Já tínhamos revelado em março deste ano que São Bernardo perdeu a velocidade na geração de novas famílias de classe média no período de 18 anos que começa em 1995 e termina em 2013. O que guardamos para o final do ano foi uma avaliação detalhada que mostra uma barbaridade de constatação: a capital econômica da Província do Grande ABC é a lanterninha do G-20, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo na produção de classe média. Os dados econômicos e sociais são pesquisados por esta revista digital em conjunto com a Consultoria IPC, especializada em potencial de consumo, para mostrar a realidade contextualizada de nossa região de quase três milhões de habitantes.
Tem o leitor a mínima ideia do que significa o último lugar na comparação ponta a ponta quando se coloca o percentual de participação de famílias de classe média tradicional, não essa classe média inventada pelo PT, em contraponto ao total de famílias do Município?
Uma liçãozinha bem simples para que se possa avaliar sem risco algum de interpretação enviesada o que se segue neste artigo parece importante expor. Que Município o leitor acredita ter mais vitalidade econômica entre um que de cada 10 famílias conta com seis de classe média e o outro que também de 10 famílias, conta com os mesmos seis de classe média? É claro que é quem conta com seis famílias de classe média tendo como base o maior ritmo de crescimento dessa grade social nos últimos anos. O resultado significa que a mobilidade social entre um e outro é diferenciada.
Em sétimo no ranking geral
Preparada essa lição simples, vamos aos números de São Bernardo. Em 1995, quando o Plano Real já bombava e a indústria regional começava a sofrer nova etapa de esvaziamento em favor principalmente de municípios do Interior do Estado, quando não em direção a outras regiões brasileiras, São Bernardo liderava o ranking do G-20 com 36,4% de famílias de classe média tradicional em relação ao total de domicílios. Dezoito anos depois São Bernardo cresceu apenas 23,35% e passou a contar com 44,9% de classes médias. Com isso, caiu para o sétimo lugar na classificação geral. Nenhum outro Município do G-20 acumulou resultado tão sofrível. Ou seja: os 23,35% de crescimento de domicílios de classe média tradicional em São Bernardo durante quase duas décadas é o pior desempenho entre os integrantes do G-20. Quem mais se aproximou de São Bernardo no período foi São Caetano, com crescimento de 37,46% das famílias de classe média convencional no conjunto da população.
Deixar o primeiro lugar e cair para o sétimo na classificação geral de participação da classe média tradicional no G-20 por conta da lanterninha no crescimento do potencial de consumo no período de 18 anos é um desastre em qualquer circunstância.
Levada a situação ao campo esportivo, significaria que um time campeão deixou de vez o G-4 classificatório à Libertadores da América e começa a se preocupar com a segunda página da tabela classificatória. São Bernardo perdeu a vitalidade na geração de famílias de classe média tradicional porque, entre outras questões que deveriam motivar reação coordenada principalmente da Administração Pública, não soube reagir às nuances macroeconômicas nacionais e internacionais. O enfraquecimento econômico de São Bernardo é latente e muito mais acentuado que nos demais municípios da Província.
A queda vertiginosa de São Bernardo no ranking econômico de CapitalSocial é referenciada pelo índice de potencial de consumo da Consultoria IPC Marketing. Ou seja, não é algo que deva ter qualquer manipulação amenizadora.
Os dados de potencial de consumo dessa empresa do especialista Marcos Pazzini reúne o que é mais confiável e contundente quando se pretende medir a capacidade econômica dos moradores de determinado Município, região, Estado e do próprio País.
Potencial de Consumo é essencialmente mais confiável que a medição do PIB (Produto Interno Bruto). O que mais antepõe uma medida à outra é que potencial de consumo é a soma de ativos financeiros de cada morador de um determinado Município, independentemente do local em que atua ou não profissionalmente. Já PIB é o resultado da produção de serviços e manufaturas não necessariamente interiorizada no Município-sede das empresas.
Riqueza mais consolidada
Para efeito de aferição do comportamento do potencial de consumo dos 20 principais municípios do Estado de São Paulo pouco importa saber aonde os moradores efetivam compras, mas o quanto reúnem de recursos financeiros para efetivá-las. Potencial de consumo é riqueza acumulada. Se São Bernardo caiu para o sétimo lugar na classificação geral em 18 anos, isso tem um valor depreciativo imenso. O Município vai perdendo o impulso que o transformou no endereço econômico mais poderoso entre os paulistas, depois da Capital.
