O Clube dos Prefeitos do Grande ABC é uma vergonha mesmo. Nem entro em detalhes sobre diversas atividades sociais que supostamente abrangeria. Prefiro o ramal exclusivo da Economia, centro estratégico de desenvolvimento. Desde sempre o Clube dos Prefeitos fecha os olhos e tapa os ouvidos ao clamor do bom senso. E o bom senso afirma com a certeza da realidade contínua que sem organizar a casa regional é impossível supor que sairemos do atoleiro.
O Clube dos Prefeitos acredita que gastar milhões em publicidade, como se pretende, é compromisso com a sociedade. Seus dirigentes são amadores metidos a besta. Mimetizam outras esferas de governo igualmente despreparadas para servir às comunidades. Querem se servir de vantagens proporcionados pela poder e pela cidadania em frangalhos.
É muito importante organizar a casa econômica da região, mas para tanto é indispensável tomar o pulso das especificidades setoriais para detectar o que somos de fato no conjunto. E isso é tarefa para especialistas.
O prefeito Luiz Marinho, que segue, por baixo dos panos, prefeito dos prefeitos da região, como comandante do Clube dos Prefeitos, só no papel sob a liderança fajuta do prefeito de Ribeirão Pires, Gabriel Maranhão, é o principal responsável pelo fracasso econômico ou, de forma menos enfática, pela incapacidade regional de procurar encontrar mecanismos que atenuem o encalacramento em que se meteu, refém da Doença Holandesa do setor automotivo.
Afinal, Luiz Marinho representa o governo federal na região há 12 anos. E nada fez senão cuidar do próprio quintal, com ações suspeitíssimas. Inclusive ao sustentar relações mais que estranhas com uma das maiores empreiteiras do escândalo da Petrobras, a OAS. E de vender bobagens marquetológicas -- como a construção de um aeroporto internacional em plena área dos mananciais e de tentar transformar em redenção econômica regional uma fabriqueta de estrutura metálica rudimentar do projeto Gripen.
Entidades improdutivas
As minhas restrições explicitadas aqui há muito tempo às associações comerciais e às unidades do Ciesp referem-se sobretudo à insistência com que desprezam a liberdade de atuação que supostamente teriam para pressionar os governantes de plantão. Nem uma instituição nem outra (as demais, não diretamente ligadas à Economia passam longe de qualquer iniciativa porque não cuidam nem mesmo do que estaria nos respectivos entornos) se dão à dignidade operacional e estratégica de agir individualmente ou propor movimentação coletiva para não só cobrar mas participar ativamente de iniciativas que recolocariam a Província do Grande ABC na bitola de estabilidade produtiva num primeiro momento e de revigoramento do tecido industrial em seguida.
Associações comerciais e Ciesp seguem a léguas de distância das necessidades de dinamismo econômico da região. Na maioria dos casos estão pendurados em acordos informais de boa vizinhança com prefeitos de plantão. O ingresso do presidente da Fiesp no mundo político-partidário-eleitoral influiu ainda mais nas permissividades.
A independência entre essas organizações e gestores públicos assemelha-se à atual situação da pobre presidente da República diante das raposas da Câmara de deputados. O regime parlamentarista já está instaurado no País, com todos os vieses pecaminosos e desprezíveis embutidos.
Na região, o mandonismo dos prefeitos protegidos por larga parcela da mídia empobrece duramente o diálogo. O tripé de sustentabilidade de um capital social progressivamente reformista entre Governo, Mercado e Sociedade, é fantasia. Conversa para boi dormir.
Reportagem confirmatória
Escrevo a propósito do Clube dos Prefeitos após ler o Valor Econômico nesta manhã de quarta-feira. A manchete de página interna (“Setores menos produtivos seguram PIB”) só não se encaixa perfeitamente à realidade regional porque vivemos o pior dos mundos desde que a internacionalização da economia brasileira no final dos anos 1980, acentuadamente incrementada na primeira metade dos anos 1990, provocou estragos mais agressivos.
