O medíocre prefeito de São Bernardo, o ex-sindicalista Luiz Marinho, reúne capacidade inesgotável de provar mesmo aos mais céticos que é capaz de se superar sempre e sempre. O artigo que diz ter escrito, mas certamente da lavra de um assessor de imprensa igualmente fundamentalista, é um acinte contra a cidadania. Para ele, não existe motivo algum do panelaço de domingo à noite, enquanto a presidente Dilma Rousseff ocupava mais uma vez e de forma recordista na história da política nacional uma rede de televisão para desfilar palavrórios marquetológicos preparados para engabelar mais uma vez as parcelas ingênuas da sociedade brasileira e chamar de otário quem tem algum cérebro.
Fragorosamente derrotado nas últimas eleições à presidência da República e ao governo do Estado entre os paulistas, quando coordenou o exército de brancaleones do PT, Luiz Marinho guarda relação mais que próxima com o ex-presidente Lula da Silva como única trincheira a despertar algum tipo de cuidados dos adversários políticos e também dos aliados antigos e de conveniência. Tirem-lhe Lula da Silva do costado protetor e Luiz Marinho voltará a ser simplesmente um ex-sindicalista.
Desprestigiado no próprio partido, é claro que Luiz Marinho não perderia a oportunidade de sair em busca de uma bandeira para tentar resgatar alguma coisa que lembre os tempos em que era ouvido com certa credibilidade como sindicalista. Deu-se mal. Tremendamente mal. Desprezaram ele e seu assessor de imprensa que, em tempos de tormentas, o dia seguinte sempre promete mais complicações. Como ontem em São Paulo, na exposição do setor de construção civil.
Quem considerava o texto do jornalista Juca Kfouri estuário de insensatez e despropósito, desprezou o potencial patético do prefeito de São Bernardo.
Agora, como fizemos com o artigo do grande jornalista esportivo Juca Kfouri, adotaremos o mesmo modelo de contraditório. Reproduziremos a seguir o artigo de Luiz Marinho, veiculado principalmente na mídia esquerdista, e o intercalaremos com contrapontos. Minhas intervenções são em negrito:
Peço licença para parodiar o poeta maluco beleza, pois essa pergunta martela na minha cabeça desde a noite do último domingo, 8 de março. Li, naquela mesma noite, em sites de noticias, que haviam acontecido manifestações em prédios de bairros nobres de algumas capitais brasileiras no momento em que a presidenta Dilma se pronunciava pela passagem do Dia Internacional da Mulher e sobre os ajustes que estão sendo feitos para combater a crise econômica que atinge nossa economia e de vários países. Manifestações essas mobilizadas pelas redes sociais no domingo.
Nada melhor do que o tempo e as circunstâncias para descaracterizar a tolice industrializada pela esquerda burra de que o panelaço nas janelas da classe média de várias capitais brasileiras era apenas uma reação tardia e ressentida aos resultados eleitorais de outubro do ano passado, sem qualquer relação com aquilo que Luiz Marinho e os tolos do esquerdismo surdo e mudo, além de mentiroso, procura desqualificar, ou seja, que a raiz do descontentamento é o encaixe entre o escândalo da Petrobras e os descalabros macroeconômicos nacionais, os quais têm muito pouco a ver com o quadro internacional.
Pois bem. Será que essas panelas batem por que não há carros de luxo para pronta entrega nas concessionárias, já que a oferta está muito menor do que a demanda? Ou porque as filas de espera em restaurantes de luxo continuam grandes? Ou será que batem por que as viagens a Miami e os gastos de brasileiros no exterior continuam crescendo? Talvez seja.
A manipulação dos fatos é malfeito de petistas com viés de deboche entre outras razões porque não têm apetrechamento para adensar o pensamento articulado e crítico que desqualifique os oponentes pelo empuxo de racionalidade, não pelo abuso do panfletarismo. Luiz Marinho se mostra aparentemente muito íntimo das classes mais aquinhoadas da sociedade, possivelmente porque há muito abandonou o mundo dos metalúrgicos que impulsionou sua ascensão social e o mergulhou de vez no estrato mais nobre. Ignorar o descalabro econômico pós-eleições, situação mais que prevista mas covardemente negada em favor dos votos dos menos informados, seria um gesto de apagão explicativo não fosse de má-fé explícita.
Só tenho certeza que elas não batem pelos milhões de brasileiros que nos últimos anos, durante os governos Lula e Dilma, deixaram a linha da pobreza. Ou pelos outros milhões que chegaram à classe média. Assim como não batem pelos milhões de brasileiros que, desde a chegada de Lula à presidência, conseguiram ingressar em um curso superior, seja pela criação de milhares de vagas em universidades públicas ou beneficiados pelo PROUNI ou FIES.