Para se ter uma ideia mais precisa do quanto São Bernardo se viu ultrapassada no ranking do G-20 de potencial de consumo, talvez uma comparação com Campinas seja elucidativa. O Município do Interior do Estado contava com 31,7% de famílias de classe média tradicional em 1995, contra 36,4% de São Bernardo. Em 2013, extremo da pesquisa, Campinas registrou crescimento de 43,53% no período e alcançou o total de 45,5% de famílias de classe média, contra 44,9% de São Bernardo, que cresceu apenas 23,35%. Uma diferença de pouco menos de um ponto percentual agora favorece Campinas na comparação. Parece pouco, mas considerando-se que Campinas saiu em desvantagem de 4,7 pontos percentuais em 1995, o contraste é evidente. Mais que o contraste em si, mas a mensagem de que os dois municípios trilham caminhos divergentes.
Quem pretender um exemplo mais radical do quanto São Bernardo sofreu percalços desde a implantação do Plano Real pode pegar Sumaré, na região de Campinas, sede da fábrica da Honda e de autopeças que abastecem a montadora. Em 1995, Sumaré contava com apenas 17,6% de famílias de classe média convencional quando confrontada com as demais grades sociais. Só não ocupava a lanterninha porque Barueri estava ainda pior, com 17,2%. Já em 2013, Sumaré passou a contar com 39,1% de famílias de classe média.
Sumaré superará São Bernardo?
Nesse ritmo, Sumaré ultrapassará São Bernardo em pouco tempo. Afinal, o crescimento de 21,5 pontos percentuais em 18 anos garantiu a média anual de avanço de 1,194 ponto percentual. Como São Bernardo só avançou 8,5 pontos percentuais (de 36,4% para 44,9%) no período, com média de 0,472 pontos percentuais por ano, a diferença anual de ritmo de crescimento favorável a Sumaré é de 0,722 ponto percentual. Basta dividir 5,8 pontos percentuais (que é a diferença favorável a São Bernardo no índice de potencial de consumo em 2013 entre os classes médias) pelo saldo anual de ritmo de crescimento (0,772) para se chegar ao limite máximo de oito anos à superação do Município da região em produção de famílias de classe média tradicional pela representação interiorana.
Se São Bernardo perde feio no ranking de participação relativa no potencial de consumo de classe média tradicional ante os demais integrantes do G-20 quando se disponibilizam os dados de 18 anos iniciados em 1995, no campeonato de valores monetários a situação é apenas um pouco menos constrangedora. Entre os 20 participantes, São Bernardo ocupa a 17ª posição ao se levar em conta quanto as famílias de classe média convencional acrescentaram em recursos financeiros no período, desconsiderando-se a inflação. Foram 433,57%.
Em 1995 o potencial de consumo da classe média tradicional de São Bernardo era de R$ 1.981,905 bilhão. Dezoito anos depois passou a R$ 10.573,157 bilhões. Na comparação com Sumaré, a diferença entre os dois municípios na largada da pesquisa, em 1995, era 11,24 vezes favorável a São Bernardo (Sumaré contava com potencial de consumo na classe média de R$ 176,186 milhões). Na ponta da pesquisa, a distância foi reduzida a 4,69 vezes, ou seja, a praticamente um terço.
Agora, números absolutos
Para finalizar, quando se colhem os números absolutos de moradias de classe média de São Bernardo e se estabelece confronto com o total desse estrato social do conjunto dos 20 municípios analisados por CapitalSocial, a queda de participação relativa também é danosa ao Município da região. Em 1995 São Bernardo contava com 59.132 residências de classe média de um total de 592.041 do G-20. Ou seja, participação relativa de 9,99%.
Dezoito anos depois São Bernardo caiu para 8,19%, ou quase dois pontos percentuais, porque às 119.061 famílias de classe média o G-20 contrapôs 1.453.624. No período, portanto, enquanto São Bernardo aumentava em 101,34% o total de moradias de classe média tradicional, o G-20 alcançava crescimento de 145,52%. Traduzindo: a velocidade dos números absolutos de São Bernardo é muito inferior à soma dos demais municípios do agrupamento.
Quando se considera que o próprio G-20 cresceu bem abaixo da média brasileira na produção de classes médias, percebe-se claramente que a situação de São Bernardo é mais inquietante do que parece. O acréscimo de 59.929 moradias de classe média tradicional em 18 anos significa que São Bernardo gera pouco mais de 3,3 mil novos agrupamentos familiares desse estrato econômico por ano. Por isso é o pior índice do G-20.
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