Escrevo a poucas horas da revelação do balanço do emprego formal no Brasil na temporada passada. Escrevi em 19 de dezembro passado que perderíamos uma General Motors e uma Bridgestone de trabalhadores industriais com carteira assinada. Algo como 13 mil postos de trabalho. Como dezembro foi bravo, bravíssimo, acho que subestimei nossa incapacidade de reação.
Os números do Ministério do Trabalho são os números nos quais confio. E os números de empregos com carteira de trabalho assinada no setor industrial são os números que levo em conta. Empregos em serviços e outras atividades, no padrão de escassez tecnológica com a qual convivemos, não movem moinhos.
Ainda outro dia os jornais da região transcreveram em forma de notícia a quebra de trabalhadores do setor industrial da região – pouco mais de 20 mil – conforme pesquisa do conglomerado Ciesp/Fiesp. Não dei a mínima atenção. Não repercuti e nem pretendo levar aquele trabalho em conta. Sei como funcionam as unidades do Ciesp no Estado de São Paulo, fonte dos dados daquela numeralha.
Não chega a 10% o número médio de associados ao Ciesp nas representações municipais e regionais. Além disso, não existe metodologia confiável à produção daquela pesquisa. Os dados do Ministério do Trabalho são oficiais e abrangem todas as empresas brasileiras. Não envolvem empregos informais, sempre de mensuração difícil.
Acordei desconfiado de que subestimei o potencial de desagregação do setor industrial da região em tempos de vacas magras como agora, quando o País está em crise e a nossa vaca leiteira, a indústria automobilística, curte ressaca de lascar.
Situação vai piorar
O pior de tudo é que, considerando-se os momentos mais dramáticos da economia regional, durante os anos 1990 de grandes mudanças macroeconômicas, ainda estamos no céu, mesmo com trovoadas. Se o setor desandar a bater a cara na parede da baixa demanda combinada com excesso de produção, não sobrará pedra sobre pedra.
E nada indica que a situação vai melhorar. Muito pelo contrário. O ministro Joaquim Levy não me deixa mentir. Não é fácil costurar uma engenharia de estabilidade econômica após o desastre comandado pela presidente Dilma Rousseff.
Prometo aos leitores que vou escrever na edição de segunda-feira o suficiente sobre o balanço final do emprego formal industrial da Província do Grande ABC. Se até novembro passado acumulamos déficit de 11.836 vagas no setor, o que acontecerá quando se somarem as carteiras assinadas desviadas ao bloco de desempregados na região?
Vou ficar mais uma vez de olho vivo na cobertura da mídia regional, sempre pronta a esconder o impossível, ou seja, que nossa matriz econômica mais importante, o setor industrial, está encalacrada. Qualquer cobertura que deixe de priorizar o movimento do emprego industrial formal em favor do geral, da contabilidade que abarca as demais atividades, será uma maneira mais uma vez grosseira de tentar enganar o distinto público.
Terapia dolorosa
Infelizmente precisamos de uma crise brava na região, depois do armistício consumista em parte do governo Lula da Silva, para que fichas de indolência e triunfalismo caiam para valer. Não se trata de torcer contra, como alguns idiotas são capazes de argumentar. Trata-se única e exclusivamente de entender que somente a explicitude da desgraça poderá, quem sabe, mexer com os brios regionais.
Tomara que a provável reação não seja estúpida, como ensaiam alguns sindicalistas que fazem esforço danado para esconder ou mesmo mistificar a lógica econômica de que foram o excesso de Estado e o populismo que nos conduziram à atual situação. A propalada nova classe média que jamais passou de pretensa classe média provavelmente conhecerá um fenômeno que alteraria profundamente o jogo político nacional: a desmobilidade social como consequência da recessão associada à inflação.
Leiam também:
Província vai perder este ano uma GM e uma Bridgestone de emprego
Total de 1884 matérias | Página 1
13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)