O presidente da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, bateu duro no grande inimigo da livre-iniciativa brasileira, o Estado perdulário e paquidérmico, durante o discurso da terceira etapa do Fórum Permanente das Reformas, realizado na sede do Ciesp, Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, na metade do mês passado, em Diadema. O encontro, que reuniu lideranças empresariais da região e da Capital, além de empreendedores, foi uma sessão explícita de pancadaria na lentidão dos projetos de emenda à Constituição, patrocinada pelo Legislativo e pelo Executivo, em Brasília. A demora das reformas constitucionais da Previdência Social, Tributária e Administrativa, ressaltou Moreira Ferreira, poderá determinar crise que levaria o País a conviver com inflação e com a instabilidade política.
O presidente da Fiesp não se limitou a ler com voz grave e pausada o discurso previamente entregue à imprensa. Ele fez alguns improvisos com a ênfase de assumido candidato a deputado federal. Disse um irritado "chega de preguiça" direcionado ao Congresso Nacional e, nas intervenções que se seguiram, indagado pela platéia, deixou escapar críticas à política fiscalista na qual o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, foi citado nominalmente como propagador de anúncios de recorde de arrecadação de tributos, entre os quais se inclui a CPMF, Contribuição Provisória de Movimentação Financeira, prestes a tornar-se permanente, cuja obesidade se contraposição à esqualidez econômico-financeira das empresas.
O Fórum Permanente das Reformas é uma espécie de pregação de Moreira Ferreira que combina dois aspectos igualmente estratégicos: o geográfico, porque atingirá todas as regiões do Estado com representação empresarial do Ciesp, e o político, porque envolve a partidarização dos empresários não mais como financiadores de candidaturas eleitorais nem sempre comprometidas com a doutrina da livre-iniciativa, mas como efetivos agentes sociais. O próprio Moreira Ferreira expressou essa proposta de forma clara, cristalina, para todo o público. Ele praticamente exortou candidaturas de empresários voltadas para a obtenção de mudanças através do voto.
O pronunciamento fortemente político de Moreira Ferreira não surpreendeu quem tem acompanhado sua performance e foi antecedido no encontro de Diadema pelo discurso de Carlos Pastoriza, titular da Diretoria do Ciesp de São Bernardo, que exortou a importância de candidaturas de empresários em todas as instâncias de poder. Além dele, todos os demais titulares do Ciesp na região fizeram uso da palavra, casos de Walter Bottura (Diadema), José Ricardo Sukadolnik (São Caetano) e Fausto Cestari (Santo André).
Maria Helena Zokun, assessora econômica da Fiesp, preparou o terreno para o discurso de Moreira Ferreira, desfiando dados econômicos que não deixam dúvidas sobre a histórica incompetência do Estado brasileiro. Caso, por exemplo, dos custos da Previdência Social, à beira da insolvência: os 2,9 milhões funcionários públicos aposentados recebem anualmente R$ 50 bilhões em benefícios previdenciários, enquanto os 16 milhões de aposentados pela livre-iniciativa recebem R$ 45 bilhões.
Moreira Ferreira repetiu a informação no discurso, mas com o adendo de que o INSS tem déficit anual de R$ 1,5 bilhão para atender aos aposentados do setor privado, isto é, a diferença entre a arrecadação e o custo dos benefícios, enquanto o déficit com os aposentados do setor público atinge R$ 45 bilhões, porque a arrecadação com os funcionários da ativa é de apenas R$ 5 bilhões. “Essa situação absurda reflete a acumulação de privilégios ao longo dos anos de uma administração pública marcada pelo paternalismo, o apadrinhamento político e o uso eleitoral da máquina do Estado. Tudo sob o manto da Constituição de 88, a tal Constituição Cidadã, na verdade a Constituição do Atraso" -- desabafou o presidente da Fiesp.
Na platéia, o empresário de São Bernardo, Mario Bernardini, vice-presidente do Ciesp, depois de fazer leve reparo à abordagem de Maria Helena Zockun, que não privilegiou a valorização do câmbio como elemento complicador do quadro econômico interno, reiterou posição alardeada já há algum tempo em favor de uma versão do Proer, aplicado no sistema bancário, para as pequenas e médias indústrias, a maioria das quais debilitadas pela abrupta abertura do mercado e pelo Custo Brasil, especialmente a excessiva carga tributária.
Mario Bernardini preferiu não dizer o que muitos empreendedores ainda comentam em guetos: a inadimplência junto aos vários Fiscos é uma questão extremamente delicada para o empresariado de pequeno e médio porte e estaria na raiz da dificuldade de mobilização da classe em movimentos de pressão junto às autoridades econômicas e políticas.
Dois personagens que certamente vão ocupar as manchetes nos próximos tempos no processo de sucessão na Fiesp, previsto para agosto do ano que vem, participaram discretamente da reunião em Diadema: Horácio Lafer Piva e Joseph Couri. Vice-presidentes da Fiesp e candidatos à cadeira de Moreira Ferreira, eles assistiram a tudo tentando aparentar uma impossível discrição de quem não está nem aí com o peixe sucessório.
Horácio na primeira fila do gargarejo da plenária e Couri na porta de entrada do auditório, distribuíam sorrisos e afetuosidade com a desenvoltura de políticos de carreira. Mais tarde, durante o coquetel, eles se mantiveram cuidadosamente distantes e sempre rodeados de potenciais votos. O que Horácio entende como maior cacife eleitoral -- a esperada indicação oficial de Moreira Ferreira -- seria, na versão de Couri, sua maior plataforma eleitoral, porque o candidato dos pequenos empresários acredita que a imagem do atual ocupante da Fiesp está desgastada porque sua gestão teria se voltado para os grandes grupos empresariais. Moreira Ferreira discorda.
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