Saiu mais um balanço mensal do Ministério do Trabalho e Emprego, mas a mídia regional não se deu conta de que estamos vivendo um dos piores momentos econômicos dos últimos anos. O nosso modelo industrial, sustentado por um setor automotivo em xeque, duramente contaminado pelo peso trabalhista, entre outras variáveis, emite novos sinais de esgotamento. Perdemos nesta temporada de 2014 nada menos que 3,78% do estoque de emprego com carteira assinada na indústria de transformação, enquanto o Brasil, apesar dos pesares, registra rota oposta, de crescimento de 0,39%.
Nossa mídia prefere abrir manchetes de saldos raquíticos sustentados por atividades que dependem de riquezas criadas pela indústria. Empregos de segunda linha, por assim dizer. Tanto o comércio como os serviços da Província não contam com valor agregado, que vem a ser capacidade de enraizamento de riqueza nas relações de negócios e consumo.
Somos o quinto potencial de consumo do País, quando se desconsideram outros territórios conurbados, mas já fomos o terceiro. Esse indicador é enganoso. Estamos inseridos numa região metropolitana, coladíssimos à maior Capital do País. Grande parte dos trabalhadores da Província ganha o pão fora daqui. O monotrilho, como o Rodoanel, vai acentuar a debandada natural porque as opções locais de desenvolvimento econômico são cada vez mais modestas.
A mídia impressa e digital da Província do Grande ABC é uma mistureba de emburrecimento da agenda e de dependência político-administrativa que tolhe a autonomia com que deveria se dedicar às reformas econômicas de que tanto prescindimos. A situação de crise em que vive o País, sobretudo no setor industrial, é profundamente preocupante para a região. Temos incidência de produção e empregos industriais muito acima da média nacional. Passamos de 30% de dependência do PIB na área industrial, da mesma forma que no estoque de empregos.
Tempos complicados
Vamos conhecer mais constrangimentos nos próximos tempos sem que haja reposição de qualidade em outras atividades. Vamos repetir o passado de desindustrialização progressiva e mal-reparada. Essas dores virão como um parto programado. A diferença é que não contratamos especialistas para atenuar as consequências e até mesmo para preparar o berço a eventuais sobrecargas de complicações.
Estamos entregues a gerenciadores econômicos que não estão nem aí com o cheiro da brilhantina. Caso principalmente dos sindicalistas que, de fato, mandam e desmandam nos chãos de fábrica. Os empresários, sobretudo de pequeno porte, temem retaliações. São bovinamente conduzidos ao matadouro de uma competitividade da qual saem sempre chamuscados. No setor público, as secretarias de Desenvolvimento Econômico repetem roteiros já cansados de outras guerras: são baratas tontas subestimadas por organogramas que lhes conferem tanta importância quanto um gandula numa decisão de campeonato.
Há sempre um idiota de plantão para azucrinar minha vida, ao procurar particularizar as análises que produzo, bem como o desmascaramento de ladrões sociais. No fundo, eles são preguiçosos e interesseiros. Querem mesmo lançar dúvidas sobre minha sacrossanta atividade. Ante uma situação como a de crise mais que localizada, duramente enfatizada no território regional, uma crise de evidente excesso de mão de obra formalizada, sanguessugas se escondem como ratos.
Com os dados apresentados pelo Ministério do Trabalho, a Província do Grande ABC acumula 9.801 postos de trabalho a menos com carteira assinada na indústria de transformação em relação a dezembro do ano passado. Uma quebra de 3,78%, já que contávamos com 258.850 trabalhadores empregados ao final daquele ano. Já o balanço nacional é mais positivo: o País registrava estoque de 8.292.739 empregos industriais formais em dezembro do ano passado e nos primeiros oito meses desta temporada somou novos 28.159 postos. A Província está, portanto, na contramão da média nacional durante esse período específico.
Estado à parte
Não só a Província, é bom que se diga. O estoque de empregos formais no Estado de São Paulo, unidade da Federação que responde por um terço do PIB Industrial do País, foi reduzido em 9.349 postos nos primeiros oito meses deste ano. Um número levemente inferior ao registrado pela Província. Ou seja: se a Província do Grande ABC fosse um Estado à parte, os paulistas teriam saldo positivo neste ano.
A mesmice de abordagens dos jornais impressos e digitais da Província do Grande ABC é um convite ao desinteresse dos leitores. Abrir manchetes como se abriram manchetes hoje para destilar ao distinto público leitor uma mensagem de otimismo, já que se registou mísero saldo positivo de empregos formais em agosto, por conta de atividades de comércio e serviços, enquanto a indústria de transformação perdeu 1.100 vagas, é um desserviço à atividade de comunicação social. E também um salvo conduto aos gestores públicos da região que não pensam em outra coisa senão em eleições e em mesquinharias políticas e partidárias.
Cada espaço suplementar que os jornais da região conferem à classe política com noticiário rastaquera, provinciano, em detrimento de cobertura mais constante, aguda e progressivamente reformista na área econômica, mais os próprios jornais vão amargar o dia de amanhã. O descaso com o andar da carruagem da economia regional é suicida. Por isso os empresários que ocupam postos em entidades de classe não se sentem minimamente seguros em propor enfrentamentos que tenham do outro lado da disputa por espaço institucional tanto sindicalistas quanto gestores públicos inúteis.
O emprego industrial na Província do Grande ABC, que viveu período de ouro durante a febre consumista de veículos, após quase uma década de forte desindustrialização, muito provavelmente não voltará aos bons tempos. A crise está instalada, por mais que o governo federal coloque crédito facilitado à sociedade. A demanda não está mais reprimida como no período pós-crise do último trimestre de 2008. Agora a demanda está saturada, desconfiada, atolada em dívidas.
Sinto muito, mas a Província do Grande ABC vai passar maus bocados nos próximos tempos. Poderá perder muito do que recuperou durante o período de glória de Lula da Silva entre outros motivos porque o período de glória de Lula da Silva expressou os desejos mais íntimos de jogar o futuro para um amanhã que teima em não chegar. Acabou a febre automotiva nos termos conhecidos. A competição se tornará mais acirrada. O filão de ouro conta com cada vez mais concorrentes, e por conta disso e também do recuo da demanda, ganhará conteúdo de medalha de bronze no ranking de rentabilidade de negócios no País.
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