Essas conquistas sociais foram bafejadas por fatores externos, como a multivalorização das commodities, e jamais pela engenharia de gestão econômica do PT e aliados que, como se sabe e se prova, se concentrou basicamente na produção dos maiores escândalos sistêmicos do País. Não fosse o quadro econômico internacional, mais precisamente a exportação recorde de commodities aos asiáticos, principalmente os chineses, e não fosse também o triunfalismo consumista que forjou artificialmente uma nova classe média que não passa de conversa para boi dormir, como recentes estudos provam, a agremiação de Luiz Marinho teria se notabilizado apenas e exclusivamente pela criatividade e organização de amealhar dinheiro dos outros, mais precisamente dos contribuintes nacionais, canalizando-o a grupos privilegiados no poder e no entorno do poder. Basta ver o escândalo constatado e catalogado da Petrobras e de outras estatais que estão na alça de mira de forças investigativas.
Sei que elas não batem por aquelas milhões de famílias que hoje têm um teto para morar graças ao programa Minha Casa, Minha Vida. Nem pelos milhões que conseguiram comprar o seu carrinho ou andar de avião pela primeira vez nos últimos anos. Sim, paradoxalmente as panelas não batem por aqueles que mais precisam do Estado em nosso País.
As panelas de milhões de famílias que os programas sociais dos governos do PT alimentaram e do sonho de verão de classe média precária que trocou ônibus por avião, essas panelas já estão se esvaziando e não demorará para começarem a bater também. Como se pode ver ainda ontem, durante manifestação em São Paulo contra a presidente Dilma Rousseff. Uma manifestação de trabalhadores que não estão submetidos ao torniquete sindicalista doutrinário de um estrato da sociedade induzido a esquecer ou a minimizar que as roubalheiras na Petrobras custam muito mais aos cofres públicos do que dezenas de anos de financiamento do Bolsa Família. O que Luiz Marinho sugere ao evocar os supostos feitos petistas é que ao assistente de atendimento de um orfanato se dê regalias de meter-se lençóis adentro dos internos a cada final de jornada. É a pedofilia administrativa e gerencial petista, portanto, o cerne conceitual utilizado por Luiz Marinho.
Leonardo Boff, em recente artigo intitulado "O que se esconde atrás do ódio ao PT?", explica bem esse fenômeno.
Ninguém mais apropriado para ser evocado como árbitro decididamente favorável ao PT do que um fundamentalista religioso e ideológico.
Entendo como democráticas manifestações de opiniões contrárias. Pois é com o contraditório que construímos os melhores caminhos. É pelo confronto de ideias que elaboramos os consensos necessários à democracia. Contudo, quando manifestações são instrumentalizadas para a defesa de interesses mesquinhos e externos ao nosso País, não posso calar-me. Sim, o momento é difícil. Demandará ajustes duros em alguns casos. Mas nada, absolutamente nada parecido com que os representantes que articulam hoje essas manifestações fizeram quando estavam no governo.
Luiz Marinho não deve calar-se mesmo, porque suas manifestações são a prova viva do quanto há de distância entre a serenidade e a traquinagem. O conceito do prefeito Luiz Marinho sobre contraditório é tudo, menos algo que se apresente como legítima contestação aos mandachuvas circunstanciais como ele.
Mas nada, absolutamente nada parecido com que os representantes que articulam hoje essas manifestações fizeram quando estavam no governo. Os interesses da imensa maioria dos brasileiros foram e sempre serão defendidos pelos governos do PT. A nossa opção pelos mais pobres, pelos trabalhadores e trabalhadoras, pelos pequenos e microempresários, pelo pequeno agricultor é clara e manifesta. E desta linha não nos afastaremos.
Aqueles que têm tido seus interesses contrariados - em especial o grande capital especulativo internacional e os seus representantes aqui no Brasil, que manifestadamente instrumentalizam uma falsa crise para mobilizar a classe média alta brasileira, apostando no ódio contra o PT e a presidenta -, tenham a certeza de que mais uma vez perderão. Pois a esperança vencerá. E a esperança estará nas ruas sempre que a construção deste País mais justo, igualitário e forte for colocada em risco por oportunistas ingênuos ou mal intencionados.
O discurso de ódio dos ricos aos pobres é uma velha e surrada artimanha cujo objetivo deliberado é instaurar ambiente de beligerância entre brasileiros, enquanto as quadrilhas que tomaram conta do governo federal e também de prefeituras e governos de Estados seguem na expectativa de que poderão reiniciar o processo de apoderamento com dinheiro dos contribuintes. Luiz Marinho passou a vida inteira sob a guarda de trabalhadores nos embates com empresários poderosos do setor automobilístico, sempre incensado pela mídia setorial, e imaginou que, político, seguiria em eterna lua de mel, sem correr o menor risco de pronunciar bobagens demagógicas pretensamente para dissuadir o ímpeto de indignação da sociedade, agredindo-a por tomá-la por um conjunto uniforme de idiotas.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)