Até pensei em encerrar o ciclo do que chamo de ombudsman não autorizado dos veículos de comunicação da região quando o fim deste ano chegasse, mas mudei de ideia: vamos continuar as análises no ano que vai nascer. Só não sei até quando. Já são, vejam só, 24 análises desde que, em 14 de julho último iniciei esta saga que, em vez de desagradar jornalistas e donos de veículos de imprensa da Província do Grande ABC, deveria ocupar lugar de honra nas redações. Essa prestação de contas que faço à revelia dos autores dos textos e editores do que chamo de manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) deveria ser uma prática corriqueira nas redações. Como foi nos tempos em que dirigi o Diário do Grande ABC.
Quando fiz uma pesquisa neste final de semana em meu escritório domiciliar (local onde escrevo a quase totalidade das matérias desta revista digital) fui surpreendido pela quantidade de artigos relacionados ao ombudsman não autorizado em que me transformei. Não esperava que fossem tantos. E vão ser muito mais se minha paciência não transbordar ante a constatação de que há uma repetição monótona, quando não enfadonha, de equívocos.
Por mais paradoxal que possa parecer, cheguei à constatação de que é exatamente por ser uma sinfonia de erros de notas mais que manjadas que a função de ombudsman não autorizado deve seguir em frente. Sem jogar a toalha, portanto. Ora, em sendo quase monocórdia a detecção de que os insumos publicados são uma sucessão de abundantes erros e de escassez de acertos, a função que me atribui tornou-se um desafio e tanto. Que tipo de desafio? Tenho obrigação comigo mesmo de, mesmo em situações semelhantemente de imprecisões dos veículos de comunicação, analisar as manchetíssimas de modo a prender a atenção dos leitores. Para que isso aconteça é indispensável que este jornalista não economize elementos interpretativos, evitando, portanto, a mesmice repetitiva.
Diário é o maior foco
Mas, convenhamos: mesmo que eventualmente seja repetitivo nos problemas que aponto nas primeiras páginas dos jornais digitais e impressos da região, o trabalho não será em vão. Pelo contrário: como a memória dos leitores é curta, e mais curta ainda porque geralmente descuidada na plataforma digital, impregnada pelo apressamento da excessiva oferta de produtos, a distribuição de conceitos que justifiquem as intervenções de quem pensa e faz jornalismo todos os dias não será desperdício de tempo.
Alguns leitores dizem que concentro a maioria das críticas de ombudsman não autorizado no Diário do Grande ABC. Verdade verdadeira e irrebatível. Há duas razões a sustentar coerência, que não pode ser confundida com perseguição.
Primeiro, o Diário do Grande ABC muito menos que antes, mas ainda com força para influenciar determinados nichos da sociedade, é o jornal mais tradicional da região. Desconsiderar uma preocupação maior com a publicação em relação às demais seria cretinice. Antes, portanto, ser taxado de perseguidor.
Segundo, o Diário do Grande ABC é o veículo regional que mais comete besteiras editoriais. A liderança é absoluta. Há um ziguezaguear persistente em flertar com a estultice, com a deformação dos fatos e com tudo que o leitor possa entender no sentido de que entre a realidade e a fantasia existe um espaço imenso ocupado pela publicação. A falta de critérios transparentemente republicanos transformou o Diário do Grande ABC aos olhos mais atentos e críticos no mínimo numa plataforma de informações sob suspeição permanente.
Não adianta alguns de seus editores dizerem a terceiros bobagens sobre este jornalista porque mesmo eu que abomino que se puxe do coldre do comodismo o chavão do currículo profissional diria que o mínimo a contrapor é um histórico que dispensa enunciações. A crítica como ombudsman não autorizado deveria reverberar nas redações como o melhor exemplo de profissionalismo porque retira qualquer resquício de corporativismo de uma atividade que é essencialmente corporativista porque a sociedade como um todo é formado por nichos igualmente corporativista.
Planejamento histórico
Rio com gosto quando ouço aqui e ali sobre as repercussões internas no Diário do Grande ABC – e mesmo em instâncias diretivas – que procuram desclassificar este ombudsman não autorizado. Tenho a lhes oferecer como argumento fatal, decisivo, implacável, irrebatível, inquestionável e tantos outros adjetivos que aniquilam com qualquer tipo de retaliação verbal o projeto que formulei, apresentei e executei parcialmente durante nove meses à frente do jornal, entre 2004 e 2005.
Basta ler atentamente para perceber que, em essência, não existe diferença alguma entre tudo aquilo que prescrevi em 90 mil caracteres do único planejamento editorial que se fez àquela publicação em mais de 50 anos de circulação e o que tenho oferecido aos leitores muito antes até de institucionalizar conteúdos de ombudsman não autorizado.
Meu compromisso com o jornalismo não é uma ponte construída ao sabor dos acontecimentos pessoais. É uma estrada longa, coerentemente percorrida, com mais danos do que ganhos colaterais pessoais. Tanto que não passei do nono mês à frente do Diário do Grande ABC, quando o projeto estabelecido era para um quinquênio. Por isso o Diário do Grande ABC perdeu ainda mais massa crítica em relação ao passado que antecedeu minha chegada. Aliás, um passado do qual fiz parte durante 15 anos, entre 1971 e 1985.
Oficializar pancadaria
O que o senhor Ronan Maria Pinto e demais donos de veículos de comunicação da região deveriam fazer neste final de ano como prova de que pelo menos têm sensibilidade e respeito aos leitores que buscam suas respectivas marcas como fonte de informação qualificada é promover uma coalizão de forças financeiras e contratar este profissional para continuar a exercer as funções atuais, com a diferença de que retiraria o “não autorizado” como referencial do contrato de trabalho.
Pagar para apanhar é o melhor dos remédios quando se tem humildade para reconhecer que há muito de sofrível na mídia regional e que não estou aqui neste espaço para interpretar papel de hipócrita ou omisso. Prefiro mil vezes que me chamem de qualquer coisa que lembre qualquer coisa que não seja um elogio, mas que certamente jamais seria sinônimo de burrice, porque, garanto, cinco décadas depois dos primeiros escritos, isso não sou.
Minha mediocridade é múltipla, em várias áreas e atividades, mas, em matéria de jornalismo, convenhamos, estou longe de merecer qualquer coisa que não seja no mínimo algo a ser cuidadosamente avaliada. Por isso o ombudsman não autorizado vai continuar até quando bem entender. O tempo sempre se mostra meu parceiro.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)