Sugeri informalmente em agosto de 2013 ao dirigente do Ciesp de São Bernardo, Hitoshi Hyodo, que a Prefeitura local promovesse espécie de tomografia para conhecer a indústria de transformação que garante grande parte dos recursos orçamentários. Menos de um mês depois li em jornais que o Ciesp de Hitoshi Hyodo e a Prefeitura de Luiz Marinho preparariam um anuário para supostamente oferecer rico material estatístico aos interessados em investir no Município e à sociedade consumidora de informação. Nenhuma citação foi feita ao autor da sugestão, mas isso não tem importância alguma.
O que espero ansiosamente é que o documento seja tudo aquilo que deve ser, embora não tenha mais que mencionado de passagem a ideia ao dirigente do Ciesp. O planejamento da ação requer tempo e disposição. A proposta vale para a Província do Grande ABC como um todo. Não existe como separar a imagem municipal da imagem regional em termos de investimentos, de chamariz a novos empreendimentos, exceto em casos especiais.
Somos todos um só pedaço geoeconômico, embora a maioria dos gestores públicos trabalhe com a cabeça de motorista de taxi. Explico: li nesta semana nos jornais locais que as tarifas de taxis na região são acrescidas em 50% quando a corrida ultrapassa os limites do Município do embarque. Provavelmente os taxistas se inspiraram nos políticos divisionistas por natureza para cometerem tamanha sandice -- para não dizer outra coisa.
A Agência de Desenvolvimento Econômico promete que vai interferir na situação e acabar com as divisas que a própria Agência encontra mil dificuldades para eliminar nas relações internas e nos projetos de intervenção em várias áreas de interesse da sociedade. Espera-se que o Complexo do Motorista de Taxi subjacente no Complexo de Gata Borralheira não emperre ainda mais a região.
Forças antagônicas
Voltando ao Ciesp de São Bernardo e àquela conversa rápida de bastidores, lembro-me da recepção oferecida tanto numa primeira abordagem, quando tratamos pessoalmente da palestra que fiz a algumas dezenas de empreendedores, quanto o carinho ao chegar ao local na semana seguinte, recepcionado pela cúpula da entidade.
Não divulguei previamente minha presença naquele encontro mensal de associados do Ciesp com um convidado que chamam de destaque porque pretendi me preservar de surpresa em forma de desconvite. As forças aliadas do Assalta Grande ABC e do Festeja Grande ABC querem me ver pelas costas. Sou um convidado incômodo em qualquer tipo de reunião onde possa repassar conhecimento e impertinência, não necessariamente nessa ordem. Por isso evito compromissos públicos inclusive para preservar terceiros. O Ciesp de São Bernardo foi uma exceção porque no encontro preliminar insisti se não haveria recuo ante eventual pressão de forças estranhas.
A relação com o dirigente do Ciesp de São Bernardo parecia sólida demais para ser verdade. Chegamos a almoçar 15 dias após a conferência na qual não me utilizei de discurso ambíguo como muitos que escrevem uma coisa e falam outra, de acordo com as circunstâncias. Hitoshi Hyodo parecia tão convicto de que a linha de pensamento deste jornalista estaria alinhada com os pressupostos do Ciesp de São Bernardo que aquela feijoada traçava a possibilidade de novas rodadas de interlocução produtiva e de gastronomia comedida.
Qual nada: não mais o dirigente do Ciesp me ligou e muito menos lhe liguei. O que conversamos naqueles encontros é segredo profissional do qual não abro mão, mesmo que amanhã supostamente ele se torne um de meus desafetos. Nem mesmo o fato de ele ter levado minha ideia ao secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, Jefferson José da Conceição, me incomodou. Primeiro porque em artigos publicados muito tempo antes já havia proposto um apanhado minucioso sobre a indústria da região. Segundo porque o que mais vale nestas alturas do campeonato não é a cor do gato, mas que cace o rato.
Cadê o anuário?
Sei que sei que a interferência para o sumiço do dirigente do Ciesp de São Bernardo de minha agenda tem relação íntima com a política de retaliação e de comando dos cordéis políticos, econômicos e midiáticos da Província pelo PT de Luiz Marinho e seu entorno. Eles não suportam jornalista independente. Muito menos jornalista que não poupa restrições à forma com que conduzem a Prefeitura de São Bernardo.
Em agosto vai completar dois anos de encontro no Ciesp de São Bernardo. E também dois anos desde que o Ciesp e a Prefeitura de São Bernardo anunciaram o anuário estatístico. Tomara que o produto não seja a repetição de assemelhados do passado, sem agregado de valor estratégico.
A iniciativa de tomar o pulso da economia regional com uma gama de indicadores confiáveis e também explicativos deveria ser agenda obrigatória do Clube dos Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Econômico. A questão envolve interesses coletivos da região. A particularização territorial é melhor do que nada, mas é pouco perto do necessário.
Qualquer espécie de número sobre determinados setores e segmentos industriais da região será sempre visto com desconfiança e inconsistência porque não representará o universo pretendido. O Ciesp de São Bernardo deveria se juntar às demais unidades da região para sensibilizar o Poder Público à empreitada.
Estamos navegando ao deus-dará, sem saber exatamente para onde nos encaminhamos. Muitas perguntas precisam ser respondidas. Uma das quais é o peso regional da indústria automotiva no conjunto do setor industrial paulista e nacional. Entenda-se por peso regional tudo que se refere à atividade sobre-rodas, que carrega a Província nas costas tanto quanto pode nos dar uma rasteira.
O paradoxo é o seguinte: na medida em que o setor automotivo se torna mais importante à sustentabilidade orçamentária das prefeituras e ao equilíbrio social da região, mas menos importante em termos de participação na produção nacional por conta da descentralização produtiva de empresas que fogem de nossos custos específicos como o diabo da cruz, mais estaremos encalacrados.
Colunismo social
Ainda sobre Hitoshi Hyodo, só me lembrei da conversa que tivemos num passado recente e de tudo que nos aproximou e nos afastou porque assisti outro dia uma entrevista dele à versão televisiva online do Diário do Grande ABC. Uma entrevista amena, sem grandes lances jornalísticos no sentido de cutucar a onça da improdutividade regional com a vara curta de questionamentos obrigatórios. Uma entrevista digna de colunismo social.
Uma entrevista que tem seu valor relativizado, portanto. Hitoshi Hyodo provavelmente tem limitações institucionais a lhe impor restrições. Exatamente o oposto deste jornalista, do qual preferiu fugir para atender a propósitos de terceiros que querem continuar a mentir para a sociedade.
Entretanto, como mentira tem a pernas curtas, nada melhor que uma crise do tamanho da que está aí para levar o chefe da Prefeitura de São Bernardo a decisões estapafúrdias, como o aumento de tributos municipais que atingem inclusive o setor industrial, contando com o silêncio comprometido de entidades empresariais.
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