Está mais que explicada a razão nuclear de São Bernardo ter desabado 11% no PIB Geral dos Municípios em 2012, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), conforme os dados mais atualizados, quando o PIB do Brasil cresceu 1,0%. A estrutura base do desastre consumado é a indústria de transformação da Capital Econômica da Província do Grande ABC. A perda entre 2011 e 2012 foi de 23,34%. Um resultado que contaminou duramente o PIB Geral da região, que caiu 5,61%. Um drama desdenhado pela mídia regional que prefere dar cobertura ao ridículo dia a dia dos legislativos locais que nada produzem. Imaginem se o PIB do Brasil caísse tanto de um ano para outro se, subindo tão pouco ou quase nada, causa um alvoroço internacional.
Nenhum dos integrantes do G-20, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, exceto a Capital, contabilizou números tão medonhos tanto no PIB Industrial quanto no PIB Geral. Não à toa o prefeito Luiz Marinho, num gesto surpreendente, quer aumentar em várias áreas a alíquota do ISS (Imposto Sobre Serviços) em até 300%, passando de 2% para 5%. Marinho optou pelo receituário ortodoxo que tanto criticou como sindicalista durante o governo Fernando Henrique Cardoso, ou seja, de que a carga tributária é excessiva no País.
Por causa do estrondo de São Bernardo, o PIB Industrial da Província do Grande ABC registrou perda de 15.82% em 2012, quando comparado a 2011. Essa contabilidade envolve os sete municípios locais. Os 23,34% perdidos por São Bernardo equivalem à produção industrial conjunta de Mauá e de Ribeirão Pires em 2012. Uma hecatombe quando se sabe que entre os 20 municípios mais industrializados do Estado, os cinco representantes da região no G-20 apresentam média mais elevada de participação relativa do PIB Industrial no conjunto do PIB Geral, que abarca também os setores de serviços públicos e privados e a agricultura.
Pelo menos uma indagação salta à indignação de quem está cansado de ouvir promessas e lorotas sobre a reação econômica não só de São Bernardo mas da Província do Grande ABC, região cada vez menos importante no contexto estadual e nacional: até quando os dirigentes políticos, econômicos e sindicais bons de papo vão colocar a mão na massa para destrinchar uma derrocada que o consumismo do setor automobilístico escondeu durante boa parte do governo Lula da Silva?
Perder praticamente um quarto da produção industrial numa única temporada não é um acidente de percurso de São Bernardo, por mais que tenha havido baixa significativa em veículos pesados, como ônibus e caminhões. A cidade berço do sindicalismo que fez emergir o metalúrgico Lula da Silva é o retrato mais fiel e grave da atividade que ainda comanda a economia regional: a indústria automotiva.
A Província do Grande ABC está perdendo a competência de suportar as pressões de outros polos automotivos porque o Custo ABC na forma de mobilidade urbana caótica, salários e conquistas trabalhistas muito acima da média nacional e custos indiretos de produção formam coquetel de improdutividades quando entra em campo a rentabilidade dos negócios. Ou seja: perdemos a vitalidade para enfrentamentos num mundo em que as cadeias produtivas há muito não tem fronteiras nacionais e internacionais.
Consumismo mascarador
Essa situação foi mascarada durante os anos de ouro de consumo da gestão de Lula da Silva. A festa acabou porque o filão internacional de commodities valorizadíssimas sucumbiu e a macroeconomia interna sofre duros percalços.
O revigoramento do tecido econômico da região é uma missão árdua, que exige planejamento, planejamento e planejamento. Mas as lideranças locais que só pensam em fazer política partidária ainda acreditam que soluções mágicas poderão ser sacadas de abstrações, de retóricas que se perderam no tempo. Quando os dados de 2013 e, principalmente, de 2014, saltarem em forma de estatísticas oficiais, os danos econômicos na Província serão ainda mais inquietantes. Não há como impedir que o passado recente demarque uma situação de gravidade ainda maior porque os dirigentes políticos, empresariais e sindicais da Província têm preferência exclusiva pelo foguetório verbal improdutivo.
