Imprensa

Sindicalismo faz festa na Volks,
mas realidade é bem diferente

DANIEL LIMA - 19/01/2015

O leitor ficou curioso com o que a manchete desta matéria sugere? É para ficar mesmo, mas só amanhã, terça-feira, vou apresentar as respostas. Vou escrever com todas as letras e com uma gama imensa de objetividades as razões que me levam a dizer exatamente o seguinte: joguem na lata do lixo do volume morto da memória imprestável tudo o que vocês leram nos últimos dias sobre o fim da greve na Volkswagen de São Bernardo após a empresa ter recuado da decisão de demitir 800 trabalhadores de um excedente divulgado e minimizado de 2,1 mil.


 


Joguem fora mesmo porque, de maneira geral, a mídia não ultrapassa a superfície festiva dos sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores (CUT) que, azeitados há décadas na arte de levar os jornalistas no bico, desfilam aos quatro cantos a versão edulcorada dos metalúrgicos da região, uma pátria à parte do conjunto de trabalhadores. São esses trabalhadores a maioria que paga a conta porque está no entorno do modelo de privilégios que sustenta o sindicalismo nas montadoras.


 


Não é fácil dizer aos leitores que o que se pratica em muitas situações no mercado de trabalho da região, quando entra em campo o sindicalismo da CUT, não passa de uma farsa. Se fosse apenas uma farsa, seria ótimo. O problema maior é que por trás de informações que não são exatamente o que os jornais publicam no dia seguinte – e os demais meios de comunicação replicam acriticamente – há a cristalização de uma situação para lá de ultrapassada, de superada.


 


Nossos sindicalistas, de maneira geral, são personagens que deveriam ser incorporados aos folhetins da Globo sem passar por qualquer preparação. Eles estão mais que aptos a exercerem papeis senão especiais, como no campo econômico regional, ao menos de figurantes razoavelmente bem apetrechados. Eles são artistas ao transmitirem em forma de vitória um processo que não passou de flagrante derrota.


 


Dinastia sindical


 


Os jornalistas que cobrem o sindicalismo da região se repetem a cada temporada de reivindicações trabalhistas. Invariavelmente se entregam aos anúncios de deliberações que os trabalhadores festejam porque está aí uma expressão da sociedade regional que, ao contrário do que o lugar-comum procurou diferenciar nos tempos, não passa de correia de transmissão de cúpulas que se eternizam em forma de dinastia e de um legado muito distante do que procuram vender com habilidade. 


 


Podem acreditar os leitores mais céticos e podem apostar os leitores mais entusiastas que o texto que vou preparar para a edição de amanhã representa sim um contraponto isolado mas providencial para desaquecer as turbinas de falsidades comemorativas do acordo entre os metalúrgicos de primeira classe e a Volkswagen de São Bernardo.


 


Nossos sindicalistas sabem que estão cada vez mais isolados no diálogo macroeconômico. Vamos explicar as razões sem meias palavras. Aliás, quem nos lê com certa assiduidade sabe que o que apresentaremos amanhã não é o que chamaria de um ponto fora da curva das análises anteriores do setor automotivo e da indústria da região de maneira geral. A diferença é que temos um contexto mais que extraordinário para nos fazer compreender até mesmo pelos mais empedernidos esquerdistas e igualmente pelos mais acomodados dos direitistas.


 


Sinais invertidos


 


O resumo da ópera do que vamos mostrar amanhã é que a Província do Grande ABC continua refém de um sindicalismo rastaquera e de um modelo industrial que – e os números que temos apresentado são prova disso – não oferece a menor garantia de congelamento do processo de baixa mobilidade social registrada nas duas últimas décadas. Estamos cada vez mais semelhantes à média brasileira. O que é um péssimo negócio.


 


Há incautos na mídia regional que não enxergam um palmo de macroeconomia na ponta do nariz de provincianismo e que, por isso mesmo, invertem os sinais das mensagens senão explícitas mas robustamente preocupantes de que acordo como o que envolveu a Volkswagen e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC não passa de um jogo de cena após mútua frustração de testar os limites do protecionismo e dos privilégios do setor. 


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