Economia

Clube dos Prefeitos é a Comissão
Técnica dos 7 a 1 contra Alemanha

DANIEL LIMA - 14/08/2014

O Clube dos Prefeitos do Grande ABC (oficialmente Consórcio Intermunicipal) é uma nulidade completa como agente de desenvolvimento econômico. Quem assegura a pertinência provocativa desta sentença é a própria história do Clube dos Prefeitos. Qualquer imagem que vincule a atuação do Clube dos Prefeitos à Comissão Técnica da Seleção Brasileira nos 7 a 1 contra a Alemanha não é especulação.


 


Seria esperar demais por algo diferente. Afinal, os prefeitos que têm passado pela Província do Grande ABC não dão a mínima para a economia do próprio território do qual dependem para aumentar receitas tributárias. Celso Daniel é a grande exceção à regra. Luiz Marinho, mais marqueteiro que especialista, vem em segundo lugar a léguas de distância. O que não pode ser entendido como elogio.


 


Nossos administradores públicos são analfabetos em matérias econômicas. E geralmente se utilizam de secretários e assessores igualmente analfabetos.


 


Dos atuais responsáveis pelas secretarias que supostamente tratariam de desenvolvimento econômico na região só se salva mesmo, e mesmo assim com restrições sobre as quais escreverei qualquer dia, o economista Jefferson José da Conceição, de São Bernardo.


 


A soma dos demais não vale o gol do Brasil na goleada diante dos alemães -- até porque inútil.


 


Maravilhas demais


 


Para não dizerem que estou a divagar, cumpro a promessa e analiso rapidamente o segundo dos oito tópicos que marcaram a entrega da Carta ao Presidente, preparada pelos prefeitos da região que naquele março de 2003, portanto há 11 anos, estiveram na Brasília do recém-chegado Lula da Silva.


 


O primeiro item, a Universidade Federal do Grande ABC, é um grande engodo, como já provei. Trocaram um centroavante indispensável por um modelo para desfilar nas passarelas acadêmicas internacionais.


 


Vou reproduzir o item número quatro do documento que, como escrevi outro dia, provavelmente nem o Clube dos Prefeitos dispõe de cópia. A rotatividade de ocupantes desse trem de ilusionismos possivelmente torna tudo imprestável nas arrumações que se dão às respectivas sucessões municipais. O compromisso com o passado dos integrantes do Clube dos Prefeitos a cada quatro anos de eleição de novos prefeitos é semelhante aos cuidados dos mandachuvas do futebol com o calendário dos clubes pequenos e médios.


 


Vamos então, sem mexer numa vírgula sequer, quanto mais na gramática, ao tópico “Fortalecimento das Cadeias Produtivas do Grande ABC”:


 


 A importância do complexo industrial do Grande ABC, compreendendo o Pólo Petroquímico, as Montadoras e as demais empresas que compõem as cadeias produtivas, aliados à mão-de-obra qualificada e às boas condições de infra-estrutura e logística de distribuição existente, além do potencial turístico, são atributos suficientes para articular o redirecionamento da atividade econômica regional. A proposição é importante para que o Grande ABC permaneça como referência nacional de pólo industrial automotivo e para dinamização do setor terciário, através da geração de tecnologia, diversificação das cadeias produtivas e produção de conhecimento. Desse modo, potencializaremos ações em desenvolvimento pelas instituições regionais – Consórcio Intermunicipal, Câmara Regional do Grande ABC e Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC – e a sociedade civil, com a efetiva participação do Governo Federal e sintonia com as demais esferas de governo. A participação do Governo Federal se faz necessária na definição da matriz de matérias-primas para as indústrias de primeira e segunda geração (Petrobrás e outras); na estruturação e financiamento de pólos tecnológicos (plástico, metal-mecânico, moldes); no crédito e financiamento para as pequenas e médias empresas e nas ações de fomento dirigidas ao setor de transformação e desenvolvimento do setor terciário. Essas ações, com certeza, virão contribuir para o fortalecimento e a diversificação das cadeias produtivas do Grande ABC, transformando-o em centro de excelência nacional e internacional.