A manchete que nos caberia perfeitamente (tenho cansado de provar com dados oficiais, num trabalho que deveria ser obrigação das Prefeituras, das entidades de classe econômica, dos sindicatos tão ávidos na manutenção de conquistas trabalhistas e também do Clube dos Prefeitos), seria muito mais ácida. Algo como: “Setores menos produtivos não seguram PIB”.
Diz a matéria do Valor Econômico que nos últimos anos o PIB (Produto Interno Bruto) não apenas cresceu pouco, mas cresceu de um jeito ruim. Entre os anos de 2005 e 2006, quando um conjunto de preços na economia estava no lugar e o mundo ajudava com crescimento e demanda por commodities, os seis setores de maior produtividade da economia brasileira ganharam participação na recomposição do PIB em relação ao começo daquela década. A participação desse grupo – informa o jornal – no valor adicionado da economia brasileira passou de 27,6% no período 2000-2001 para 30,3%, enquanto segmentos menos produtivos perderam espaço. A crise mundial e as políticas econômicas adotadas internamente impediram que segmentos mais eficientes mantivessem o lugar ocupado, e seu peso recuou para 27,3% entre 2010 e 2011, enquanto os setores de baixa produtividade – como comércio, alimentação e serviços pessoais – voltaram a responder por um terço da composição do PIB brasileiro. O estudo, informa o jornal Valor Econômico, é de Nelson Marconi, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
Buraco regional
Nada parecido em forma de estudos surgiu na academia regional nos últimos anos para analisar o comportamento da economia da Província do Grande ABC desde a chegada do PT ao poder federal. As estatísticas e as análises sobre o assunto estão nesta revista digital porque esse é um osso duro de roer que faço questão de destrinchar, para desgosto dos triunfalistas de plantão.
Repito que a obrigação seria das instâncias públicas, empresariais, sindicais e acadêmicas locais. Mas quem disse que temos massa crítica e, principalmente, coragem de contrariar os fortes interesses em jogo? Aqui o que mais se pratica – e isso vem de longe, inclusive dos tempos em que Celso Daniel era prefeito dos prefeitos da região, à frente do Clube dos Prefeitos e também da Agência de Desenvolvimento Econômico – é um joguinho sórdido de manipular dados para vender mentiras disfarçadas de estudos.
Voltando aos estudos do professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, para desgosto daqueles que combateram acirradamente este jornalista que cansou de afirmar que passamos por forte desindustrialização, ele declarou que o Brasil passa por algo muito pior. Chama de “regressão produtiva” o que muitas já admitem como desindustrialização. Nelson Marconi explica que há um duplo movimento por trás desse fenômeno: a perda de espaço da indústria é mais forte nos setores tecnológicos, enquanto no segmento de serviços que mais crescem são os mais tradicionais e menos modernos. “Crescemos pouco e crescemos nos setores de baixa produtividade e que pagam menores salários”, resume Marconi sobre algo que, insisto, denunciei à exaustão ao longo de duas décadas ao me referir à economia desta Província.
Custo ABC incrementado
A reportagem do Valor Econômico avança sobre os problemas que geraram o que Marconi chama de “crescimento pobre”, os quais têm intimidade profunda com a realidade econômica da região. Diria que no quesito custo da mão de obra muito acima da produtividade, provavelmente somos campeões nacionais, por influência e coerção do sindicalismo cutista que privilegia os empregados nas grandes empresas, com espalhamento imposto às empresas de menor porte.
Ganhos que outrora eram festejados como diferencial extraordinário de nossa capacidade de produzir mobilidade social viraram terror aos investimentos, resultando, como também provamos, em desaceleração contínua do processo de transformar pobres em remediados, remediados em classe média e classe média em ricos. Nossa competividade foi para o vinagre em doses cavalares. Na média nacional o choque foi menos impactante, mas também preocupante.
A leitura tradicional das chamadas forças políticas, econômicas e sindicais da Província do Grande ABC sobre desenvolvimento econômico sempre convergiu à associação de ignorância e oportunismo. Ignorância porque não entendem patavina de competitividade nacional e internacional. Oportunismo porque a tendência de capitalizar politicamente informações ideologicamente deformadas se tornou uma rotina exasperante. Com amplo e santificado aval do Clube dos Prefeitos, essa vergonha regional.
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