Quer saber mesmo o que vem por aí? Prepare-se porque vem chumbo grosso. Bem mais grosso que o esperado à média nacional. Somos uma região encalacradíssima na economia dependente demais do setor automotivo e, apesar de papagaiadas em geral, ainda muito longe de uma alternativa saudável mesmo que em médio prazo.
Vamos completar três anos seguidos de queda do PIB (Produto Interno Bruto) quando os números municipais do ano passado e deste ano forem revelados. A diferença é que os dados deste ano serão ainda mais tenebrosos.
Por isso, acautelem-se. Os artificializadores de uma Província maravilhosa estão de plantão. Foi-se o tempo em que o Diário do Grande ABC, nos anos 1990, era o precursor da Província Cor de Rosa. Agora conta com a concorrência do ABCD Maior, jornal impresso e virtual mantido pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Nada mais irônico. Os metalúrgicos sempre se pautaram pelo inconformismo raivoso, muitas vezes com razão, outras vezes com excessos. Era um inconformismo raivoso de cabresto. Agora, com o PT no governo federal, a biruta virou para um conformismo de conveniência cromática.
Não é sobre a linha editorial do ABCD Maior que pretendo escrever hoje de forma detalhada. Vou deixar para outro dia. Prefiro citar três exemplos mais que quentíssimos publicados nos jornais locais sem o devido encaixe de preocupação para realçar a inquietação com a economia regional: nosso varejo está uma draga, o mercado imobiliário desandou de vez e a Prefeitura de Santo André descobriu que terá R$ 100 milhões a menos no caixa ao final desta temporada e que, portanto, vai deixar muitos fornecedores e servidores de orelha em pé.
Podem sem piores?
Sobre o mercado imobiliário, o Diário do Grande ABC deu bem escondido, na metade inferior da página de economia, que o terceiro trimestre registrou queda de 31,9% na venda de imóveis novos. É o pior resultado desde 2007. Apesar de os dados serem suspeitos, porque produzidos pelo Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC, só o fato de se registrarem números negativos já deve causar inquietação. Quando os Especuladores admitem perdas, provavelmente as perdas são ainda maiores.
Prometo que trocarei a denominação Clube dos Especuladores Imobiliários por Clube dos Construtores e Incorporadores (Acigabc é demais para minha pureza jornalística, porque parece tudo, menos uma marca) quando a entidade tratar com transparência os supostos estudos que realiza. Enquanto isso não acontece fio-me na percepção de que, desta vez, não se procurou um caminho adverso da realidade dos fatos. A queda no trimestre reflete o desastre na temporada.
O jornal ABCD Maior informa com base nas declarações do representante do Clube dos Especuladores que, enquanto a Capital perdeu 43% na venda de imóveis novos neste ano, a Província sofreu queda de apenas 21,6%. Não existe nexo, mais uma vez. É questão metodológica a separar de forma tão contrastante os dois territórios. O inverso seria mais verdadeiro. O potencial de consumo da Capital é imensamente maior.
Escondendo o rombo
Pior que a hecatombe do mercado imobiliário que só está começando foi o tratamento do ABCD Maior à notícia que o Diário do Grande ABC, mesmo minimizando editorialmente, não sonegou aos leitores. A manchete do ABC Maior (“Região tem 38% dos imóveis vendidos na Grande S. Paulo”) e o texto todo centrado no gataborralheirismo de comparar a participação relativa da Província na Região Metropolitana de São Paulo (dados inconfiáveis), deixando-se apenas para as últimas linhas e em forma de registro que as construtoras locais venderam menos unidades neste ano são uma operação desmoralizadora. Até porque, os 38% anunciados excluem as vendas na Capital.
Já sobre o mercado varejista, apenas o Diário do Grande ABC apontou uma situação que perdura e deverá ser ainda mais dramática no futuro. “Comércio da região tem queda de 12,8%” é o título da matéria editada igualmente com discrição, na metade de baixo de página de economia. Notícia ruim se esconde.
Notícia boa, desde que não seja de adversários, se valoriza. Diz a matéria do Diário do Grande ABC que as vendas do comércio varejista apresentaram queda de 12,8% em comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados são da Pesquisa Conjuntural de Comércio Varejista apresentada pela FecomercioSP (Federação do Comércio de Bene e Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).
Perder 12,8% sem estabelecer confrontos com outros territórios não quer dizer nada, mas os estudos da Fecomercio não se limitam a determinada geografia. Ocupa-se do Estado de São Paulo como um todo. E aí se estabelecem comparações inquietantes para a região. No Estado, a queda do comércio varejista registrou 2,4%. Praticamente um terço dos 7,6% em igual período na Província do Grande ABC. Quem tem dúvidas sobre os estragos da retração econômica regional a reboque das montadoras de veículos e das autopeças em contração vive em outra estratosfera.
Efeitos da desindustrialização
Para completar a tríplice coroa de espinhos econômicos, hoje nas páginas do Diário do Grande ABC o secretário de Orçamento e Planejamento Participativo de Santo André, Alberto Alves de Souza, anunciou que a Prefeitura terá déficit acima de R$ 100 milhões quando esta temporada se encerrar oficialmente. Sabe-se que o prefeito Carlos Grana, líder do Observatório de Promessas e Lorotas desta revista digital, está desconsolado. Não deveria. Nem ele nem assessores. A econômica nacional vem reiterando fragilidades nos últimos anos de gestão Dilma Rousseff e as dores da desindustrialização da região acabariam mesmo por emergir.
O mais interessante da matéria (e aí me perdoem os leitores, mas chego a ter orgasmo porque fui execrado ao longo dos anos por apontar e comprovar a situação de decadência econômica regional) é que o secretário lamenta a desindustrialização como núcleo do descasamento entre receita projetada e receita arrecadada. “Com a saída das empresas, Santo André vem perdendo receita progressivamente” – disse Alberto Alves de Souza.
Fechem as cortinas, por favor. Mais uma pá de cal ajuda a soterrar os vendedores de ilusão.
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