Economia

Atrium Shopping segue à deriva;
leilão do Domo é grande fracasso

DANIEL LIMA - 21/08/2014

Os jornais da região vão esconder ou vão minimizar dois fracassos anunciados: o leilão de 181 unidades do conglomerado imobiliário Domo, no entorno do Paço Municipal de São Bernardo, foi mesmo desprezado por investidores nada loucos. E o Shopping Atrium, inaugurado em outubro em Santo André, segue em ritmo de desfiladeiro.


 


Os jornais da região badalaram o Atrium desde antes da inauguração. Escreveram tratados que alçaram a economia da região aos píncaros da glória, como diriam os antigos. Sobre o Domo, calaram-se ante as projeções deste jornalista de que a vaca dos investidores estava indo para o brejo. Democracia informativa é um bem escasso na região. Há prestidigitadores de plantão. Mandachuvas e mandachuvinhas reinam.


 


Dez meses depois de inaugurado às pressas, o solteiríssimo Atrium Shopping é uma montanha de prejuízos à maioria dos lojistas. Solteiríssimo porque deveria contar com a vizinhança com torres comerciais e residenciais. Os empreendimentos dariam mais vida ao centro planejado de compras instalado numa região incompatível com o público-alvo pretendido, a classe média-média. Salas comerciais e apartamentos residenciais não ganham o ritmo de construção mais que desejado, indispensável. Estão ainda em obras mais que lerdas. Lojistas que imaginavam o céu de executivos a dar com pau nos corredores do Atrium comem o pão que o diabo amassou.


 


Estive ontem à tarde no Atrium Shopping a convite de alguns lojistas. Eles ganharam coragem. Decidiram botar a boca senão no trombone, porque o lamento é cuidadoso, pelo menos num cantinho de uma das dependências do empreendimento. Tudo o que produzi de texto desde outubro do ano passado, quando o Atrium foi entregue apressadamente ao público, está lamentavelmente atualizado. Com agravantes. A ocupação não chega a 50 lojistas. Dez meses depois da fita inaugural, deveriam ser pelo menos três vezes mais.


 


Obras de arte


 


Desta vez não tive entusiasmo algum em percorrer integralmente o Atrium para contar o número de espaços à espera de lojistas. O panorama é aterrador. Há tapumes coloridos corredores adentro e corredores afora.


 


Um louco qualquer poderia sugerir artistas plásticos para transformar corredores em obras de arte. Eles poderiam pintar o maior painel contínuo em ambiente fechado. Dariam voltas e voltas nos três pisos, com direito a dobradas à direita e à esquerda. As lojas ocupadas seriam licenças poéticas. Vitrines vivas entre vitrines artísticas. 


 


Há lojistas desesperados. Nem mesmo conseguem se livrar do mico. Vários deles sofrem ações na Justiça. A empresa proprietária do empreendimento joga pesado contra os inadimplentes. Mais que inadimplentes, grande parte dos lojistas é composta de sobreviventes de um engodo. Caíram no conto de que o Atrium seria um shopping de valor agregado, com série de opções complementares ao consumo propriamente dito. Prometeram-se empreendimentos para atrair casais com filhos, por exemplo. As salas de cinema chegaram bem depois e não fazem o milagre da multiplicação de frequentadores como alguns ingênuos imaginaram e publicaram.


 


Vende-se a salvação do Atrium Shopping a prazo, com a conclusão das torres residenciais e comerciais, além de um hotel. Mas há quem não resista ao presente. O passado recente foi um desastre de receitas incompatíveis com os custos. Muitos lojistas jogaram a toalha faz tempo. Foram embora. A anunciada chegada de uma unidade do Poupatempo é postergada.  Uma nova estação ferroviária nas imediações da fábrica da Pirelli, próxima do empreendimento, também foi anunciada como reforço ao fluxo de consumidores. Tudo embromação, reclamam os lojistas impacientes. Eles temem que a fama de fracasso do empreendimento seja maior que todas as eventuais partes de investimentos e medidas que seriam adotadas.


