A decadente Província do Grande ABC explicitada sem retoques na perda contínua do PIB (Produto Interno Bruto) só é a quarta colocada no ranking nacional de produção de bens e serviços na retórica triunfalista de avestruzes. Dentro da própria Região Metropolitana de São Paulo, dividida em várias áreas geográficas, a Província do Grande ABC é superada. Além da Capital do Estado, primeira do ranking nacional, também o Grande Oeste, que abrange Osasco e outros sete municípios, vence a economia da Província. O PIB do Grande Oeste aumentou a vantagem sobre os sete municípios da Província. Ou seja: somos o terceiro colocado na metrópole paulistana. No Estado, se contabilizada a Grande Campinas, cairíamos para o quarto lugar. O trecho oeste do Rodoanel, que serve a Grande Osasco, é uma das explicações para a tragédia. O Rodoanel sul, que corta a Província, não faz refresco. Como antecipamos antes, bem antes de ser construído.
A primeira vez na história que o PIB do Grande Oeste (Carapicuíba, Barueri, Cotia, Itapevi, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba, Vargem Grande Paulista e Osasco) superou a Província do Grande ABC foi detectada por este jornalista neste ano, mais propriamente em matéria publicada em 19 de fevereiro. Era a sistematização dos dados do PIB dos Municípios de 2011.
A vantagem do Grande Oeste era de 7,4%. Agora que foi divulgado oficialmente o PIB dos Municípios de 2012, a vantagem de Osasco, Barueri e demais cidades aumentou para 9,35%. O resultado decorre de avanço nominal do PIB do Grande Oeste de 2,04%, contra inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços do Consumidor Amplo) de 5,8% na mesma temporada. Embora o Grande Oeste tenha crescido abaixo da inflação num País cujo PIB avançou apenas 1% em 2012, o resultado foi bem mais satisfatório que o da Província do Grande ABC, que recuou 5,61%. Daí a explicação para o fato de o Grande Oeste aumentar a superioridade sobre a região.
Como explicamos em tantas matérias, antepondo análise ao foguetório regional de que o trecho sul do Rodoanel iria redimir a economia regional de doloroso processo de esfacelamento nos anos 1990, o maior diferencial ao deslocamento de investimentos produtivos à região de Osasco e de Barueri foi mesmo o trecho oeste do Rodoanel. Inaugurado seis anos antes do ramal sul que serve apenas tangencialmente a Província do Grande ABC, o Rodoanel Oeste interage diretamente com os oito municípios da região de Osasco e Barueri. Não é um traçado afastado da efervescência econômica, como o da Província.
Na Província do Grande ABC o traçado do Rodoanel é selado, fechado, e só beneficia empreendimentos mais próximos das três alças de acesso. Em muitos casos, indústrias preferiram encerrar atividades locais para se instalarem em áreas logisticamente mais próximas de Osasco. O resultado está expresso nos números do PIB.
O trecho Leste do Rodoanel, inaugurado há poucos meses, também saudado com euforia por ignorantes econômicos locais, praticamente não tem influência alguma na economia regional à atratividade de empresas. Pior que isso: contribui, nesse ponto como o traçado sul, para incentivar evasões de uma região de custos trabalhistas exacerbados ao longo de décadas.
O conjunto dos municípios que formam o Grande Oeste da Região Metropolitana de São Paulo contabilizou em 2012 PIB Geral de R$ 94.277,13 bilhões, contra R$ 87.212,19 bilhões da Província do Grande ABC. Os 9,35% de vantagem marcam a segunda temporada consecutiva em que a Província fica atrás de Osasco e de outros sete municípios. O desgaste econômico da região não permite qualquer conjectura diferente de alargamento da diferença nos próximos anos.
Caçapa cantadíssima
A ultrapassagem da Província do Grande ABC é caçapa cantada por LivreMercado e por CapitalSocial, publicações que sempre se dedicaram a esmiuçar a economia da região em diferentes aspectos. Por isso que quando do anúncio da construção do trecho oeste do Rodoanel em detrimento do cronograma que poderia favorecer o trecho sul do qual a Província do Grande ABC faz parte, já se prenunciava a transferência de investimentos para a região de Osasco.
