Os dados são oficiais da Associação Brasileira de Franchising, mas foram metabolizados por CapitalSocial. Há quem dê interpretação triunfalista quando se trata da Província do Grande ABC. Mas a situação da região no ranking dos 10 endereços mais utilizados por franqueados não é das melhores: somados, os sete municípios da região só superam Guarulhos quando se estabelece ranking no qual se confrontam o total de população e o número de lojas instaladas. Há uma loja de franquia para cada 20.570 moradores da região. Só superamos Guarulhos, a última colocada, que conta com 30.356 moradores para cada lojista.
Por que será que apenas 1.302 lojistas franqueados estão instalados principalmente nos shoppings da região, ante população de 2.678.230 estimada para o ano passado, ponta da pesquisa da ABF? Estaria o mercado de consumo da Província subestimado ou mais próximo à realidade de bons negócios? Na vizinha Capital de 11.821.876 habitantes, estão disponíveis 11.824 lojas franqueadas, o que dá a média de uma unidade para 9.998 moradores. Uma marca coincidentemente igual à de Campinas, onde 1.144.852 habitantes contam com 1.145 franqueados das mais diferentes marcas e produtos.
Melhor que São Paulo e Campinas, mas detentor de dimensões demográficas bem inferiores, Barueri é líder destacado do ranking que opõe número de habitantes e lojistas franqueados. São 7.356 moradores para cada uma das 353 lojas desse Município de 260 mil habitantes colado à Capital mas geograficamente no extremo oposto da Província do Grande ABC.
Um pouco abaixo de São Paulo e de Campinas aparece São José do Rio Preto, com população de 434.039 moradores e 367 lojistas, média de 11.826 moradores por loja. Um pouco melhor que os 13.532 moradores de Ribeirão Preto, resultado de 649.556 moradores divididos por 480 lojistas franqueados.
São José dos Campos aparece em seguida no ranking dos 10 melhores endereços para franquias no Estado de São Paulo, com média de 15.163 moradores para cada uma das 444 lojas. São José dos Campos conta com 673.255 moradores. Sorocaba segue no ranking com 15.930 habitantes para cada uma das 395 lojas de franquia. Osasco tem números semelhantes aos da Província do Grande ABC, com média de 19.649 moradores para cada uma das 353 lojas.
Perda de consumidores
O que existe em comum para justificar a diferença abissal entre população e lojistas franqueados quando se observam os dados da Província do Grande ABC, de Guarulhos, última colocada do ranking da Associação Brasileira de Franchising, e também de Osasco?
Alias, esse não é o ranking da ABF, mas sim de CapitalSocial. Decidimos dar enquadramento classificatório de acordo com a realidade demográfica de cada município ou região. Os números absolutos utilizados no ranking convencional não avançam no terreno do bom senso. Quem conta com maior número absoluto de lojistas franqueados não necessariamente é o Município ou a região mais compensadora aos negócios. Mais, como mostramos no caso da Província do Grande ABC, significa menos.
A explicação quanto aos números mais sustentáveis de São Paulo, Campinas, São José dos Campos, São José do Rio Preto, Sorocaba, Campinas e Ribeirão Preto após a aplicação da metodologia que envolve população versus lojistas é que todos esses municípios são espécies de centros de regiões metropolitanas oficiais ou de fato. Há atratividade natural dos consumidores do entorno desses municípios que dão maior dinamismo, principalmente aos centros planejados de compras, espaços preferenciais das grandes redes de franquia. Ou seja: além do confronto entre total de população e lojistas franqueados favorecer esses municípios, também há um mercado intangível ao redor e, comprovadamente, convergente ao consumo nesses centros geográficos.
Os números médios de moradores da Província do Grande ABC, de Guarulhos e de Osasco em relação aos lojistas franqueados não são semelhantes por simples coincidência. A influência consumidora da Capital exerce pressão sobre os níveis de comércio e serviços dessas localidades. A evasão de consumidores já foi maior no passado, principalmente na Província do Grande ABC, mas ainda é resistente.
Mudança nos anos 1990
Somente a partir dos anos 1990, em contraste com a desindustrialização redutora do potencial de consumo regional, a Província foi descoberta para valer por investidores em shoppings centers, principalmente. A evasão de consumidores foi atenuada. Embora faltem estudos, a sangria não mais desatada continua. Entre outros motivos porque 20% dos habitantes economicamente ativos atuam profissionalmente na Capital.
Por isso o ranking estadual da Associação Brasileira de Franchising que leva em conta apenas o universo de lojistas sem considerar o contexto demográfico e de centralidade econômica não deve ser levado a ferro e fogo como palavra final do poderio de negócios.
