Acabaram de sair do forno do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) os dados mais atualizados sobre o comportamento do PIB (Produto Interno Bruto) dos Municípios. Como era esperado, a Província do Grande ABC perdeu feio a disputa por competitividade em 2012, ano a que se refere o trabalho. Com a majestosa liderança de São Bernardo, que responde por 40% do PIB regional, encerramos aquela temporada com perda de 5,8%. Traduzindo: nosso PIB encolheu em proporções gigantescas.
São Bernardo sozinha contribuiu com 11,11% da derrocada. Dos grandes municípios da região apenas São Caetano cresceu acima da inflação daquele ano. Vivemos em 2012 uma hecatombe econômica. Que se repetiu em 2013 e 2014, cujos números só serão divulgados com atraso de duas temporadas.
Ainda vou escrever muitas matérias sobre o PIB da Província do Grande ABC em
Existe na região uma confraria dedicada à mistificação. O Assalta Grande ABC se sente constrangido quando o PIB regional desnuda nossas fraquezas. Mas a turma do Festeja Grande ABC é assanhadíssima. Mente por natureza e por safadeza porque conta com suposta incapacidade cognitiva do Omita Grande ABC e com a parceria do Dissimula Grande ABC.
Não pensem os leitores que me dedico à repetição desses agrupamentos que representam a sociedade regional porque sofro de amnésia. A repetição é proposital justamente aos que sofrem de amnésia seletiva.
Perdas retomadas
A dura realidade é que retomamos para valer uma possivelmente longa caminhada de decadência econômica. Durante os anos de ouro de consumismo do presidente Lula da Silva, a bordo da indústria automotiva, a Província ganhou anabolizantes que, conforme provam os dados de 2012, se mostraram nocivos às demandas por reestruturação econômica. A produção de veículos em proporção muito acima do crescimento geral do PIB industrializou a ideia de que fazia parte do passado a emperrada engrenagem de esvaziamento econômico da região. Substituíram o estrutural pelo circunstancial e, com isso, se aprofundaram os problemas locais.
Por não dispor de todos os dados necessários para construir análises mais detalhadas sobre o PIB de 2012 dos municípios brasileiros, o melhor mesmo é concentrar as baterias nos municípios da Província do Grande ABC, sobretudo nos números disponíveis. A perda de 11,11% do PIB de São Bernardo entre 2011 e 2012 é assombrosa. Mereceria um mês inteiro de debates, mas foi escamoteada pela mídia.
A perda de São Bernardo está muito acima do previsto. Até porque São Caetano, também dependente demais do setor automotivo, com a planta da General Motor, cresceu em termos nominais (sem considerar a inflação) 7,30%. Quando se desconta o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 5,84% em 2012, São Caetano sustenta saldo.
A produção automotiva de 2012 não foi um desastre à altura da quebra da dinâmica de produção de bens e serviços de São Bernardo. É verdade que as vendas recordes de automóveis e comerciais leves, apoiadas no desconto no Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) não sustentaram o crescimento da produção de veículos no Brasil naquele ano. Por causa das dificuldades do setor de caminhões e ônibus, e das exportações, o ano fechou com 3.342.617 veículos produzidos, um volume 1,9% inferior ao registrado em 2011.
Provavelmente a melhor explicação para a queda acentuada de São Bernardo seja a baixa da produção de caminhões e ônibus. A queda verde-amarela no segmento de caminhões, segundo os dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) alcançou 40,5% sobre o ano anterior. Foram produzidas apenas 132.820 unidades, ante 223.388. No caso dos ônibus, a produção foi 25,4% menor, caindo de 49.373 para 36.844 entre 2011 e 2012.
Ranking artificializador
A constatação de que a Província do Grande ABC não conseguiu acompanhou os pífios números do PIB do Brasil em 2012 é um ponto a mais à inflexão de inquietação com os rumos da economia dos sete municípios que, insistem ou triunfalistas, ocupariam a quarta posição no ranking nacional, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Esse ranking geoeconômico precisa ser relativizado. Há outros municípios brasileiros, sobretudo capitais, que poderiam incorporar números da vizinhança metropolitana. Grande Porto Alegre, Grande Salvador, Grande Recife e tantas outras áreas assemelhadas ultrapassam os números da Província do Grande ABC.
