Economia

Província perde Mercedes-Benz
e Scania de emprego industrial

DANIEL LIMA - 26/01/2015

O desastre do emprego industrial com carteira assinada na Província do Grande ABC na temporada de 2014 foi mesmo maior do que o previsto, como antecipei sexta-feira, antes da divulgação oficial dos dados do Ministério do Trabalho e do Emprego. Perdemos no setor que representa o dinamismo econômico da sociedade regional nada menos que 15.093 vagas, o que equivale à soma do efetivo da Mercedes-Benz e da Scania, montadoras sediadas em São Bernardo, berço do sindicalismo lulista. A previsão inicial de que perderíamos uma General Motors e uma Bridgestone foi superada.


 


O setor metalmecânico foi o mais atingido, respondendo por praticamente 50% dos estragos. Os 15.093 trabalhadores que tiveram contrato de trabalho rompido na região na temporada passada correspondem a quase 20 vezes o efetivo de trabalhadores que levou a cúpula do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC a comemorar a revogação de demissões na Volkswagen. Nada mais fraudador. A decisão da Volkswagen de demitir 800 funcionários foi uma iniciativa resultante da greve de 11 dias por conta da rejeição pelos trabalhadores da proposta de implantação de PDV (programa de demissão voluntária). A medida acabou prevalecendo em troca da suspensão das demissões que, portanto, não constavam da pauta inicial da multinacional. Os dias de grave serão parcialmente descontados dos salários.


 


Enquanto a orquestra de dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC festeja supostas vitórias pontuais, sobretudo nas montadoras de veículos, como se travestidos de instrumentistas do Titanic, a realidade no chão de fábrica de empresas de menor porte é outra: os estragos provocados pela presidente Dilma Rousseff foram dramáticos na região.


 


Como a perspectiva para esta temporada é ainda mais complicada, tudo indica que o saldo de emprego industrial que o presidente Lula da Silva registrou durante oito anos com a gastança consumista que agora manda a fatura deverá ser sensivelmente reduzido. Nada que volte aos patamares de perdas durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, quando a região teve 81.327 empregos industriais formais decepados.


 


Emprego valioso


 


O emprego industrial com carteira assinada é  uma das referências mais relevantes com que ao longo dos anos analisamos o desempenho econômico da região. O agregado de valor em forma de salários e direitos trabalhistas diversos é proporcionalmente muito maior do que em outras atividades.


 


O terciário de baixo valor tecnológico desaconselha contabilizar o emprego geral na região como âncora de informações consistentes. Pegar o resultado final sobre o comportamento do emprego em geral na região é um erro que só comete quem coloca indústria e demais setores no mesmo saco de gatos de dados. Comprovadamente o emprego industrial é muito mais valioso e agregador de valor na região. Principalmente o setor de serviços é dominado por empresas de baixa produtividade e inovação.


 


Dos 15.093 postos de trabalho industrial com carteira assinada que desapareceram da região na temporada passada, a grande maioria atingiu em cheio São Bernardo e Diadema, que contam com maior participação relativa na indústria automotiva, de montadoras e autopeças. Foram 9.943 empregos destruídos nos dois municípios -- dois terços do total da Província do Grande ABC.



Quem mais perdeu foi justamente São Bernardo de sindicalismo mais combativo: foram 5.699 novos desempregados industriais. Diadema registrou 4.244 perdas, Santo André 1.695, São Caetano 742, Mauá 1.990 e Ribeirão Pires 777. Rio Grande da Serra, que representa apenas 0,2% do PIB da região, foi o único Município a aumentar o efeito de trabalhadores, com saldo de 54 profissionais no ano passado.


 


Agora, o barítono


 


Quem tiver juízo e não se deixar levar pelo lero-lero de gente que não sabe patavina de economia mas é especialista em demagogia deve se preparar porque depois do desastre do clarinetista que se apresentou no palco do emprego formal da Província no ano passado provavelmente quem ocupará o espaço nesta temporada é um barítono desafinado. As melhores previsões para o desempenho do PIB do Brasil não passam de um zero a zero semelhante ao do ano passado, com a diferença de que haverá quebra mais acentuada do emprego industrial formal. No ano passado foram eliminados 163.817 postos de trabalho formais no setor industrial, sempre com carteira assinada. Desse volume, o Estado de São Paulo foi o mais atingido com déficit de 106.276 trabalhadores, ou dois terços do País.


 


O estoque de empregos industriais com carteira assinada na Província do Grande ABC, após a catástrofe do ano passado, caiu para 243.757. Quando o PT chegou a Brasília para o primeiro mandato de Lula da Silva, a região registrava 195.216. Em 16 anos de mandato o PT proporcionou 48.541 novos postos de trabalho. Faltam 37.786 postos do trabalho para o PT eliminar o déficit acumulado nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso. As perspectivas não são nada alentadoras: ante as reformas de que precisa, é muito provável que a Província do Grande ABC alargue demissões no setor e se aproxime da herança de FHC.


 


Santo André lidera


 


O emprego industrial na Província do Grande ABC perdeu 27,83% do efetivo de trabalhadores desde 1985, quando da redemocratização do País. Eram 337.790 quando do fim do regime militar, contra 243.757 ao final da temporada passada. Relativamente quem mais perdeu foi Santo André, que contava com 64.491 trabalhadores do setor e caiu para 33.031, com rebaixamento de 48,78%. São Bernardo perdeu 36,98% dos trabalhadores no período: eram 147.781 e agora são 93.128. São Caetano ocupa a terceira posição no ranking regional de perda de trabalhadores industriais, passando de 37.128 em 1985 para 26.792 no ano passado. Ribeirão Pires perdeu 17,26%, passando de 9.130 para 7.554. Diadema perdeu 6,90%, passando de 61.531 para 57.287. A pequena Rio Grande da Serra aumentou em 10,96% o efetivo de trabalhadores industriais: contava com 1.286 em 1985 e chegou a 1.427 em 2014. O estranho no ninho de postos de trabalho do setor na região é Mauá, com avanço de 79,16% no período: passou de 16.287 para 29.180.


 


Quando o confronto se dá desde a implantação do Plano Real, divisor de águas no comportamento industrial da região, os resultados são mais preocupantes, mesmo com a recuperação durante os oito anos do governo Lula da Silva: em 1994 a participação do emprego industrial no conjunto de postos de trabalho na região era de 53,68%, com 276.757 trabalhadores na indústria de transformação de um estoque geral de 515.568. Já em 2014, 20 anos depois do Plano Real, a participação relativa do emprego industrial formal caiu para 29,65%, ou 44,76% de queda, com 243.757 trabalhadores industriais num universo de 822.142 carteiras assinadas. A explicação é a combinação de demissões muito acima de contratações no setor industrial e avanço de empregados nas demais atividades, principalmente em serviços. 


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