Economia

Empreendedorismo demais
não é mesmo bom negócio

DANIEL LIMA - 27/05/2003

Nem pouco demais que possa transparecer impotência, nem muito demais que possa sugerir exaustão. É assim que o bom senso recomenda o que poderia ser chamado de índice de empreendedorismo municipal.


 


Como mostramos na semana passada, São Caetano é recordista da Grande São Paulo, e provavelmente do País, em matéria de empreendedorismo. A contabilidade leva em conta dois vetores: a divisão do número dos negócios terciários pela população e também pelo acervo de imóveis residenciais.


 


Desconhece-se qualquer estudo para aferir o ponto de equilíbrio de empreendedorismo. Entretanto, contando com dados de fontes oficiais que a Target Marketing e Pesquisas levanta anualmente para a composição do Índice de Potencial de Consumo, é possível estabelecer alguns referenciais.


 


O desempenho exageradamente canibalesco de São Caetano, onde 19,42 empreendimentos comerciais ou de serviços para cada 100 residências saltam dos números da Target, ratifica o mapeamento da realidade prática. Uma volta por São Caetano, facilitada por exíguos 15 quilômetros quadrados, serve para conferir a abundância de micronegócios que dividem o potencial de consumo e dinamitam pela concorrência  extrema a escala de vendas, um dos pontos sagrados da sustentabilidade econômica.


 


O confronto entre São Caetano e Diadema pode facilitar o entendimento do quanto de negativo significa o excesso de empreendedorismo sem planejamento. Embora pelas projeções da Target São Caetano deverá ter este ano mais que o dobro do potencial de consumo per capita de Diadema (R$ 12,742 mil contra R$ 6,275 mil), o resultado final de distribuição dos valores, se todo esse potencial for gerado internamente em cada Município, seria favorável a Diadema. Vejam os dois exemplos:


 


 Com 140 mil habitantes, R$ 12,742 mil de potencial de consumo per capita e R$ 1,784 bilhão no conjunto da população, a cada um dos 8.544 negócios comerciais e de serviços de São Caetano caberia a cota igualitária de R$ 20.880 mil de faturamento.


 


 Com 357 mil habitantes, R$ 6,275 mil de potencial de consumo per capita e R$ 2.240.356 bilhões no conjunto da população, a cada um dos 6.624 negócios comerciais e de serviços de Diadema caberia a cota igualitária de R$ 33,816 mil de faturamento.


 


Vantagem de Diadema


 


É claro que essa teoria parte de pressuposto inverossímil de que todos os moradores de Diadema e de São Caetano consumiriam em suas respectivas fronteiras. Mas é altamente ilustrativa em pragmatismo explicativo. O que quero dizer é que é muito mais provável que os negócios comerciais e de serviços de Diadema sejam interessantes para os empreendedores do que em São Caetano. Simplesmente porque a taxa de concorrência é consideravelmente menos arriscada.


 


Nessas contas todas não estamos incluindo os negócios informais. Os dados que fazem parte do grande banco de informações da Target referem-se a estudos do IBGE e partem do cadastro oficial de pessoas jurídicas.


 


Não se trata, conforme se explica, de heresia alguma afirmar que Diadema é mais apropriada aos negócios comerciais e de serviços, principalmente de pequeno porte, massa dos empreendimentos, do que São Caetano. Não entram nessas considerações nem mesmo outros vetores, como o próprio custo do metro quadrado dos imóveis, muito maior na primeiromundista São Caetano.


 


Convém lembrar que os números da Target  relativos a São Caetano não estão influenciados de maneira deformadora pela guerra fiscal no setor de serviços que o prefeito Luiz Tortorello empreendeu há vários pares de anos para compensar parte dos recursos perdidos com a desindustrialização.


 


Muito mais guerreira que São Caetano -- aliás, inspiradora das ações de Tortorello --, Barueri do oásis chamado Alphaville detém taxa média de 10,7% de negócios do terciário para o universo de imóveis residenciais e 3,3 % em relação à população. Barueri de 208 mil habitantes (números de 2001), conta com 6.938 empreendimentos do terciário para um universo de 64.285 imóveis residenciais. São Caetano -- só para refrescar a memória -- tem 140 mil habitantes, 8.544 negócios do terciário e 43.992 imóveis residenciais. O território de 64 quilômetros quadrados de Barueri é quatro vezes maior que os 15 quilômetros quadrados de São Caetano. Dividir o número de empreendimentos por quilômetro quadrado tornaria a comparação ainda mais complicada para o Município da região, porque o corpo-a-corpo por consumidores é mais encarniçado. 


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