Entra prefeito, sai prefeito e a Avenida dos Estados, em Santo André, segue como samba de uma nota só, a nota da promessa. Agora o prefeito Carlos Grana que vai a campo para encaminhar o que seria uma reestruturação da lei de uso e ocupação do solo daquela área mais que renegada, uma área degradada. A suposta proximidade com o tramo leste do Rodoanel talvez venha a ser desfraldada como marketing de venda. Corretores de imóveis fazem das tripas coração para vender gato por lebre nestes tempos de vacas magras.
O prefeito Carlos Grana não mede esforços para alcançar um registro de investimento industrial do qual possa se apegar como salva-vidas do naufrágio de promessas e lorotas que o tornaram campeão imbatível. Para tanto, sem dó, piedade e respeito à inteligência, passa por cima do legado de Celso Daniel.
Para o maior prefeito da história regional, o Eixo Avenida dos Estados não existia como denominação, porque estava inserido no Eixo Tamanduatehy, megaprojeto que respeitava a qualidade de vida e flertava com o dinamismo econômico. Urbanistas internacionais e nacionais foram contratados para desenhar o futuro do entorno do Rio Tamanduateí.
O que Carlos Grana pretende impor é um aparato oportunista que possivelmente vai contemplar investimentos pontuais e muita, mas muita especulação imobiliária. Quando falta equipe de trabalho razoavelmente competente, o que resta é cair nas garras dos abutres de plantão. E os abutres de plantão são velhos conhecidos. Desde os tempos em que parte deles detestava o PT. Diziam que petistas comiam criancinhas e outras coisas mais. Agora comem no mesmo prato. E se lambuzam.
Promessa requentada
O Eixo Avenida dos Estados que a Administração Carlos Grana promete criar como prova definitiva de que o Eixo Tamanduatehy já foi para o vinagre é uma velha promessa que remonta pelo menos a abril de 2000, quando Celso Daniel era o prefeito e o ex-executivo da Rhodia, Nelson Tadeu Pereira, estava no comando da primeira pasta de Desenvolvimento Econômico criada na região. Nelson Tadeu Pereira viera portanto da iniciativa privada, de uma multinacional reconhecidamente de lustro. A atual secretária da pasta, Oswana Fameli, queridinha da Acisa e da Prefeitura, veio de uma escola particular modesta e de uma entidade de classe regional que criou e cuja trajetória de feitos se rivaliza com a Associação dos Passarinheiros do Grande ABC. Talvez os criadores de passarinhos me acionem pela comparação.
Naquele abril de 2000 o então secretário Nelson Tadeu Pereira acenava com a possibilidade de utilização dos galpões industriais vazios da Avenida dos Estados para instalação de novas empresas. Veja o que disse ao Diário do Grande ABC de 7 de abril de 2000: “Nessas áreas nós poderíamos oferecer um preço mais acessível para as indústrias que teriam atividades diferentes mas iriam funcionar em um mesmo local”.
Nelson Tadeu Pereira estava se referindo especificamente à ideia de criar condomínios industriais na Avenida dos Estados. A Prefeitura de Santo André estava incomodada. A Tintas Coral acabara de anunciar transferência da sede administrativa da Avenida dos Estados para o Polo Industrial do Sertãozinho, em Mauá. Uma mudança nociva aos cofres da Prefeitura de Santo André. Parte dos tributos gerados ficava com o Município dirigido por Celso Daniel. Uma dinheirama perdida com o novo endereço fiscal.
A reação era esperada. O resto da história todo mundo sabe: Celso Daniel se foi, Nelson Tadeu Pereira provou que uma andorinha experiente nos setor privado não faz verão no setor público se não houver estrutura a dar respaldo e a Avenida dos Estados se manteve vulnerável demais à concorrência por ocupação de espaço industrial. Tanto que Mauá praticou despudorada guerra fiscal no setor produtivo e levou a seu território dezenas de empresas da região, notadamente de Santo André. Menos mal: se não houvesse pirataria, a maioria das empresas retirantes escolheria outros endereços do Estado e do País, como provam centenas de casos.
Um diagnóstico logístico do Eixo Avenida dos Estados seria a primeira ação que uma gestão pública previdente mesmo para proporcionar especulação imobiliária centralizada em fundamentos técnicos que favorecessem a efetiva instalação de indústrias naquele endereço. O problema maior da gestão Carlos Grana é a reforma legislativa que dará maior flexibilidade à ocupação do solo na Avenida dos Estados. Faltam estudos de viabilidade econômica como chamariz a determinadas atividades produtivas.
Talvez o Eixo Avenida dos Estados venha a ser vendido como uma oportunidade de ouro. Aos interessados diria que o melhor é tomar muito cuidado. As aparências não enganam apenas no mundo da moda, da política e de tantos outros mundos. O que parece ouro não reluz na prática. O Eixo Avenida dos Estados perdeu a corrida ao pote de ouro da industrialização. As armadilhas que dão um nó na mobilidade urbana da região, especificamente de Santo André, estão fartamente em todos os pontos. Inclusive lá.
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