Mesmo que a Província do Grande ABC fosse privilegiada com a inauguração do primeiro trecho do Rodoanel Mário Covas, dificilmente o histórico de quebra do dinamismo regional teria sido abortado. Os sete municípios locais sofrem as dores restritivas de ocupação territorial por causa da Lei de Proteção dos Mananciais. Mas isso é apenas uma parte do enredo de limitações da região. O principal mesmo é um feixe de adversidades que tem nos custos trabalhistas, na logística interna entre os municípios, na cultura de beligerância entre capital e trabalho, na endêmica inaptidão dos administradores públicos em planejar o futuro, entre outros pontos, aspectos mais nucleares. Ou seja: a Província do Grande ABC é um espaço geopolítico em contínuo esclerosamento econômico quando comparado a outras áreas do Estado e do País.
Perder pelo segundo ano consecutivo a vice-liderança metropolitana de produção de riqueza provavelmente afetará a autoestima de quem tem compromisso com a Província do Grande ABC. Entretanto, larga parcela dos tomadores de decisões incrustrados nos Paços Municipais pouco estará se lixando. O horizonte de seus projetos não vai além do próprio umbigo de interesses específicos.
Vocação ao umbigo
Há uma vocação coletiva dos gestores públicos da região em observar o futuro apenas sob a ótica individual ou grupal da próxima eleição. Instâncias como Clube dos Prefeitos e Agência de Desenvolvimento Econômico não correm no mesmo ritmo nem na mesma raia dos obstáculos que se avolumam. Abundam projetos que não saem do lugar entre outros motivos porque estão descolados de um macroplanejamento sensível à realidade histórica dos fatos -- inclusive no apontamento de vetores negativos que tendem a inviabilizar medidas preconizadas.
Já perdi a conta de quantas matérias produzi sobre o PIB da Província em contraponto ao PIB de outros espaços territoriais. Referenciar a economia da Província é essencial para entender o balanço do navio do desenvolvimento econômico local. Aqueles que compararam os números da Província com os da própria Província não sabem o que fazem ou sabem bem o que fazem para enganar o distinto público.
A decadência econômica regional vem de longe e não dá sinais de arrefecimento. Nem mesmo quando eventualmente os números de um ano são melhores que os números de um ano imediatamente anterior. Quando isso ocorre, o que é uma sazonalidade, o fenômeno da decadência só muda de roupagem: continua a ser estrutural, mas se salva pelo circunstancial. Basta comparar com outros territórios largamente mais dinâmicos.
Reunimos enfermidades sociológicas no mundo do trabalho e da gestão pública que afugentam investimentos produtivos. Somos uma região tangida pela baixa produtividade, entendendo-se produtividade no mundo capitalista como a diferença entre o valor de investimento e o valor do retorno do dinheiro aplicado. É claro que a Província do Grande ABC não está interditada a inversões de capital. Apesar dos pesares logísticos, há setores da economia que olham para o território regional e observam vantagens relativas a seus negócios. Mas isso é exceção. A regra é olhar, bisbilhotar e cair fora. Há outros endereços bem mais agradáveis para produzir riquezas. A Grande Oeste de Osasco, Barueri e outros municípios está aí para provar.
Explicações fáceis
A longa jornada de 20 anos até a ultrapassagem na corrida por produção de riquezas foi uma caçapa cantadíssima por quem não manipula os fatos. Quem acompanha meus artigos sabe que tudo o que está acontecendo obedece a uma lógica simples: não é preciso ser gênio nem vidente para compreender o futuro que aguarda a Província do Grande ABC. Basta dar uma voltinha no passado e estar de olho no presente. O que nos aguardam nos próximos tempos são novas durezas do prélio. Vamos seguir comendo poeira de Osasco e também de outras geografias da própria Grande São Paulo. Como já mostramos também.
Perdemos o bonde da história mas não perdemos a mania do provincianismo de abrir manchetíssima de primeira página de jornal em tom efusivo de quarto PIB do País. Uma balela que escondeu o recuo do PIB de mais de 6% entre 2011 e 2012. Uma catástrofe se as autoridades públicas e os dirigentes econômicos, empresariais e sindicais tratassem a Província com um mínimo de responsabilidade social.
(Apenas a título de curiosidade: há disponíveis no acervo de CapitalSocial nada menos que 263 artigos que se referem ao Rodoanel de forma protagonista ou complementar).
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?