A fotografia que a coluna social do Diário do Grande ABC estampa na edição de hoje, com este jornalista ao lado do presidente daquela empresa, Ronan Maria Pinto, na festa de largada da nova temporada de futebol do Esporte Clube Santo André, aquela fotografia é apenas um terço dos encontros que mantivemos ontem.
Almoçamos numa cantina em Santo André e, em seguida, conversamos por bom tempo na sede do jornal. Aos leitores que se surpreenderam com essa proximidade, existem duas explicações imediatas: a pauta que permeou os encontros é a regionalidade em frangalhos na região e, por conta disso, não existe outra maneira de procurar ganhos sistêmicos para a sociedade regional que eventual aproximação entre divergentes.
Sei que os leitores estão curiosíssimos para saber o que conversamos durante tanto tempo, mas é pura perda de tempo acreditar que abrirei a guarda. Ronan Maria Pinto é um de meus alvos principais como jornalista que pretende ver a região fortalecida a partir de uma institucionalidade que contemple o compromisso com o futuro. O empresário jamais se desviou do caminho democrático e de liberdade de expressão, muito menos se utilizou de uma instituição tradicional como o Diário do Grande ABC, para tentar me calar. Já imaginaram se Ronan Maria Pinto fosse alguma coisa que se assemelhasse a Milton Bigucci, o ditador do Clube dos Especuladores Imobiliários, cujo esporte preferido é gastar um pouco de sua fortuna de milionário para tentar criminalizar quem não aceita suas bobagens?
Foi muito bom mesmo ter me reaproximado de Ronan Maria Pinto. O motivo do telefonema que lhe disparei depois de muito tempo não consumiu mais que cinco minutos das seis horas de conversa. Pretendia conhecer detalhes do envolvimento do Saged e do Ramalhão na milionária transferência do craque Ricardo Goulart, revelação da equipe, para o futebol chinês, negociado pelo bicampeão Cruzeiro de Belo Horizonte. Havia série de questionamentos. Ronan Maria Pinto explicou pessoalmente em detalhes.
Quantos estão preocupados?
Não sei quantos estão preocupados com a foto da edição de hoje do Diário do Grande ABC. Muito menos não saberei repercutir o que ocorrerá ante a revelação de que não compartilhamos durante apenas duas horas da mesma mesa do Estação Jardim. O que sei e sei mesmo é que há quem faça qualquer coisa para que este jornalista e o dono do Diário do Grande ABC sigam a léguas de distância entre si. Rio sozinho só de imaginar o quanto esses gafanhotos sociais podem perder de sono ante a confluência de pautas. Regionalidade e institucionalidade, irmãs siamesas, foram a temática durante todo o tempo de interlocução.
Fico muito à vontade na companhia de Ronan Maria Pinto. Como a franqueza faz parte de minha personalidade, nada praticamente tenho a lhe dizer pessoalmente que não tenha escrito nestas páginas. Resumidamente, Ronan Maria Pinto sempre foi resguardado neste espaço como vítima de uma tramoia investigatória de que teria participado do assassinato do prefeito Celso Daniel.
Nada mais falso e absurdo, como cansei de escrever. No campo esportivo, Ronan Maria Pinto foi o maior e o pior presidente da história do Santo André dentro de campo. Maior porque levou a equipe à Série A do Campeonato Brasileiro e chegou também ao vice-campeonato paulista. Pior porque, com a Saged, empresa que terceirizou o Ramalhão, enfiou a equipe na Sexta Divisão. No campo jornalístico, Ronan Maria Pinto adquiriu uma empresa esfacelada e a caminho da extinção, mas detentora de marca valiosíssima. Trabalhou duramente nos últimos 10 anos. Nesse período, não garantiu voos editoriais que me convençam de que o Diário esteja à altura das prioridades da região, mas assegurou a continuidade da publicação ao arrumar a casa financeira.
Reconhecimento sem frescura
Não ouvi de Ronan Maria Pinto um resmungo sequer sobre o fato de ter-me autointitulado ombudsman não autorizado do Diário do Grande ABC e de outros veículos de comunicação da região. A série de reparos principalmente à publicação que preside não foi desdenhada pelo empresário, reação comum entre aqueles que se sentem incomodados mas querem fazer crer que não estão.
Bem diferente disso. Ronan Maria Pinto fez questão de dizer que acompanha de perto meu trabalho. Tanto quanto a cúpula editorial do jornal. O diretor de redação Sérgio Vieira e o filho de Ronan Maria Pinto, Danilo Fernandes, também diretor do jornal, participaram de parte do encontro no gabinete de Ronan Maria Pinto. Foram momentos de descontração.
Depois de tantas horas com Ronan Maria Pinto, restou a certeza de que o Diário do Grande ABC é uma empresa sem sobressaltos financeiros e que agora já acionou o trem de pouso para a decolagem editorial de que tanto a região carece. Talvez decolagem não seja o termo adequado. O Diário do Grande ABC já está às alturas há muito tempo e com a força da tradição resistiu às turbulências que o abalaram, mas não o abateram. Possivelmente este jornalista tenha contribuído para isso. Afinal, nem sempre o piloto automático é a melhor alternativa de navegação.
Uma ótima experiência
Passar seis horas com Ronan Maria Pinto foi uma ótima experiência. Voltei para casa com a impressão de que as trevas institucionais que se instalaram na região poderão ser gradualmente eliminadas, sob pena de que poucos deixarão de soçobrar e mesmo estes vão lamentar profundamente terem resistido, porque o valor de face desse território, em processo de derretimento, pode tomar o mesmo rumo da Petrobras destes tempos.
Ou seja: se não bastarem as razões de cidadania para o ajuntamento dos divergentes com base numa ampla agenda restauradora, que prevaleça, então, o instinto de sobrevivência. Vivemos naquelas seis horas o compromisso da primeira opção, mas não seria vergonha alguma recorrer à segunda.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)