Economia

Santo André acumula maior perda
de emprego industrial desde 1985

DANIEL LIMA - 28/08/2014

Santo André perdeu mesmo o rumo econômico nas três últimas décadas e não emite qualquer sinal consistente de que alterará a rota de fragilização. Um dos indicadores mais confiáveis de desenvolvimento econômico é o emprego industrial formal, com carteira assinada. Nas três últimas décadas Santo André superou largamente os demais municípios da região ao acumular perda de 46,15% postos de trabalho na atividade que mais agrega riqueza na região. Ou seja: de cada 10 empregos no setor em 1985, só restaram 5,4. No ano passado Santo André somou 793 fechamentos de empregos industriais, 35% do total de 2.237 trabalhadores que deixaram as fábricas locais.

 

Com dados oficiais do Ministério do Trabalho e do Emprego a partir de 1985, raiz da redemocratização do Brasil, é possível resgatar o comportamento do emprego na indústria de transformação da Província do Grande ABC. O território regional foi duramente atingido a partir da mobilização sindical seguida da abertura econômica de Fernando Collor de Mello e, ainda mais, durante os anos Fernando Henrique Cardoso, de guerra fiscal ensandecida e de escancaramento dos portos. Somente durante os oito anos de Lula da Silva em Brasília, com forte incentivo ao consumismo de veículos, houve reação regional. Mesmo assim insuficiente para reconquista das perdas acumuladas.

 

A Província do Grande ABC contava com 337.790 trabalhadores industriais com carteira assinada em 1985. Em 31 de dezembro do ano passado o saldo caiu para 258.850 postos de trabalho. Uma perda líquida de 78.790 veículos ou de 23,33% do estoque de profissionais das mais diferentes áreas produtivas. 

 

Demografia compromete

 

O crescimento demográfico no período comprometeu ainda mais o quadro socioeconômico regional. Entre 1985 e 2013 a Província do Grande ABC absorveu novos 823.907 habitantes, incremento de 45,34%.  Esse adicional equivale a um pouco mais que a atual população de São Bernardo, de 805 mil pessoas. Ou seja, enquanto ganhou uma São Bernardo em população, a Província do Grande ABC perdeu em empregos do setor industrial praticamente o equivalente aos atuais estoques de carteiras assinadas de Diadema e de Mauá.

 

Só quem não enxerga um palmo à frente do nariz em matéria de desenvolvimento econômico pode alardear qualquer mensagem que não seja de preocupação com o futuro que já chegou há muito tempo. Os números são mais escandalosos ainda em preocupação quando se sabe que os gestores públicos locais mantêm as secretarias de Desenvolvimento Econômico como quarto de despejo orçamentário e estrutural. Somente em 1997 a região passou a contar com secretaria do setor, quando o então recém-eleito prefeito Celso Daniel levou o então executivo da Rhodia, Nelson Tadeu Pereira, para dirigir a pasta.

 

Ao longo dos anos as secretarias de Desenvolvimento Econômico foram pouco exploradas como instrumentos técnicos à reorganização do tecido econômico da região. Casos de profissionais do ramo levados ao comando de secretarias são exceção. E mesmo assim sem resultados a comemorar. Gestores públicos locais do passado e do presente têm e tiveram dificuldades em compreender que, apesar do peso da macroeconomia internacional e das sacolejadas tipicamente verde-amarelas, um centro de operações voltado a encontrar saídas para o desenvolvimento do setor na região não é um conto da Carochinha. 

 

Santo André é pior

 

O território mais deteriorado em emprego industrial com carteira assinada no período de 1985 e 2013 é mesmo o de Santo André. Em 1985 havia um posto de trabalho no setor de transformação do Município para cada 9,01 habitantes. Vinte e nove anos depois a proporção mais que dobrou ao atingir um emprego industrial para cada grupo de 20,30 moradores. Santo André contava com 64.491 trabalhadores industriais na base de comparação, contra 34.726 em 2013.

 

Santo André só não é líder em perdas de empregos industriais porque a pequenina Rio Grande da Serra consegue ser pior, embora o resultado não afete em nada a economia regional. Rio Grande contava com 1.286 empregos industriais com carteira assinada em 1985, ante 1.491 em 2013. O ganho líquido de 15,94% no período está longe de compensar o aumento demográfico. Em 1984 havia um emprego do setor industrial para cada 18,65 moradores de Rio Grande da Serra. Em 2013 a proporção alcançou um para 29,49.

 

Em termos relativos nos 29 anos pesquisados por CapitalSocial, quem mais perdeu empregos industriais depois de Santo André foi a vizinha São Bernardo. Eram 147.781 postos de trabalho industrial em 1985, ante 98.827 na temporada passada. Uma queda de 33,12%. A proporção de moradores de São Bernardo para cada emprego industrial quase triplicou no período: eram 3,27 e passou a 8,15.

 

Bronze para São Caetano

 

Se Santo André perdeu 46,15% de empregos industriais em 29 anos e São Bernardo chegou a 33,12% de redução, com São Caetano a situação é adequada à medalha de bronze de complicações. Entre os 37.128 empregos industriais registrados em 1985 e os 27.534 do ano passado sumiram relativamente 25,84% da base trabalhadora. Praticamente a média da perda regional no período. Diadema e Ribeirão Pires também perderam postos de trabalho industriais. Diadema contava com 61.531 trabalhadores em 1985 e caiu para 56.471 em 2013, com rebaixamento de 8,22%. Já Ribeirão Pires foi levemente superior: eram 9.130 trabalhadores industriais em 1985 ante 8.331 em 2013. Queda de 8,75%.

 

Além da discreta exceção à regra da pouca expressiva Rio Grande da Serra, apenas Mauá contribuiu para amenizar levemente os estragos na Província do Grande ABC: eram 16.287 trabalhadores do setor em 1985 ante 31.170 no ano passado, um salto de 91,40%. Há explicação para o fenômeno: o Polo Petroquímico atraiu muitas pequenas empresas, dezenas de pequenas indústrias de Santo André migraram para a vizinha e o Polo de Sertãozinho, uma reserva territorial destinada a absorver indústrias, também foi ocupado. Mesmo com esse saldo positivo de empregos industriais legais, Mauá não melhorou acentuadamente quando se confronta a proporção de trabalhadores e moradores: era um habitante para cada grupo de 14,84 empregos industriais em 1985, ante um habitante para cada grupo de 12,96% em 2013. Um indicador só superior ao de Rio Grande da Serra, Santo André e Ribeirão Pires.



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