Não é somente entre as famílias de classe rica que a Província do Grande ABC vem perdendo força quando a comparação envolve os principais municípios do Estado de São Paulo, o Estado de São Paulo como um todo, a média nacional e a média das regiões brasileiras -- como mostramos ontem. Em novo levantamento com base no banco de dados da Consultoria IPC Marketing, especializada em atender empresas e organizações públicas em todo o território nacional, constatamos que também quando se refere à classe média tradicional a região vai perdendo fôlego, principalmente por conta de esvaziamento industrial associado ao inchaço da periferia.
A crise socioeconômica, que se agrava nestes tempos por conta da frágil demanda do setor automotivo, núcleo do desenvolvimento regional, vem do passado de inoperância dos governos municipais e também de representações da sociedade que se preocupam principalmente em fazer marolas para tentar justificar a própria existência. Não existem mecanismos de agilidade e objetividade para retirar a Província do estado de permanente fragilização econômica.
A previsão do instituto de pesquisas da Universidade Metodista de que quando saírem os dados do PIB Municipal de 2013 e também de 2014 a região acumulará quatro temporadas seguidas de recessão, parece não assustar dirigentes públicos e representantes da iniciativa privada.
A média de domicílios de classe média tradicional na Província do Grande ABC é de 29,6%. Ou seja: de cada 100 residências na região, quase 30 contam com padrão de vida de classe média. A média regional está um pouco abaixo da média do Sudeste, que é 29,7%, e bem acima da média nacional, de 23,1%. Também está acima da média do Sul do País, de 27,6%, do Nordeste, de 12,3%, do Centro/Oeste, de 26,0% e do Norte, de 13,7%. No passado, antes da desindustrialização, a região ganhava de lavada de todos os adversários territoriais.
São Caetano na frente
O melhor índice de moradores de classe média tradicional na região, da mesma forma que o foi da classe rica, é de São Caetano, onde de cada 100 residências, 42,3 integram esse estrato social. Praticamente o dobro da pequena Rio Grande da Serra, que contabiliza apenas 21,3% moradias de classe média. Um pouco acima dos 25,2% de Diadema, dos 27,0% de Mauá e dos 27,8% de Ribeirão Pires. Esses quatro municípios contam, portanto, com quantidade relativa de moradores de classe média abaixo da Região Sudeste, com 29,7%. No caso de Rio Grande da Serra, os 21,3% são inferiores ao registrado no Brasil como um todo, de 23,1%.
Além de São Caetano, também Santo André e São Bernardo ajudam a elevar a média regional de moradores de classe média tradicional, repetindo desempenho entre as famílias de classe rica. Santo André conta com 30,9% de residências de classe média. São Bernardo vem logo atrás com 30,1%. A cidade de São Paulo registra índice levemente inferior ao da Província do Grande ABC, com 28,2% de moradores de classe média. Entre os ricos, como mostramos ontem, conta com 4,2%, contra 3,0% da região.
Perdendo espaço
Embora individualmente os números de Santo André, São Bernardo e São Caetano sejam mais elevados que os da maioria dos municípios que completam o G-20, o grupo dos 20 endereços mais importantes da economia paulista, a situação se reverte quando se incorporaram os dados de Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Desses municípios, apenas Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não constam da relação do G-20.
Apenas quatro dos 15 municípios fora do território da Província do Grande ABC que integram o G-20 contam com participação relativa de residências de classe média inferior a dos sete municípios locais: Barueri com 24,8%, Guarulhos com 22,7%, Osasco com 26,4% e Mogi das Cruzes com 26,2% -- todas na Região Metropolitana de São Paulo. Os demais municípios superam a média da Província do Grande ABC: Campinas (31,1%), Jundiaí (33,9%), Paulínia (33,3%), Piracicaba (35,1%), Ribeirão Preto (32,9%), Santos (36,0%), São José do Rio Preto (34,0%), São José dos Campos (30,1%), Sorocaba (33,5%), Taubaté (30,8%), Sumaré (30,6%). A incidência de moradores de classe média tradicional no Estado de São Paulo é de 28,2% do universo de domicílios.
Gestores improdutivos
O desempenho da classe média tradicional no mapa de potencial de consumo preparado anualmente pela consultoria IPC Marketing é um dos subprodutos de movimentações econômicas que deveriam ser atentamente observados principalmente por gestores públicos arredios ao andar da carruagem do desenvolvimento sustentável. Potencial de Consumo é essencialmente mais confiável que a medição do PIB (Produto Interno Bruto).
O que mais antepõe uma medida à outra é que o potencial de consumo é a soma de ativos financeiros de cada morador de um determinado Município. Independentemente do local em que atua ou não profissionalmente. Já PIB é o resultado da produção de serviços e manufaturas não necessariamente interiorizada no Município-sede das empresas. Ou seja: potencial de consumo é riqueza acumulada ao longo dos anos. É uma marca do tempo que define sem erro o comportamento econômico de um determinado Município. Isso significa dizer que tanto na fase de crescimento como de esvaziamento o efeito é gradual, sem grandes solavancos.
A nova maneira de classificar economicamente a população brasileira desde janeiro deste ano alterou para baixo a participação da classe média tradicional no conjunto de classes sociais do País. O Critério de Classificação Econômica Brasil, conhecido como Critério Brasil, passou por atualização da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas (Abep). O novo Critério Brasil segue baseado na posse de bens, atrelando cada item a uma quantidade de pontos, mas agora a base de estudos é a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
50% do consumo total
No conjunto de 899.814 residências, a Província do Grande ABC conta com 266.573 unidades classificadas economicamente como classe média. A previsão é que nesta temporada estará disponível para costumo nesse segmento nada menos que R$ 32,720 bilhões do total de R$ 65,204 bilhões do potencial de consumo da região. Ou seja: 50,3% dos recursos disponíveis estão nas residências da classe média. A classe rica conta com 3,0% de moradias da região e representa 13,1% do potencial de consumo geral, ou R$ 8,523 bilhões.
Em termos relativos, a classe média tradicional de São Caetano é a que conta com maior potencial de consumo nesta temporada, com 58,0% do total previsto a todas as classes sociais. Santo André conta com 52,2%, São Bernardo com 48,2%, Diadema com 48,4%, Mauá com 49,6%, Ribeirão Pires com 47,4% e Rio Grande da Serra com 42,7%. A cidade de São Paulo tem potencial de consumo de 45,1% entre os moradores de classe média, contra 47,1% da média do Estado de São Paulo. No Brasil, as famílias de classe média podem consumir este ano 40,1% do total geral disponível.
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