Em 2012 o PIB brasileiro cresceu apenas 0,9%. Seria ótimo se a Província fosse um espelho nacional, mesmo que a imagem decorrente disso seja pálida. Por conta de dificuldades de acesso aos números de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, vou deixar uma série de considerações para depois. De imediato, o PIB Geral da Província do Grande ABC teria alcançado R$ 87, 0994,00 bilhões. A queda de 5,84% em relação à temporada anterior se deve ao fato de que os R$ 87.294,38 bilhões de 2011 subiriam para R$ 92, 395,54 bilhões se fossem aplicados os 5,84% do IPCA.
Ou seja: para que o PIB de 2011 se repetisse sem prejuízo em 2012, com correção inflacionária, a Província do Grande ABC deveria registrar R$ 92.395,54 bilhões. Em termos líquidos, perdemos de um ano para outro nada menos que R$ 5.098,16 bilhões, que é a diferença entre o PIB de 2011 atualizado pelo IPCA e o que registramos em 2012. Mais de R$ 5 bilhões significam pouco menos que o PIB de Mauá de 2012, que alcançou R$ 7.863,726 bilhões.
Qualquer leitura sobre o comportamento do PIB da Província do Grande ABC em 2012 que deixe de considerar os resultados como espécie de atentado ao desenvolvimento econômico regional deveria ser incluída num manual de irresponsabilidade social.
Clube dos Prefeitos
Fosse o Clube dos Prefeitos algo minimamente sério em termos de enquadramento dos perigos que continuam a rondar o ambiente econômico e social da região, o anúncio do PIB pelo IBGE deveria ter provocado uma reunião extraordinária para os próximos dias com especialistas que não apareçam para fazer média com o gataborralheirismo regional. O Clube dos Prefeitos jamais programou um único encontro fora das quatro paredes que o enclausuram para debater os rumos da economia regional de forma séria e cáustica.
Como o tempo haverá de confirmar novos estragos já consolidados em 2013 e 2014, porque o governo Dilma Rousseff piorou a cada temporada, reveste-se de insanidade geral das instituições o estado de dormência, quanto não se mistificação, do quadro atual.
Já assisti a esse filme nos anos 1990 à frente da revista LivreMercado. Denunciei todos os malfeitores que se especializaram em mentir para a sociedade porque entendiam que precisavam proteger seus interesses e acreditavam que manipular dados seria uma forma de assegurar um título de benemérito regional, porque suposto pessimismo não teria vez.
Sofremos nova avalanche de revezes que neste novo século serão ainda mais constrangedores à dinâmica social comprovadamente manquitola. A desindustrialização maciça dos anos 1990 ganhou novas vestes -- mais discreta mas igualmente insidiosa nestes anos 2000. Não haverá como perdoar os fracassados mandachuvas e mandachuvinhas da região porque aprofundamos nossas fraquezas durante um período de fertilidade política, com a agremiação partidária parida das linhas de montagem de greves sindicais na região elevada ao governo federal.
Os sinais emitidos pelas montadoras de veículos locais são mais que elucidativos. Há inchaços nas linhas de produção. Sobram trabalhadores e falta produtividade. Privilégios em relação a outros territórios que receberam plantas automotivas nos condenam a cirurgias bariátricas ou a terapias menos radicais mas igualmente contencionistas de custos.
Bandinhas mequetrefes
Os números de 2012 (e também de 2011, quando o PIB da Província caiu 0,47% em relação a 2010) desmontam a engrenagem de marketing vazio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo sobre a criação e o desenvolvimento de APLs (Arranjos Produtivos Locais), um exagero nominativo. Anunciada aproximação de empreendedores de uma dezena de atividades econômicas não guarda relação alguma de complementaridade operacional e estratégica.
APLs, os antigos Clusters, são uma espécie de orquestra sinfônica quando na plenitude de funcionamento. O que temos
Transformar concorrentes em parceiros de negócios é uma tarefa árdua que não se realiza da boca para fora num e noutro encontro no Paço Municipal. Sem politica efetiva em que o ganha-ganha seja a força-motriz, tudo não passará de encenação. A Província do Grande ABC exercita como nenhuma outra área uma combinação de malandragem semântica e safadeza ideológica. A cobertura média de nossa mídia é decepcionante. Prende-se ao varejismo de legislativos e executivos locais que vivem da penúria intelectual. Talvez jamais em toda a história regional merecemos tanto o carimbo de Província.
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