O aumento da carga tributária municipal imposto pelo prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, não é uma obra do acaso e tampouco um ato isolado nas duas últimas décadas na região. É a confissão tácita de uma incompetência generalizada dos gestores públicos da Província do Grande ABC em lidar com o desafio continuado de que cada vez mais o setor industrial será mais decisivo ao equilíbrio econômico e social da região. Acabamos de levantar novos dados que asseguram uma constatação inquietante: quatro dos cinco mais importantes municípios locais registraram em 2012 (conforme os últimos dados do IBGE) perda industrial durante a década de controle petista no governo federal.
Mais ainda: o último ano da gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, período de duras provações da região, é invejável perto de 2012, quando o PIB Geral da Província caiu 5,61% e o PIB Industrial encolheu 15,82%. Tudo isso sem que a Província reagisse minimamente. Mais que isso: com autoridades públicas e a quase totalidade da mídia escondendo o desastre.
O que o petista Luiz Marinho fez no final do ano passado com o aumento do ISS (Imposto Sobre Serviços) em várias atividades é uma tentativa de amenizar as perdas orçamentárias que se acentuam desde 2011, logo após a crise do sistema financeiro internacional que envolveu Estados Unidos e Europa, principalmente. Os anos dourados de consumismo do presidente Lula da Silva foram esticados até a chegada de Dilma Rousseff ao poder. Entre 2003 e 2010, quando o Brasil cresceu acima das expectativas, o PIB Industrial da Província reagiu espetacularmente movido pela vaca leiteira da indústria automotiva. Mas os dois primeiros anos do primeiro mandato da também petista Dilma Rousseff reverteram o quadro.
Degola quase geral
Quando o IBGE anunciar, neste final de ano e no final do ano que vem, os PIBs municipais de 2013 e, principalmente, de 2014, a situação regional será ainda pior.
Quando se compara a importância do PIB Industrial na Província do Grande ABC entre o último ano do presidente Fernando Henrique Cardoso (2002) e o segundo ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff (ou seja, 2012), o que resulta é uma estrondosa preocupação com o futuro regional. Apenas São Caetano e as economicamente pouco expressivas Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra escaparam da degola. São Bernardo, Santo André, Diadema e Mauá conheceram reveses. Nesses municípios, o setor industrial apequenou-se ante os demais vetores que compõem o Produto Interno Bruto – PIB de Serviços Públicos e PIB de Serviços Privados, além do agronegócio pouco representativo na região.
A tradução dessa debacle é alarmante: como não conta com terciário privado de valor agregado que compense principalmente em termos de assalariamento as perdas industriais, a Província do Grande ABC está fadada a novos desfalques na geração de bens e serviços, síntese de PIB, contra os quais administradores municipais procurarão saídas minimizatórias como a perpetrada por Luiz Marinho.
Nada pior para os petistas que a consumação de uma tragédia, ou seja, a superação dos indicadores considerados malditos do governo Fernando Henrique Cardoso no ambiente regional. Com FHC a Província do Grande ABC perdeu um terço do PIB registrado em 1994. A reação dos anos Lula da Silva não se sustentou pós-crise internacional e, principalmente, durante a gestão Dilma Rousseff. O que vem por aí, além dos números ainda não divulgados dos anos 2013 e 2014, é de arrepiar. Tudo indica que os ganhos regionais dos anos Lula da Silva vão ser exterminados nos dois mandatos de Dilma Rousseff.
Mais derrotas
A perspectiva mais compatível com a situação macroeconômica nacional e internacional é que a indústria de transformação da Província vai continuar murchando em termos de participação relativa interna e perdendo cada vez mais espaços em valores absolutos no confronto com outras localidades do Estado. O G-20 Paulista, grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, criado por CapitalSocial, tem mostrado o enfraquecimento do setor industrial da região mesmo durante o período consumista do setor automotivo, agora também atingido pelas mudanças da nova equipe econômica do governo federal.
