Economia

Desindustrialização e inchaço da
periferia reduzem ricos na região

DANIEL LIMA - 04/05/2015

A Província do Grande ABC tem um número menor de famílias da classe rica do que já teve no passado e provavelmente terá menos ainda no futuro. A desindustrialização combinada com o inchaço das periferias ajuda a explicar o desastre que tem nome, sobrenome e qualificativo: mobilidade social em processo de desaquecimento contínuo.


 


O orgulho regional vai para a cucuia com um simples enunciado: temos proporcionalmente menos famílias de classe rica do que Taubaté, no Vale do Paraíba. Nossos números gerais – influenciados por três municípios mais tradicionais, casos de Santo André, São Bernardo e São Caetano -- são melhores que a média brasileira, é verdade. Aliás, só faltava a Província perder para o Brasil tão desigual e ainda pobre para assinar um atestado de incompetência geral em lidar com o futuro.


 


Quando o confronto é com o Estado de São Paulo, também muito desigual, praticamente empatamos o jogo dos ricos.


 


Os números são absolutamente confiáveis, retirados e metabolizados do mapa de potencial de consumo do Brasil, especialidade da Consultoria IPC Marketing, do executivo Marcos Pazzini. A proporção de famílias ricas na Província do Grande ABC é de três para cada grupo de 100 residências. Superamos poucos municípios que formam o G-20, o grupo dos 20 maiores endereços econômicos do Estado de São Paulo, no qual a região tem cinco representantes: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá. Na contabilidade de apenas 3,0% de famílias ricas, incluímos Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Seria uma espécie de G-22, com sete municípios da região e os 15 maiores do Estado, exceto a Capital.


 


Menos de 30 mil famílias


 


Do total de R$ 65.204,215 bilhões que a população da Província tem para consumir nesta temporada, o que a coloca em quinto lugar na classificação geral do Brasil, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, R$ 8.523,000 bilhões estão na carteira das 27.393 famílias de classe rica.


 


Esses 3,0% de participação são, repetindo, o resultado da soma de todas as famílias ricas da Província nos sete municípios. O maior percentual de ricos está em São Caetano: de cada 100 famílias (são 56.998 residências), 7,2% estão no estrato socioeconômico mais elevado. São precisamente 4.117 famílias.


 


Santo André e São Bernardo contam com maior número absoluto de famílias da classe rica, mas estão abaixo da proporção de São Caetano porque são muito mais populosas e contam com periferias inchadíssimas. Santo André tem apenas 3,7% de famílias de classe rica de um total de 241.369 domicílios. Ou seja: são 8.918 residências catalogadas no alto da tabela. São Bernardo é semelhante a Santo André, com 3,6% de famílias ricas. Em números absolutos são 9.800 unidades domiciliares com essa característica, de um total de 268.607 residências.


 


A divisão da Província do Grande ABC em três categorias distintas de perfil socioeconômico confirma as nuances da sociedade regional muitas vezes desprezada por estudiosos que encaixotam análises sem diferenças geoeconômicas. A Província é um microcosmo do País, com a diferença de quem conta com mais ricos, mais classe média e menos pobre. No passado de glamour industrial era muito mais rica, muito mais classe média e muito menos pobre.


 


São Caetano está bem adiante de Santo André e de São Bernardo na participação relativa de famílias de classe rica, assim como Santo André e São Bernardo estão bem à frente dos demais municípios locais. Diadema conta com apenas 1,3% de famílias ricas, menos da metade dos 2,7% registrados na média brasileira. Do conjunto de 133.675 residências de Diadema, apenas 1.739 são de ricos. Em números absolutos é menos do que se verifica em Mauá, onde há 1.960 famílias ricas. Mas a participação de Mauá é a mesma de Diadema, de 1,3% de ricos, porque o número de residências da população é maior: são 145.298.


