Os pequenos construtores de Santo André não querem ver o Clube dos Especuladores Imobiliários da Província do Grande ABC atuando em nome da classe na definição do plano da Prefeitura de Santo André expresso na Lei de Uso, Ocupação e Parcelamento do Solo (Luops). Eles acusam a entidade dirigida por Milton Bigucci de atuar à revelia da classe e em conluio com a Administração de Carlos Grana.
Protegidos pelo anonimato nas informações que prestam a esta revista digital, representantes dos pequenos negócios imobiliários (Associsa) afirmam que a intervenção do dirigente técnico da Acigabc (o nome oficial do Clube dos Especuladores Imobiliários) Milton Bigucci Júnior, e de outros representantes daquela entidade, é uma articulação preparada em conluio com a administração petista de Santo André e outras organizações para passar a ideia mais que estapafúrdia de que contam com suporte da classe.
Mais que isso: Milton Bigucci Júnior e outros dirigentes do Clube dos Especuladores Imobiliários estariam mancomunados com a Administração Municipal para aprovar medidas que estão fora do horizonte do movimento dos pequenos. As contrapartidas seriam vantagens reservadas pela Luops aos grandes investimentos. Seria uma associação entre a legitimação de uma farsa e a sacramentação de novos atentados contra a mobilidade urbana em Santo André.
Dirigentes dos pequenos construtores de Santo André chegam a afirmar que não existe dúvida quanto aos interesses submersos no intento anunciado pelo Clube dos Especuladores Imobiliários. “A família Bigucci, que comanda aquela associação, sabe que não conta com a credibilidade dos grandes empresários do setor e, principalmente, dos pequenos. Eles viram uma grande oportunidade para dar um golpe de Estado e se apresentar com legitimidade que não detêm de fato. Tudo em conluio com o secretário Paulo Piagentini, que se sente ameaçado por nós” – afirmou um dos representantes da Associsa.
Forças de resistência
Paulo Piagentini é o secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano de Santo André. Numa operação que os próprios petistas históricos de Santo André condenam, Paulo Piagentini, empresário do setor da construção civil, foi conduzido ao cargo de titular da secretaria. A iniciativa foi consorciada com o núcleo de grandes participantes do setor imobiliário da região como contrapartida dos centro-direitistas de Santo André ao apoio eleitoral na campanha que levou Carlos Grana à vitória contra o então prefeito e candidato à reeleição Aidan Ravin.
Desarticulados havia muito tempo e somente mobilizados a partir dos estragos que a Luops poderá provocar à classe, os pequenos construtores sabem que enfrentam forças de resistência na Prefeitura de Santo André. Eles começam a sentir o peso de lutar contra restrições espaciais que praticamente inviabilizariam empreendimentos voltados à classe média baixa potencialmente de interesse do programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal: “A diferença entre o que produzimos e o que o governo federal entrega às famílias é que, praticamente com o mesmo valor, oferecemos moradias de muito melhor qualidade” – afirma uma das lideranças dos pequenos construtores.
A nota distribuída pelo Clube dos Especuladores Imobiliários na última sexta-feira, dando conta de que, juntamente com o Clube dos Engenheiros, Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) e a unidade do Sinduscon (Sindicato da Construção) está mantendo reuniões com o secretário Paulo Piagentini para supostamente defender os interesses dos pequenos construtores causou revolta entre as lideranças do movimento. “Não existe a menor dúvida de que há um contraofensiva manipulada pelo Paço Municipal. Eles estão numa entidade que jamais fez nada pela classe dos pequenos. Querem mesmo é usurpar da nossa legitimidade nas ações e, igualmente, tentar passar a mensagem de que contam com o respaldo da categoria. Nada disso é verdade, tudo não passa de uma trama” – afirmou um dos dirigentes da Associsa.
Vitórias parciais
Os pequenos construtores já contabilizam vitórias parciais na mobilização contra a tentativa de a Administração Carlos Grana reduzir o número de unidades habitacionais por metro quadrado de terreno. Primeiro, a própria gestão petista colocou em campo bombeiros bem treinados para reduzir os estragos das labaredas de revolta que une os pequenos construtores. O secretário de Governo Thiago Nogueira foi um dos agentes mobilizados a baixar a temperatura de rebeldia. Segundo, o cronograma de definição da nova legislação sobre uso, ocupação e parcelamento do solo foi significativamente alterado. Não houvesse a reação, as medidas já teriam sido tomadas. Agora, possivelmente ficarão para um futuro não definido, embora sobrem interesses e pressões de grandes construtores para que tudo seja resolvido ainda neste ano.
A entrada em cena do Clube dos Especuladores Imobiliários e dos demais parceiros não autorizados pelos pequenos construtores é uma ameaça disfarçada de bom-mocismo, porque poderia entabular acordos que não atenderiam aos desejos do movimento que incomoda o Paço Municipal.
Gestões de bastidores não faltam em busca de alternativa conciliatória, mas os pequenos construtores não abrem mão da manutenção da legislação atual. Construir menos apartamentos por metro quadrado de terreno teria o mesmo sentido que dar braçadas na areia depois de vencer a força das águas. “Qualquer mexida que deem na ordem das coisas que estão vigorando tem o mesmo sentido de nos jogarem ladeira abaixo da competitividade. É algo como restringir determinada quantidade padrão de aço para produção de um veículo, acreditando que a medida não alterará em nada a realidade do mercado” – desabafa um dos líderes do movimento.
Pernas da esperteza
Os líderes do movimento que incomoda a Administração Carlos Grana não têm dúvidas de que a iniciativa divulgada pelo Clube dos Especuladores Imobiliários, repetidamente chamada de golpista e oportunista, não passa de uma tentativa de passar a perna da esperteza nos pequenos construtores. Amigos de longo tempo, Milton Bigucci, presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários, e Paulo Piagentini, secretário de Habitação que está no olho do furacão da Luops, teriam articulado a iniciativa com o aval do prefeito Carlos Grana.
A entrada em cena de Milton Bigucci Júnior e de outros dois dirigentes do Clube dos Especuladores Imobiliários – Nilson Aparecido Faria e Marcus Santaguita – foi a tática encontrada para combater a reação dos pequenos construtores. A expectativa é que se transmita a ideia de que a entidade dos Biguccis estaria vestindo a camisa dos pequenos. Nada mais conveniente para tentar dar nova dimensão ao Clube dos Especuladores Imobiliários. A entidade não conta sequer com representatividade dos grandes negócios do setor entre outros motivos porque o presidente Milton Bigucci manda e desmanda há mais de duas décadas. O Clube dos Especuladores Imobiliários transformou-se em quintal do conglomerado MBigucci, considerado o maior do setor na Província do Grande ABC.
Representantes dos pequenos construtores lembram que Clube dos Especuladores Imobiliários, Acisa, Sinduscon e Clube dos Engenheiros nem mesmo se utilizaram de disfarce em forma de solidariedade e apoio para se apropriarem da iniciativa contrária à alteração proposta no projeto da Luops: “Não contamos em nenhum momento, em nenhuma situação, com qualquer aproximação de um representante sequer dessas entidades. Eles são aliados do prefeito, fazem o jogo de interesses do Paço Municipal e agora surgem para manifestar preocupação com a sorte dos pequenos construtores. Tudo não passa de apropriação indevida da legitimidade formal e operacional que detemos” – afirmou um dos dirigentes.
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