A Província do Grande ABC existe de fato no consumo de produtos e serviços, por mais que seja em maior parte municipalista. Quando se somam os lojistas franqueados dos sete municípios, dá-se tratamento usual à realidade dos fatos. Mas quando se ignora que Campinas, Sorocaba, São José dos Campos, Ribeirão Preto e São José dos Campos são centros econômicos das respectivas regiões em que estão inseridos na geoeconomia regional, estabelecem-se dois pesos e duas medidas que o contrabalanço do confronto com o total de moradores de cada Município trata de corrigir.
Mas se for ainda mais aprofundado em detalhismos que ajudem a fazer a diferença, o ranking de franquias da ABF por Município (a regionalização é ignorada pela entidade, mas utilizada pelos veículos de comunicação da região, como o fez o Diário do Grande ABC na edição de domingo) as contas devem ser outras.
Outra metodologia
Talvez o mais apropriado fosse confrontar o total de lojistas franqueados com o potencial de consumo de cada Município. Potencial de consumo é uma especialidade da Consultoria IPC que há anos se debruça sobre dados oficiais de vários ministérios do governo federal. É uma espécie de PIB de consumo que vale mais para os estudiosos do que o próprio PIB. Vale mais que o PIB conhecido porque mede o quanto cada Município conta de recursos anuais para gastar nas mais diferentes atividades. Desde educação, transporte, saúde, bens duráveis e não duráveis, entre tantos outros.
Deixaremos para fazer esse exercício em outra oportunidade, mas há uma quase certeza de que não haverá diferenças profundas entre os números aferidos agora por CapitalSocial e que leva em conta o resultado da divisão envolvendo número de moradores e total de lojistas em cada Município.
Persiste uma lógica entre os empreendedores privados que o ranking da ABF parece seguir fielmente: há um limite de fôlego que separa um negócio rentável de um negócio que pode dar com os burros nágua quando se deixa de levar em conta a probabilidade de contar com uma determinada quantidade de consumidores em potencial por loja em funcionamento, sobretudo nos shoppings.
Crescimento embute riscos
O fato de a Província do Grande ABC contar com o dobro de consumidores em potencial para cada lojista franqueado quando se colocam em confronto os números locais com os de Capital e de Campinas pode sugerir que há espaço para avanço do mercado desse tipo de negócio na região, como alguns já prognosticaram no passado. Nada mais falso, entretanto.
Além da condição de satélite da Capital tão próxima, há condicionantes do potencial de consumo que não podem ser ignorados, entre tantos outros vetores. O número de franquias aumentou consideravelmente entre 2012 e 2013 na Província do Grande ABC, conforme registrou o Diário do Grande ABC de domingo. Foram 25,92% a mais de novos negócios, passando de 1.034 unidades para 1.302.
Foram os novos shoppings que chegaram. E são os shoppings que chegaram que não estão oferecendo os melhores resultados aos franqueados. Atrium Shopping em Santo André, Golden Square e São Bernardo Plaza, em São Bernardo, e Parkshopping em São Caetano não são exatamente os endereços mais interessantes quando se leva em conta capital investido e retorno financeiro. A ponderação de que estão em fase de maturação vale para um ou outro, mas o Golden Square e o Atrium não parecem prontos para sair do atoleiro de uma expectativa de sucesso longe de se confirmar.
Desconsiderando-se os números absolutos de lojistas por Município como aferidor razoavelmente respeitável à medição do sucesso de negócios numa determina área geográfica, passando pelo caminho menos acidentado da média por habitante de cada loja instalada e chegando-se ao terceiro patamar de análise mais cuidadosa dos negócios de franquia quando o assunto for apresentar um ranking mais próximo possível da realidade com base no potencial de consumo geral de cada localidade, talvez exista uma fórmula inquestionável mas longe da bisbilhotagem. Não só exista como deve ser o principal referencial à análise dos empreendedores porque se aproxima da avaliação ideal para desembrulhar o pacote de complicações metodológicas que afere quanto em média cada município oferece de respostas em termos de lucratividade geral ao negócio de franquias.
É provável que essa investigação financeira seja comum entre os empreendedores a ponto de explicar as razões de a Província do Grande ABC estar na penúltima posição entre os 10 endereços mais requisitados do Estado. Tudo a bordo da quebra de velocidade de crescimento da classe média tradicional -- seriamente abatida quando contraposta a outras áreas brasileiras -- pela desindustrialização nos anos 1990.
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