É melhor o leitor não contar com a massificação desses resultados nem com a propagação do conceito de que a Província do Grande ABC está irremediavelmente envelhecida no setor industrial. Há um jogo estúpido de esconde-esconde das fraturas econômicas da região. Como se a medida adiantasse alguma coisa.
O processo de desindustrialização da Província vem de longe sem que haja reposição à altura do setor de serviços, geralmente de baixo valor agregado. Em 1999, o PIB Industrial de São Bernardo equivalia a 33,92% do PIB Geral. Em 2012, caiu para 29,04%. A comparação é drasticamente dramática. A produção automotiva do País em 1999 estava muito abaixo da produção automotiva de 2012: foram 1,3 milhão de veículos leves, comerciais e pesados, contra 3,4 milhões de 2012.
Segundo os últimos dados, São Bernardo e São Caetano, que contam com as montadoras de veículos da região, têm participação de 20% na produção de veículos de passeio e comercial do País. Internamente, a influência do setor automotivo em vários setores ultrapassa a 60% do PIB Industrial.
Buraco imenso
A queda de 23,34% de geração de riqueza do PIB Industrial de São Bernardo, em forma de salários, impostos, investimentos e tantos outros quesitos, é resultado da comparação dos números apresentados em 2011 e em 2012. Em 2011, São Bernardo gerou PIB Industrial de R$ 12.236.57 bilhões. Com a atualização da moeda com base na inflação de 2012 do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), aquele valor de 2011 corresponderia a R$ 12.951.18 bilhões em dezembro de 2012. Entretanto, o PIB Industrial de São Bernardo em 2012 chegou a apenas R$ 9.928.13 bilhões.
Exatamente R$ 3.023,05 de diferença para baixo – os 23,34% do total.
Mais de R$ 3 bilhões de distância entre os valores de 2011 e 2012 podem não ser compreendidos na magnitude que abarca, mas quando traduzidos numa dura realidade de que representam proximamente a soma do PIB Industrial de Mauá e de Ribeirão Pires, a dimensão se exacerba. Mauá registrou em 2012 PIB Industrial de R$ 2.439,81 bilhões, enquanto Ribeirão Pires atingiu R$ 634,55 milhões. São Bernardo perdeu entre um ano e outro no setor industrial quase o mesmo PIB registrado por Taubaté, no Vale do Paraíba, que chegou a R$ 3,4 bilhões.
Tão grave quanto a derrocada industrial de São Bernardo é o cinismo com que a Administração Luiz Marinho conduz tentativas de dourar a pílula econômica. A exemplo do que se espalha pela Província desde muito tempo, porque ainda se vive da fantasia de suposta indestrutibilidade industrial, São Bernardo não moveu uma palha de pragmatismo nos dois últimos anos para estudar a fundo a situação de desconforto.
Incapacidade sistêmica
Perder tanta riqueza industrial não é um processo que não deixa rastros à identificação. Como o setor industrial influi diretamente no repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, o mais sensato é afirmar que São Bernardo não só se descuida de monitoramento permanente dos recursos orçamentários como não tem capacidade de detectar vazamentos. Ou se os detecta, não reage.
A queda do PIB Industrial de São Bernardo na temporada de 2012 reduziu a participação do Município no bolo regional do setor em 8,94% -- baixou de 43,60% para 39,70%. O enfraquecimento de São Bernardo abalou também o resultado final do PIB Industrial da região. Até porque outros municípios locais acusaram perdas, embora menos escandalosas. A perda regional foi de 15,82%: foram contabilizados R$ 28.064,93 bilhões pelos sete municípios em 2011.Quando se aplica a correção pela inflação do IPCA, o total chega a R$ 29.703,92 bilhões. Já em 2012 o PIB Industrial regional chegou a R$ 25.005,31 bilhões. Uma diferença de 4.698,61 bilhões.
Ou seja: a Província perdeu em geração de riqueza industrial em 2012 o equivalente a todo o PIB da indústria de transformação de Diadema (R$ 3.935,84 bilhões) somado ao PIB Industrial de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Ou apenas um pouco menos que os R$ 5.029,43 bilhões de Sorocaba, um dos municípios que integram o G-20 Paulista criado por CapitalSocial.
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