Podem anotar e me cobrem: quando se encerrar esta temporada em que o PIB Nacional dificilmente deixará a marca da inapetência do zero antes da vírgula, o emprego industrial com carteira assinada na Província do Grande ABC terá dado mergulho olímpico. Vamos perder uma fábrica inteira da General Motors de São Caetano somada à fábrica da Bridgestone Firestone em Santo André. Algo como 13 mil carteiras assinadas. Até novembro, balanço do Ministério do Trabalho e do Emprego, já foram para o chapéu 11.836 vagas industriais.
A crise é assombrosa. Nunca os festejos natalinos na região foram tão apavorantemente discretos. Reparem nos shoppings, no fluxo das principais avenidas, nos bares, nos lares e nos restaurantes. O ambiente é de intensa preocupação porque o setor automotivo está em apuros. Teimamos em viver sob os efeitos da Doença Holandesa. Acomodamos-nos com os ventos favoráveis de que jamais seria preciso planejar a região porque forças macroeconômicas nos levariam sempre a sempre ao céu de brigadeiro econômico.
Autoridades públicas sem lastro econômico cansaram de afirmar que o trecho sul do Rodoanel seria nossa redenção. O governador Geraldo Alckmin proclamou aos quatro cantos que tínhamos a melhor esquina do Brasil. Os alertas em contrário foram sabotados. Esses derrotistas – diziam os paspalhos – não aprendem mesmo; só pensam negativamente. O tempo se encarregou de colocar todos os pingos nos is. O trecho oeste do Rodoanel, que serve a Osasco e vizinhança, nos surra ano após ano porque interage com a economia. O nosso Rodoanel, em larga escala, é serpentina de passagem sem compromisso com investimentos.
Cuidado com manipulações
A temporada de 2014 marcará o 12º ano da administração petista no governo federal. Somada aos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, temos um quadro mais preciso sobre o comportamento do emprego industrial na região.
Nunca é demais lembrar que o enquadramento de estudos sobre a economia da Província do Grande ABC que dispense prioridade absoluta à massa de empregos industriais com carteira assinada deve ser interpretado com cautela. Mais que cautela: com desconfiança. Podem ter certeza que o objetivo é a manipulação de dados e de interpretação. Dar igual importância a setores distintos é comparar alhos com bugalhos. Um emprego na área de serviços não tem o conteúdo transformador de classe de um emprego no setor industrial. Salários, benefícios e projeção profissional que levam à mobilidade social estão incorporados nas atividades produtivas.
É o setor da indústria de transformação que faz a diferença regional. Desde o Plano Real, em 1994, somando-se os postos de trabalho destruídos nesta temporada, apresentamos déficit de 39.032. A perspectiva de que o governo petista daria uma tremenda mão à região teve efeitos limitados. Frustrou-se a expectativa de que o déficit dos oito anos de FHC derreteria durante a gestão de Dilma Rousseff. Os 11.836 postos de trabalho decepados este ano são nada menos que 43,52% do déficit acumulado até o ano passado, contando-se sempre a partir de 1994.
Quando este ano terminar, teremos perdido ao longo de duas décadas nada menos que quatro fábricas da General Motors de São Caetano de emprego industrial formal. Menos mal que, ao final dos oito anos do tucano FHC, acumulávamos nove fábricas da GM. A vantagem petista não pode deixar de ser relativizada. Vivemos na gestão de FHC procedimentos cirúrgicos excessivos, com cortes demasiados de mão de obra, repostas gradualmente por força da recuperação do setor automotivo.
Mais golpes virão
Um olhar prospectivo sobre o futuro do emprego industrial na Província do Grande ABC conduz a situação por demais preocupante. Deveremos acusar novos golpes. A recuperação durante o governo de Lula da Silva provavelmente será interpretada numa linha do tempo como exceção à regra de esvaziamento do setor. A indústria de transformação nacional vive crise sistêmica que a isola da cadeia internacional. A participação da atividade insiste em perder força tanto em âmbito interno quanto internacional.
A desindustrialização que atingiu a Província duramente nos anos 1990 se espalhou a outros territórios nacionais. Pagaremos um duro preço por termos uma industrialização ainda acima da média de outras regiões do Estado igualmente voltadas à atividade.
Se a redução da participação da indústria de transformação na Província do Grande ABC fosse consequência do dinamismo de outras atividades, tudo seria diferente. Esse é o grande nó górdio regional. Não compensamos os registros de perdas de valor adicionado do setor industrial com semelhante avanço na área de serviços de valor tecnológico.
A trajetória de perda contínua do PIB regional entre os municípios mais fortes do Estado de São Paulo, reunidos no G-20 Paulista, deixa evidenciado o obstáculo a superar. A média de participação do PIB Industrial no Estado de São Paulo é de 20,48%. Nenhum dos cinco municípios da Província que consta do G-20 tem número semelhante. Diadema registra 33,78% de PIB Industrial no conjunto de produção de riqueza, enquanto Mauá soma 31,03%, Santo André 22,69%, São Bernardo 29,04% e São Caetano 29,88%.
Ao longo dos últimos 12 anos, entre 1999 e 2012, apenas São Caetano aumentou a fatia do PIB Industrial quando confrontado com outras atividades. Tudo por influência principalmente da General Motors. Os demais municípios locais perderam capacidade de gerar riqueza. O caso de Santo André é o mais grave: em 1999 o outrora viveiro industrial contava com 32,88% do PIB Geral regido pela indústria de transformação. Agora são apenas 22,69%. Sem reposição qualitativa de outros setores. Os call-centers são a principal referência de empregos do setor de serviços em Santo André.
Estou apostando que registraremos uma General Motors e uma Bridgestone Firestone de déficit de emprego industrial nesta temporada. Os falseadores de sempre vão tentar minimizar os estragos com dados de empregos frágeis nas áreas de comércio e de serviços. Faz parte do jogo de manipulações para agradar integrantes do Festeja Grande ABC e do Assalta Grande ABC.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?