 


Sonhos, só sonhos


 


A contextualização do enunciado acima à realidade daquele 2003 já é condenatória ao tom adotado na interlocução com o presidente da República saído do ventre sindical da região. Vivia a Província do Grande ABC o que viria a ser o abrandamento de um ciclo de intensas transformações econômicas, forjado pelos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.


 


A guerra fiscal, a abertura econômica, o seletivismo de proteção às montadoras de veículos em detrimento das autopeças nacionais, o esvaziamento industrial, tudo isso fervilhava naquele começo do governo Lula da Silva. Por isso aquele tom grandiloquente não encontrava justificativa, exceto na bobagem de um triunfalismo inconsequente.


 


Nesses 11 anos de governo petista em Brasília a situação econômica da Província do Grande ABC melhorou no específico e piorou no abrangente. O específico é a indústria automotiva, lubrificada pelo crédito e, com isso, estimulada a bater recordes de produção. O abrangente é que pioramos na capacidade de gerar riqueza. A competição com outras geografias do Estado e do País nos é totalmente desfavorável.


 


Nada do que ali foi proposto, sugerido, enaltecido, propagado, tinha consistência naquele março de 2003. Hoje, então, está muito pior. Caminhamos para um terceiro ano seguido de recessão regional projetada pelo PIB (Produto Interno Bruto), uma das métricas da temperatura econômica mais confiável, embora contestável. Estamos cada vez mais dependentes das montadoras de veículos. Não nos desgarramos do Custo ABC, muito pior que o Custo Brasil. A medida exigiria uma mexida geral nos ovos de ouro do setor sindical.


 


O Clube dos Prefeitos da Província do Grande ABC não tem a menor ideia do que seja desenvolvimento econômico porque simboliza a completa ausência de especialistas em regionalidade. As respectivas pastas municipais só estão nos organogramas para dar alguma satisfação ao distinto público. Deveriam ser carros-chefes dos gestores cada vez mais imobilizados ante o comprometimento orçamentário que se agrava a cada temporada de flacidez econômica.


 


Relegadas a quinto plano, as secretarias de desenvolvimento econômico são uma moeda de troca sem valor algum.  A escalação da educadora Oswana Fameli, indicada pela Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) para o cargo, e também como companheira de chapa do petista Carlos Grana, é o extrato do descalabro. Estamos perdendo feio no Campeonato Brasileiro de Competitividade Econômica. Temos um bando de pernas de pau a fingir que atuam na área. O Clube dos Prefeitos é uma comissão técnica que se rivaliza com Felipão e seus trapalhões na Copa do Mundo.


 


Ainda faltam à breve análise seis quesitos da Carta ao Presidente Lula da Silva entregue há 11 anos. Preparem o coração, a alma e a tolerância. Somos uma Província insuperável em provocar calafrios.


Leia mais matérias desta seção: Economia

Total de 1894 matérias | Página 1

21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?
12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES
07/11/2024 Marcelo Lima e Trump estão muito distantes
01/11/2024 Eletrificação vai mesmo eletrocutar o Grande ABC
17/09/2024 Sorocaba lidera RCI, São Caetano é ultima
12/09/2024 Vejam só: sindicalistas agora são conselheiros
09/09/2024 Grande ABC vai mal no Ranking Industrial
08/08/2024 Festejemos mais veículos vendidos?
30/07/2024 Dib surfa, Marinho pena e Morando inicia reação
18/07/2024 Mais uma voz contra desindustrialização
01/07/2024 Região perde R$ 1,44 bi de ICMS pós-Plano Real
21/06/2024 PIB de Consumo desaba nas últimas três décadas
01/05/2024 Primeiro de Maio para ser esquecido
23/04/2024 Competitividade da região vai muito além da região
16/04/2024 Entre o céu planejado e o inferno improvisado
15/04/2024 Desindustrialização e mercado imobiliário
26/03/2024 Região não é a China que possa interessar à China
21/03/2024 São Bernardo perde mais que Santo André
19/03/2024 Ainda bem que o Brasil não foi criado em 2000