O desempenho mais comprometedor da indústria de transformação da Província do Grande ABC desde que o PT assumiu a presidência da República em 2003 até o final de 2012 é protagonizado por Santo André. No último ano de FHC, Santo André contava com 32,45% de participação da indústria no PIB Geral. Mesmo durante os oito anos medidos da gestão Lula da Silva (2003 a 2010), Santo André praticamente não reagiu no setor ao registrar 27,23% de PIB Industrial. Em 2012, caiu para 22,69%. Ou seja: durante os 10 anos de governo petista, a indústria de Santo André perdeu 30% de participação na matriz econômica municipal. Os setores de serviços públicos e privados não correram na mesma raia de recomposição de valores.
Cabeça a cabeça
Diadema e Mauá disputam cabeça a cabeça a segunda posição em termos de perdas de participação da indústria de transformação no bolo dos respectivos PIBs municipais. Em 2002, último ano de FHC, Diadema contava com 39,44% de participação industrial interna, contra 37,04% de Mauá. Já ao final de 2012 Diadema caiu para 33,78% enquanto Mauá desceu para 31,03%. Menos dependentes do setor automotivo que São Bernardo, Diadema e Mauá repetiram em 2012 praticamente os mesmos índices de participação industrial local em 2010, com Lula da Silva: 39,78% e 35,07%.
São Bernardo é a quarta cidade do ranking regional que mais perdeu participação relativa do setor industrial no PIB Geral: quando Fernando Henrique Cardoso deixou a presidência, registrava 31,90% de domínio industrial, caindo para 29,04% no segundo ano do governo Dilma. No meio do caminho, em 2010, último ano de Lula da Silva presidente, com o setor automotivo bombando, São Bernardo apontou participação industrial interna de 36,54%.
Quem ganhou para valer com a gestão petista na presidência da República foi a mais antipetista das cidades da Província do Grande ABC-- São Caetano contava no último ano de FHC com 23,20% de participação industrial no bolo municipal do PIB, passou para 32,67% ao final de 2010 e caiu para 29,88% em 2012. A principal explicação para o sucesso de São Caetano é a dependência bastante significativa da produção da General Motors do Brasil.
Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra também não podem reclamar da gestão federal petista se o resumo da ópera for os respectivos PIBs municipais: com FHC, em 2002, Ribeirão Pires contava com 30,80% de domínio industrial municipal, enquanto Rio Grande da Serra registrava 24,42%. Já em 2012, Ribeirão Pires somava 29,41% de influência industrial local e Rio Grande da Serra 35,63%. O que deve causar preocupação aos dois municípios é que desde que Dilma Rousseff assumiu a presidência houve duras perdas do setor industrial, já que em 2010, último ano de Lula da Silva, Ribeirão Pires registrou 35,83% de participação do setor industrial enquanto Rio Grande da Serra somava 41,32%.
Base é bem maior
Embora a queda de participação industrial no PIB Geral seja cada vez mais uma normalidade dos municípios, entre outras razões porque o Brasil como um todo sofre processo de desindustrialização, no caso da Província do Grande ABC o fenômeno é preocupante porque a base do desenvolvimento econômico é o setor de transformação industrial. Perder participação relativa ou absoluta na atividade sem recomposição à altura do setor de serviços é um duplo golpe. E é isso que tem ocorrido na região há pelo menos duas décadas.
Diferentemente de outros municípios paulistas, por exemplo. A média de participação relativa do PIB Industrial na matriz do PIB Geral de cada Município é elevada demais na Província em comparação com os demais endereços do G-20. Esse ambiente de vulnerabilidade indica, portanto, que o que vem em forma de futuro próximo será sempre desagradável enquanto perdurarem políticas federais que fragilizam a indústria de transformação.
Num período um pouco mais amplo (1999-2012) do que o que tem como base de cálculo o último ano do governo FHC e o segundo ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff, apenas dois dos municípios do G-20 Paulista aumentaram participação relativa no bolo interno do PIB: Paulínia e Ribeirão Preto. Os demais, inclusive os cinco representantes da região no agrupamento (Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá) sofreram reveses. A diferença é que as perdas dos municípios da região são sempre mais expressivas no PIB Industrial e, principalmente, no PIB Geral, que leva em conta Serviços e Agropecuária. O Estado de São Paulo, como um todo, também emagreceu industrialmente no período de 1999 a 2012: caiu de 25,69% para 20,48% em termos de participação interna.
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