O mercado imobiliário é assunto obrigatório porque mexe direta e profundamente com o bolso, a autoestima e o futuro de milhões de pessoas. É algo tão relevante que jamais poderia ser deixado livre, leve e solto à porção elitista que o controla com engenho. O presente descasamento entre a importância da atividade e os discretos espaços reservados pela mídia é denunciatório da gravidade da situação depois de pares de anos de euforia justificada seguida de comemorações manipuladas.
A gravidade da situação que vem do passado escamoteado pelo lobby na mídia permissiva ainda vai ganhar cores mais sombrias. Há esforços redobrados para manter a crise imobiliária sob alcance exclusivo dos especialistas que, por sua vez, na maioria dos casos, fecham a boca em nome do corporativismo, quando não propagandeiam invencionices. Entretanto, já não dá para esconder o tamanho da encrenca. Da mesma forma é impossível negar os vazios comerciais dos novos shoppings centers que iludidos construíram na região diante de aplausos encomendados e com contrapartidas publicitárias a desqualificar veículos de comunicação.
Demanda sufocada
Os nichos e os micos na Província do Grande ABC afloram escandalosamente. Se quando denominamos os dois espectros do mercado imobiliário, há mais de dois anos, havia quem tivesse a coragem de contestar e demonizar informações, agora o silêncio prevalece. A classe dos corretores de imóveis está
Qualquer argumento que os mandachuvas do setor utilizam para tentar minimizar os estragos mais que consolidados serve apenas como reboco de uma frustração empresarial indisfarçável. Falta dinheiro na praça regional faz muito tempo. O silêncio da mídia somado à esperteza dos agentes vendedores de ilusão industrializou estelionatos em forma de financiamentos.
Aos poucos quem acreditava estar fazendo um ótimo negócio acorda para a realidade. Os valores liberados pelo sistema financeiro e que deverão ser resgatados em longas prestações já não correspondem ao que o mercado referencia como preço máximo. Paga-se, portanto, mais do que o bem adquirido vale. O vazio de quem se descobre otário é desesperador.
Se há algo impensável quando se compra um imóvel é a contrapartida da desvalorização. A cultura patrimonialista transforma imóvel em bem inatingível a surpresas. Mesmo ganhos nominais são comemorados, passe o tempo que passar. Quando o patrimônio de cimento e tijolo não acompanha as leis do mercado porque o mercado na origem da compra estava inflado, especulado e adulterado, muitas vidas viram do avesso.
Ordem no mercado
Houvesse uma organização minimamente idônea e responsável para expor as vísceras do mercado imobiliário na região certamente os dados provocariam choques anafiláticos. O encalhe é gigantesco em todas as modalidades residenciais e comerciais. Sempre utilizo o empreendimento Domo como símbolo de uma farra de lançamentos sem lastro de demanda, mas há dezenas de casos com perfil semelhante. Outras regiões do Estado e do País vivem situações análogas, mas aqui o buraco é mais embaixo. Nossa economia desabava enquanto o Brasil rateava. Imagine agora que o Brasil desaba e nossas montadoras de veículos vivem condições típicas das autopeças desprotegidas pelo governo federal e implacavelmente marcadas pelo sindicalismo.
Em sã consciência, convenhamos, é preciso ser idiota juramentado, renitente mal informado, estúpido ao quadrado, crédulo insaciável ou qualquer outro tipo de modelo imbecilizado ou alienado para confiar em fontes mais que viciadas sobre o comportamento imobiliário na região. Quem conhece bem o terreno onde se pisa na Província do Grande ABC não cai na armadilha dos vendedores de ilusão que estão soltos na praça porque o Brasil é um País que não só permite como libera e apoia a ladroagem de negócios aparentemente, só aparentemente éticos.
Os espertalhões do mercado imobiliário regional e também de outras paragens são, deve-se reconhecer, bastante criativos. Eles são contumazes manipuladores de emoções e preços. Mesmo com a boiada indo para o brejo nestes tempos em que não se vende nem mesmo geladeira e televisão como antes eles aparecem na mídia e até mesmo doutrinam a mídia a produzir noticiários viciados, nos quais sugerem que está tudo mais ou menos nos eixos. Até admitem, generosos mas não burros ante a desmoralização, que o preço do metro quadrado cresce menos que a inflação quando, de fato, desandou porque faltam compradores, além do que sobem às alturas os distratos de quem se descobriu no mato sem cachorro da viabilidade de honrar contratos ante a hora da verdade de consumar financiamento.
Não faltam empreendedores do setor imobiliário que lastimam a predominância de malandros juramentados que se locupletam do relacionamento com veículos de comunicação para provocar enormes prejuízos à sociedade.
Pessoas honestas e eticamente responsáveis pulverizadas como agentes econômicos do mercado imobiliário preferem não se misturar a instituições da classe que se valem da cultura de dísticos deste País para se apresentarem como protagonistas no jogo de informações que ganham credibilidade porque mídias tradicionais não passam de ventríloquos desses mandachuvas.
As individualidades empresariais do setor empresarial são muito mais respeitáveis na sociedade que os grupelhos que comandam entidades de classe voltadas aos próprios umbigos de seus representantes. Mas, justamente por se posicionarem distantes entre si e não se oporem aos prevaricadores semânticos e muitas vezes também operacionais, a imagem do mercado imobiliário como um todo entre os consumidores está muito próxima do prestígio da classe política.
O vale-tudo orquestrado pelos grupelhos institucionais do mercado imobiliário é uma parede monolítica a interferir diretamente na saúde orçamentária das famílias brasileiras, todas ou em grande parte marinheiros de primeira viagem em busca de um imóvel próprio e que, por isso mesmo, sofrem o diabo ante os especialistas inescrupulosos que usam e abusam da liberdade de negociar sem qualquer contenção à voracidade selvagem de levar vantagem sempre. Falta Ministério Público especializado para acabar com a farra imobiliária que começa nos balcões de negócios escusos nas administrações públicas e ganha letras de forma na imprensa.
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