 


Sorveteria, bom negócio


 


O Atrium só não é um shopping fantasma porque existe o horário do almoço. É salvo pela praça de alimentação coalhada de funcionários da Pirelli e da Tim, instaladas nas imediações.


 


Não se pode generalizar o fracasso dos negócios ali plantados. A loja do Chiquinho, sorveteria popular, é a principal atração do empreendimento. Algumas outras poucas lojas ainda podem ser catalogadas como rentáveis. A grande maioria sofre. Falta gente. Shopping sem gente é futebol sem bola, político sem esperteza, Província sem mequetrefes.


 


O que pergunto é o que as autoridades públicas de Santo André, prefeito Carlos Grana à frente, secretária de Desenvolvimento Econômico Oswana Fameli a tiracolo, estão fazendo ante tamanho fracasso. Participar da festa de inauguração do empreendimento, oferecer ao distinto público discursos abarrotados de adjetivos politicamente corretos, beber e comer de graça são sempre uma cadeia de felicidade. E o dia seguinte?


 


O acesso viário ao Atrium Shopping é um labirinto. Só quem conhece todo o trajeto supera os obstáculos. Faltam placas indicativas. As manobras são sempre arriscadas. Aquele endereço entre Santo André e Mauá é intensamente utilizado por veículos de passeio. Há ramificações que confundem. Não se sabe para onde se está indo.


 


Domo desvalorizado


 


Se o Atrium Shopping pode ganhar algum embalo mesmo que espasmódico quando contar com a companhia de salas comerciais e de torres residenciais ainda em obras, quando o Poupatempo chegar mesmo e quando uma estação de trem for construída, o caso do condomínio Domo, ao lado do Shopping Metrópole, em São Bernardo, é outra coisa. O Domo é o retrato do infortúnio imobiliário na Província. Um caos que apenas o Clube dos Construtores e Incorporadores nega e a Imprensa descuidada mistifica com números que não condizem com a realidade.


 


O leilão de 181 apartamentos e salas comerciais novos do Domo, realizado no último dia 18, foi o fracasso esperado. Ninguém se arriscou a dar lance mínimo proposto pelo leiloeiro. Os valores são dignos de especuladores imobiliários.  Para as salas comerciais foram solicitados R$ 7.837 por metro quadrado. Para os apartamentos, R$ 5.284. Escrevi dias antes do leilão que pagaria o dobro do que me fosse oferecido se o lote de 181 imóveis obtivesse o preço mínimo do metro quadrado demarcado. Não apareceu nenhum maluco. Nem mesmo os representantes do Clube dos Construtores e Incorporadores que sempre insistem em elevar para balizar a especulação imobiliária.


 


O Clube dos Construtores e Incorporadores, batismo deste jornalista porque a tal Associação dos Construtores e outras coisas mais nem marca midiática oferece, deveria ganhar nova e apropriada denominação – Clube dos Especuladores Imobiliários seria perfeito.


 


O próximo leilão do Domo está programado para a próxima quarta-feira.  O valor mínimo proposto inicialmente terá 40% de desconto. Uma cacetada contra os espertos que faturam os tubos em cima da ignorância de adquirentes geralmente de primeira viagem que, entre outros flagelos, ousam acreditar nas declarações de dirigentes do setor.


 


Quarenta por cento de desconto significa que o metro quadrado das salas comerciais cairá para R$ 4.702 e o metro quadrado dos apartamentos para R$ 3.170. São valores digeríveis quando contrapostos à crise consolidada. Mesmo assim tenho dúvidas sobre o sucesso da empreitada. Não existe demanda para arrematação monstro. Os custos com manutenção e condomínio seriam astronômicos e elevariam os valores do investimento acima dos limites razoáveis para resistir ao período de estiagem que se apresenta já claramente corrosivo.


 


Ainda mais numa Província entregue às baratas do Poder Público incompetente para orquestrar iniciativas que alterem a rota de uma economia que, ao primeiro sopro de queda do setor automotivo, colhe tempestade de recessão.


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