isso, circunstancialmente apropriado, porque carrega conotação crítica justíssima.
Oficialmente, e não se pode duvidar disso, o discurso de Luiz Marinho de petrobralizar São Bernardo significaria a redução da dependência exagerada do setor automotivo, a tal Doença Holandesa. O outro lado da moeda estratégica tem os olhos postos nas eleições a governador em 2018 ou a qualquer cargo de expressão nacional: organizar uma rede de financiadores eleitorais.
Luiz Marinho está dando com os burros nágua. A Petrobrás é um transatlântico de malandragens, como atestam noticiários alimentados por ações da Polícia Federal. Além disso, a modalidade de financiamento eleitoral por empresas está na marca do pênalti, em decisão prestes a se confirmar pelo Supremo Tribunal Federal. Talvez não atinja as eleições de outubro agora, mas outros outubros não escaparão.
Mudar as regras sujas de financiamento eleitoral não quer dizer que o financiamento eleitoral será uma ponte à ética e à moralidade, ou que a prostituta em virgem se tornará. O caixa dois come solto e continuará a comer solto. Estima-se que dois terços dos recursos que lubrificam candidaturas trafegam longe da legalidade e geram caixa três, quando não caixa quatro.
O PT que controla o governo federal num amplo condomínio partidário, não pretende deixar Brasília pelos próximos 20 anos, mesmo sem ter completado os primeiros 20 anos desde que Lula da Silva, após três tentativas fracassadas, caiu nos braços do povo. São Bernardo é um ponto muito mais político do que economicamente estratégico dessa operação, embora uma coisa não neutralize a outra.
O prefeito Luiz Marinho tem alguns filões a explorar no Município, por conta de acordos interpartidários liderados por Lula da Silva. Marinho, espécie de poste sindical, foi elevado à condição de ministro da Previdência Social e do Trabalho porque o primeiro-amigo o embalou. Tanto quanto Dilma Rousseff ao governo federal.
Proximidade dinamitada
O plano de criar uma nova matriz econômica em São Bernardo tendo a Petrobrás como fonte de inspiração, de respiração e de oxigenação político-financeira-administrativa, faz água em pleno período de seca. Os escândalos na maior empresa brasileira não param de ocupar espaços na mídia. Grupos de assessores da Petrobrás, muito próximos da Administração Luiz Marinho, foram diretamente atingidos. Na Petrobrás, por maior que seja a Petrobrás, os encaixes sempre se dão em determinado ponto, no qual os mesmos de sempre são controladores da imensidão corporativa. As instâncias mais elevadas de poder interno pensam que mandam. O caso Pasadena é emblemático.
Luiz Marinho criou tanta fantasia em torno da exploração dos tentáculos produtivos da Petrobrás que, ao martelar as intenções, acabou levado a sério. Tanto que o chamado Posto Avançado de Cadastramento da Petrobrás encerrou as atividades em agosto do ano passado, após uma temporada de instalação, e contabiliza 500 inscrições.
Vendeu-se um horizonte de flores e perfumes. Esqueceram os espinhos. Sem tradição na área petrolífera, sem cultura na área petrolífera, sem controle político na área petrolífera, sem mão de obra qualificada na área petrolífera, sem nada que pesa para valer à redefinição de competidores petrolíferos, sem contar os graves obstáculos na infraestrutura logística e trabalhista da Província do Grande ABC, sem nada disso Luiz Marinho propagou que estava criando um novo mercado às empresas da região.
Luiz Marinho confiava demais nas articulações políticas. Acreditava Luiz Marinho que as metalúrgicas se adaptariam facilmente às especificidades de linhas de produção da teia de fornecedores da Petrobrás. A simplificação do complexo sem conhecimento do complexo é uma das formas mais seguras de cimentar o patético. A rede de fornecedores da Petrobrás é um emaranhado e tanto. Especializadas, as empresas sofrem as durezas dos prélios. Imaginem então as empresas principiantes, fora do eixo político-industrial.
Aeroportozão imbatível
Não faltam críticos de Luiz Marinho a colocar a proposta de petrobralizar São Bernardo na categoria de irmã siamesa da construção de um aeroporto internacional nas áreas de mananciais. Trata-se de exagero, claro.
Primeiro porque o aeroportozão é uma associação de delírio e arrogância, quando não de desfaçatez e desprezo à inteligência alheia. Segundo porque a petrobralização da economia de São Bernardo poderia ser resultado de estudo profundo, não de afogadilho como se deu, após conhecer-se detalhadamente o perfil das indústrias do Município, partindo-se daí à ação específica, focalizada em viabilidade mais prática da iniciativa.
Mas quem disse que a Administração Luiz Marinho entende do riscado de gerenciamento das potencialidades disponíveis? Valem muito mais – ou valem mesmo – os ímpetos de grandiosidade, sem medição analítica do que seria mais conveniente e mais procedente ao fortalecimento da iniciativa. Técnicos da Petrobrás poderiam, no nascedouro da proposta, traçar o perfil mais imediatamente promissor a iniciativas locais de atendimento aos projetos. Preferiu-se jogar a rede oportunista e açodada da generalização com intensa e desorganizada corrida ao cadastramento certamente frustrante mesmo antes de a Petrobrás cair nas garras da Polícia Federal.
Não só por conta da tentativa decepcionante de petrobralizar São Bernardo, Luiz Marinho ainda não saiu do encalacramento de mediocridade a que está confinado como administrador público da Capital Econômica da região. Não à toa os números de um futuro que chegará com estatísticas irrebatíveis confirmarão a toada de perda da participação de famílias ricas e de classe média no Município que, antes da chegada do Plano Real, liderava folgadamente o quesito no G-20, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado, e também frente a outras geoeconomias.
A proletarização de São Bernardo, cada vez mais próxima da média nacional, é uma obra coletiva de administradores públicos locais, sindicalistas, empresários, governo estadual e governo federal. Luiz Marinho poderia dar um chega pra lá em desperdícios históricos, mas pensa de olho nas urnas como a maioria dos chefes de Executivos.
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