Economia

Termoelétricas
já estão no papel

ANDRE MARCEL DE LIMA - 05/08/1999

Dois empreendimentos na pista esquentando motores e dois andando com a primeira marcha engatada são os principais investimentos recém-anunciados no Grande ABC. O mais expressivo monta a US$ 1 bilhão e representa quatro usinas termoelétricas a gás natural projetadas para gerar 2000 MW (megawatts) em 2003, conforme termo de compromisso assinado pelo governador Mário Covas com os sete prefeitos da região e o consórcio liderado pela General Electric. Também no campo da intenção está o projeto de o McDonalds instalar-se em área de 3,1 mil metros quadrados do antigo terminal rodoviário de Mauá, pela qual desembolsou R$ 1,9 milhão. Resta vencer a desconfiança de vereadores da oposição à administração petista de que a licitação teria sido dirigida.


 


Mauá recebe com certeza, de qualquer forma, uma loja do Sé Supermercados neste dia 12. Será a 25ª loja da rede paulista, que ocupa a 10ª posição no ranking supermercadista do País, com faturamento de R$ 582,5 milhões em 1998. Há expectativa de que 150 empregos sejam gerados na unidade erguida na Avenida Barão de Mauá, próxima do Jardim Itapark. A rede de 3,5 mil funcionários anuncia dispor de mix com 15 mil itens e dezenas de marcas próprias. Também inicia atividades neste 1º de agosto a Atento Brasil, ramificação da Telefônica para serviços de 102, 103 e 104 que instalou em São Bernardo uma de suas sete centrais no País. Cada uma exigiu US$ 7 milhões em investimentos, que na região foram despejados na reforma e equipagem das antigas instalações da Pirâmide Veículos no Bairro Nova Petrópolis. As operações estão ocupando 25% da capacidade de 1250 pontos de atendimento callcenter e telemarketing. O diretor regional da Atento, José Francisco Dorna, crê que em 1º de setembro estará operando a plena carga e com o quadro preenchido de 2,7 mil funcionários anunciados.


 


Todas as chamadas 102, 103 e 104 da CTBC já foram assumidas pela Atento de São Bernardo, cujos planos são absorver 50% desses serviços da Telefônica em toda a Grande São Paulo. Isso causou protestos do Sintelmark (Sindicato das Empresas de Telemarketing do Estado), que representa 300 operadoras e entende haver concorrência desleal pelo fato de a Telefônica monopolizar o insumo do setor (os impulsos) e ter acesso a informações privilegiadas. O presidente Alexandre Jau informa ter feito uma representação à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), órgão gerenciador do sistema após privatizado, e deve anunciar medidas jurídicas neste mês.


 


Loteria?


 


O complexo termoelétrico liderado pela GE teve direito a cerimônia com pompa e circunstância no Palácio dos Bandeirantes, mês passado, inclusive com a presença de dois ilustres apoiadores do projeto: o vice-presidente Marco Maciel e o ministro das Minas e Energia, Rodolfo Tourinho, segundo os quais o gás natural é a grande promessa para o esgotamento das reservas hídricas e de recursos financeiros exigidos pelas tradicionais hidroelétricas.


 


O prefeito de São Bernardo, Maurício Soares, acredita que o Grande ABC ganhou na loteria ao conquistar o investimento de US$ 250 mil previsto para cada uma das quatro usinas, que tornarão a região mais atraente para novos negócios, disse. Caso se viabilizem, as termoelétricas serão instaladas em São Bernardo, Santo André, Mauá e São Caetano com intervalos de três a quatro meses entre uma e outra, segundo Fernando Vela Biosca, presidente da estatal espanhola Initec (Empresa Nacional de Ingenieria y Tecnologia), uma das parceiras do empreendimento, que tem ainda, além da GE, a norte-americana El Paso e a brasileira ITS Participações.


 


O protocolo de intenções foi só o primeiro e mais fácil passo. O megaprojeto ainda tem os horizontes limitados por estudos de viabilidade econômica, definição dos locais mais adequados de instalação, fontes de financiamento e identificação dos clientes que vão comprar a energia. A Solvay de Santo André, que chega a consumir 80 MW/hora, já se declarou potencial cliente e inclusive cedente de uma das áreas para implantação.


 


A questão do financiamento também é espinhosa. Parte ainda estatal e parte privatizada, a geração de energia elétrica por mãos de particulares é assunto novo no Brasil e a regulamentação é omissa quanto a recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Por isso o consórcio de empresas pediu apoio dos prefeitos e políticos do Estado para solicitar rapidez na licença junto à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).


 


Outra pendência é a origem do gás. O produto boliviano, que viria pelo já em conclusão gasoduto Brasil-Bolívia, é considerado caro pelo consórcio da GE. De qualquer modo, os estudos finais estão prometidos para três a seis meses, prevê o diretor do Departamento de Tecnologia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado), Ozires Silva, principal idealizador do projeto.


 


Viáveis ou não no Grande ABC, as termoelétricas a gás natural são indispensáveis à ampliação da capacidade de geração de energia no Brasil. O governador paulista Mário Covas citou que o Brasil é o sétimo maior consumidor energético do mundo. São Paulo, que consome 33% da energia elétrica produzida pelo País,  gera 20% do total nacional. Pelos cálculos do governador, os 2000 MW das quatro termoelétricas do Grande ABC representarão 15% da energia elétrica produzida pelo Estado de São Paulo.


 


Além das quatro usinas da região, o governo de São Paulo assinou iguais protocolos de construção com Cubatão, Paulínia e Santa Branca. As sete devem gerar no total entre cinco e 5,2 mil MW. Segundo o ministro Rodolfo Tourinho, em curto espaço o governo federal quer aumentar de 3% para 12% a participação do gás natural na matriz energética brasileira.


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