Economia

Como é o rombo da balança
comercial na indústria regional?

DANIEL LIMA - 09/03/2015

Façam essa pergunta a qualquer dirigente politico, empresarial, sindical e o escambau, com direito a detalhamento da situação, e a resposta será um silêncio vergonhosamente despudorado na Província do Grande ABC. Sabe por quê: porque não temos um mínimo de organização estatística e analítica para entender o tamanho da encrenca da indústria regional.


 


A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) acaba de anunciar em forma de entrevista o que ocorreu no Brasil com o setor de transformação industrial entre 2006 e 2014. Os resultados são inquietantes para quem não acompanha o andar da carruagem e revoltantes para quem sabe que a carruagem vai e volta indefinidamente.


 


Mas o governo federal da patética presidente Dilma Rousseff, boneco de ventríloquo de marqueteiros fantasiosos em pronunciamentos como o de ontem à noite na TV, preferiu nesse período todo vender a bobagem de que avançamos econômica e socialmente. Quando muito, os avanços sociais se deram à custa da recarga tributária distributivista, que não se sustentaria quando o jogo fosse para valer. Nada mais que isso. 


 


O estudo da Fiesp, segundo a reportagem publicada na edição de hoje do Estadão, aponta que entre 2006 e 2014 setores intensivos em recursos naturais e que usam pouca tecnologia responderam por quase 70% do avanço das exportações da indústria. Ou seja: o Brasil se consolidou nos últimos oito anos, como destaca o jornal, como exportador de itens que são quase matérias-primas também no segmento industrial.


 


Estragos regionais


 


Alguém imagina o tamanho do estrago na indústria de transformação regional? Como revelamos ainda outro dia, São Bernardo, nossa capital econômica, perdeu 25% do PIB Industrial em 2012, último período em que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) mediu o comportamento do setor nos municípios brasileiros. Como São Bernardo perdeu tanto PIB Industrial e quanto isso significou no balanço de exportações? Apenas os números que são apresentados de tempos em tempos não servem. Faltam os caminhos que explicam a derrocada.


 


Ainda segundo o Estadão, nos oito anos pesquisados a indústria de transformação brasileira teve aumento de exportações de US$ 31 bilhões. Desse acréscimo, US$ 21,6 bilhões, ou 69,7%, foram resultado de setores de baixa tecnologia, como abate e fabricação de produtos de carne, produção e refino de açúcar, produção de óleos e gorduras vegetais, por exemplo. Já as exportações de segmentos industriais que agregam maior valor aos produtos – explica o Estadão – ficaram praticamente estagnadas no período. No sentido contrário, as importações da indústria entre 2006 e 2014 aumentaram US$ 122 bilhões, quase quatro vezes o acréscimo registrado pelas exportações – sempre segundo o jornal paulistano.


 


O diagnóstico do diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, dá a ideia do que a gestão petista impõe à indústria nacional: “Não estamos desenvolvendo dentro de nossa indústria produtos de alto valor que possam ser exportados. A vulnerabilidade está justamente aí” – disse o dirigente.


 


A indústria nacional durante os anos petistas se acomodou no mar de negócios proporcionado pela febre exportadora de commodities minerais e agrícolas, principalmente demandadas pela China e vizinhança asiática. Caímos no buraco da doença holandesa circunstancial. Queimamos uma importante etapa favorável ao revigoramento industrial num período em que, soube-se apenas bem depois, parcelas de gestores públicos federais, além de legisladores, deleitavam-se nas riquezas da Petrobras e de outras estatais.


 


Jogo mundial


 


Sou capaz de apostar que, selecionado um grupo de 50 dirigentes públicos e outro tanto de dirigentes de entidades empresariais e sindicais da região, poucos responderão sobre esses estudos da Fiesp. A Província do Grande ABC, por mais paradoxal que pareça, não tem vocação para tentar compreender o jogo econômico mundial que permeia o futuro de quase três milhões de habitantes.


 


A quase totalidade dos agentes econômicos, políticos e sindicais vive em universo paralelo dominado pelo joguinho político-partidário que não tem outra finalidade senão disputar ou influenciar os melhores postos nos organogramas oficiais.


 


E a mídia não é diferente. Os espaços dedicados à economia regional (e as demandas institucionais que poderiam advir disso) são simplesmente ridículos quando confrontados com as baboseiras do noticiário político de gente pobre de conteúdo, de propostas e de realizações, mas extremamente boa de bico. 


 


Um amplo diagnóstico sobre a economia regional e as nuances que demarcariam medidas a substituir passado e presente de ignorância ampla e irrestrita por um modelo de interação, comprometimento e transformações – eis uma proposta que formulo mais uma vez. E quanto mais o tempo passa, mais ficamos encalacrados, iludidos pelo monopólio de parcos dados estatísticos ditado pelo efeito da doença holandesa do setor automotivo e também, subsidiariamente, pela indústria química e petroquímica.


 


Inutilidades institucionais


 


É por essas e outras que não canso de escrever que o Clube dos Prefeitos e a Agência de Desenvolvimento Econômico estão a léguas de distância da premissa de que a Província do Grande ABC precisa muito mais do que de um banho de loja de dados. Precisa mesmo é de uma ampla cirurgia seguida de tratamento com uma junta de especialistas que desconsiderem o municipalismo arraigado que tanto nos emperra e nos condena a sofrer contínuas perdas de participação real e relativa no espectro nacional por si só já cambaleante, como denuncia a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.


 


Entretanto, por mais que os dados da Fiesp sejam valiosos para checar o estado de saúde da indústria nacional, ainda estão muito distantes do que pretendemos para a Província do Grande ABC. Aqui, as representações daquela entidade, as unidades do Ciesp, desenvolvem ações excessivamente intramuros e superficiais ante a gravidade da crise industrial que há duas décadas reduz mais e mais a mobilidade social em outros tempos invejável. Caberia às representações da indústria de transformação da região sensibilizar os gestores públicos em busca de saídas que minimizem a gradual destruição de nosso poderio econômico.


 


A indústria de transformação da região tem influência duas vezes maior que a média nacional no conjunto de riquezas produzidas. Em última instância a diferença indica que, dado o descaso federal à atividade, o grau de risco que nos ameaça é igualmente duas vezes maior que a média nacional. Trocando em miúdos: temos muito a perder, porque não fazemos nada para ganhar ou mesmo manter.


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