Economia

Quando os sindicatos vão abrir a
Caixa de Pandora da produtividade?

DANIEL LIMA - 12/03/2015

Num microartigo que escrevi outro dia para o Diário do Grande ABC repeti com outras palavras e muito mais poder de síntese o que venho batalhando para meter na cabeça de gente que acredita que pode mudar a economia da região. Estou me referindo à Caixa de Pandora da produtividade nas montadoras e autopeças da Província do Grande ABC. Entenda-se por produtividade automotiva mais que a divisão simplista de produção física pelo número de trabalhadores envolvidos.


 


No caso da Província, produtividade é também botar para quebrar os números de custos trabalhistas diretos e indiretos e o faturamento bruto das empresas. A ideia pode ser mais sofisticada econometricamente falando, mais adequada ao enquadramento de especialistas, mas não estou preocupado com isso agora porque tornaria o texto árido. Basta a simbologia. 


 


Aliás, não sou o autor dessa proposta, embora tenha sido largamente o profissional de comunicação que mais a defenda. Já faz uma década e meia aquele encontro de agentes públicos e empresariais na Prefeitura de São Bernardo comanda por Maurício Soares. O desafio era enquadrar o Custo ABC na bitola do Custo Brasil, mais precisamente do Custo Montadoras de Veículos.


 


Já se tinha a convicção de que perdíamos de lavada para os concorrentes que se espalhavam pelo território nacional. Não houve sequência das apresentações. Nem mesmo uma nova reunião foi levada adiante. Os sindicalistas pularam fora ---, o agora prefeito Luiz Marinho entre eles. O Custo ABC não é uma equação que diz respeito aos metalúrgicos, principalmente aos metalúrgicos, quando se considera os interesses corporativistas dos metalúrgicos. Eles querem o poder de mando paralelo das empresas e de sensibilização doutrinária socialista dos trabalhadores com emprego.


 


Anos de bronze


 


Aliás, por conta disso cheguei à conclusão que, se os anos Fernando Henrique Cardoso provocaram estragos terríveis na região, por razões que já cansei de esmiuçar, embora para o restante do País, em termos macroeconômicos, haja controvérsias e até mesmo defensores de espectros bastante relevantes, os anos sindicalistas têm se comprovado continuamente dolorosos.


 


Todo o ativo de respeito, consideração e ganhos à classe de trabalhadores que a maioria das grandes e médias empresas desprezou ao longo de décadas se esvaiu na sequência na esteira do corporativismo fundamentalista.


 


Os sindicalistas da região não têm coragem de abrir a Caixa de Pandora porque sabem que dali vão escapulir todos os males que abalarão terrivelmente o que eles imaginam contar como capital de prestígio.


 


Já se foi o tempo em que o movimento sindical era visto como extraordinária força propulsora ao dinamismo social como um todo. O desempenho da economia da Província do Grande ABC nos últimos 20 anos prova que perdemos o trem da história, mesmo sem deixar de considerar que em outros territórios houve agressões a determinados direitos trabalhistas. Radicalizamos na gulodice, eles na avidez.


 


O sindicalismo da Província do Grande ABC não é uniforme nas virtudes e nas deficiências, até porque segmentos e setores industriais não seguem uma mesma cartilha de atuação. Já houve redução de demandas trabalhistas em pequenas empresas, antes medidas pela mesma régua das grandes e médias. A mudança não significa que houve transformações significativas. Apenas se amenizou o quadro. Até porque, a desnacionalização, a morte e a evasão de indústrias de pequeno porte foram uma regra generalizada no território regional.


 


Quem se dirige de veículo de passeio à Grande Campinas, à Grande Sorocaba e à Grande São José dos Campos sabe do que estou falando. As logomarcas antes brilhantes aqui não nos maltratam apenas porque debandaram e evocam desenvolmentismo. Também nos deixaram um rastro de destruição dissimulada por empreendimentos de serviços e comerciais que alimentam ego mas não espraiam formação e distribuição de riquezas como antigamente.


 


Só até esse parágrafo este texto já é 50% maior que o desafiador artigo que escrevi para o Diário do Grande ABC. É muito mais fácil escrever mais do que escrever menos. Mas isso não significa que a produtividade seja diferente. Tudo é questão de encaixe, de redefinição de estilo.


 


Bem diferente da produtividade industrial e também de outras áreas da economia, que se reflete nos balanços. Ou seja, há meios de comprovar que uma determinada empresa ou um determinado segmento suporta eventuais dificuldades quando confrontado com outros territórios geográficos.


 


Os sindicalistas da região fogem da raia de mostrar os números da indústria automotiva que as montadoras exibiram no passado e que transformei em reportagem de capa da revista LivreMercado porque sabem que o discurso de modernidade cheiraria à naftalina. Eles perderam a corrida reoxigenadora de atrair investimentos porque representam espantalho a quem leva produtividade a sério.


 


Sono incontrolável?


 


Nossos sindicalistas ainda não acordaram para a globalização, verbete que até saiu de moda, substituído por tantos outros mas todos vinculados a produzir cada vez mais com menos custos financeiros, materiais e ambientais, para deleite dos consumidores e usuários.


 


Qualquer projeto que eventualmente coloque o desenvolvimento econômico e social na alça de mira de transformações inexoráveis para aumentar nossa competitividade em termos nacionais e internacionais passará obrigatoriamente pela revisão austera da farra do trabalhismo descomprometido com o conjunto da sociedade. Mais que isso. Trata-se de um trabalhismo plugado apenas nas vantagens consolidadas de modelos do Primeiro Mundo que, por ser Primeiro Mundo, de longevidade aplicativa, não pode ser simplesmente rebocado a uma região decadente, como decadente é a indústria de transformação nacional, fartamente identificada assim pelos mais variados estudos não ideologizados. 


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