 


Abaixo de 10 cidades


 


Acima da baixa média de Diadema e Mauá no mapa de ricos da região está Ribeirão Pires, mas mesmo assim também aquém da média brasileira. Há 1,8% de famílias ricas entre os 38.410 domicílios de Ribeirão Pires, o que significa apenas 693 residências. A menor participação de famílias ricas na Província está em Rio Grande da Serra, que conta com apenas 166 domicílios nesta categoria, o que significa apenas 1,1% dos 15.457 das moradias locais.


 


Apenas cinco dos demais 15 municípios que integram o G-20 da economia do Estado de São Paulo contam com médias inferiores à da Província no mapa dos ricos brasileiros. Guarulhos (2,0%), Mogi das Cruzes (2,7%), Osasco (2,5%), Sumaré (1,8%) e Barueri (2,5%) integram a lista que, sintomaticamente, conta com quatro municípios da Região Metropolitana de São Paulo, também no roteiro de periferização populacional, e Sumaré, na chamada Grande Campinas, também com essa característica.


 


A relação dos municípios cujas residências são proporcionalmente em número maior de famílias ricas quando confrontadas com o conjunto da população é a seguinte: Campinas (4,3%), Jundiaí (4,3%), Paulínia (3,9%), Piracicaba (3,5%) Ribeirão Preto (3,7%), Santos (5,2%), São José do Rio Preto (3,8%), São José dos Campos (3,8%), Sorocaba (3,3%), e Taubaté (3,1%).


 


Se os sete municípios da Província do Grande ABC apresentam proporção de famílias ricas superior à média brasileira, de 3,0% contra 2,7%, e praticamente igual à do Estado de São Paulo, que registra 2,9% de residências nessas condições socioeconômicas, quando o confronto é com a Capital do Estado a desvantagem é grande. Mesmo sofrendo dos mesmos males da região, de fortes correntes migratórias ao longo de três décadas, quando as populações urbanas receberam imensidão de gente do campo e do Interior, a cidade de São Paulo conta com média superior de ricos: são 4,2 de cada grupo de 100 residências. Do total de 4.020.784 moradias da Capital, 170.693 são de famílias da classe mais alta, que podem consumir nesta temporada R$ 54.306.558 bilhões.


 


Quando confrontada com outras geografias a Província do Grande ABC também acusa os golpes da perda de produção e geração de riqueza ao longo de mais de décadas. A média de famílias ricas do Sudeste é 3,3%, contra 3,2% do Sul e 3,7% do Centro-Oeste. A região só derrota mesmo o Nordeste, com 1,1% de ricos, resultado igual ao das famílias de classe rica de Rio Grande da Serra, e o Norte, com 1,5% de incidência de ricos no conjunto da população – média superior ao resultado de Diadema e Mauá.


 


A metodologia de classificar economicamente a população brasileira mudou neste ano. O Critério de Classificação Econômica Brasil, conhecido como Critério Brasil, teve uma nova atualização feita pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas (Abesp). O novo Critério Brasil, que está em vigor desde janeiro, continua baseado em posse de bens, atrelando a cada item uma quantidade de pontos, mas agora a base para o estudo é a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


 


Com essa mudança, o critério passou a considerar dados dos 62 mil domicílios avaliados pelo POF, inclusive áreas metropolitanas, urbanas e rurais, enquanto o indicador anterior cobria nove regiões metropolitanas (Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Distrito Federal, Salvador, Recife e Fortaleza).


 


A nova atualização altera os itens que compõem o critério. Além da inclusão de acesso a serviços públicos (água encanada e rua pavimentada), na posse de itens deixaram de ser variáveis televisão em cores, radio e videocassete. Foram incluídos microcomputador, lava-louças, micro-ondas, motocicleta e secadora de roupas. Foram mantidos banheiro, empregada doméstica, automóvel, geladeira, freezer, lava-roupas, e DVD. O peso para a posse de cada item também foi alterado.


 


Esse é apenas o começo de uma nova série de matérias sobre a economia da região com base nos dados do IPC Marketing. 


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