Economia

Acadêmicos podem dar impulso
a análises sobre regionalidade

DANIEL LIMA - 28/05/2015

O Clube dos Prefeitos do Grande ABC, pobre diabo multifocal que não acerta o alvo de desenvolvimento econômico -- ou a desprestigiada Agência de Desenvolvimento Econômico -- bem que poderia tomar uma iniciativa que ficaria para a história como o primeiro passo rumo a uma regionalidade inteligente: formar um grupo especial integrado principalmente por acadêmicos que gostem de numeralhas e, com suporte metodológico de organizações que já destrincham bem o assunto, produziria espécie de ranking de competitividade envolvendo, num primeiro tempo, as principais regiões do Estado de São Paulo.


 


Precisamos conhecer mais detalhadamente a situação de desespero em que nos encontramos e que, com vários indicadores, cansei de expor nas duas últimas décadas. Há algum tempo criei o G-20, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, para aferir até que ponto estamos atrasados em competitividade. Os resultados são inquietantes a cada temporada de renovação de dados.


 


Não é a primeira vez que me ocorre a ideia de constituir um grupo de inteligência. Exatamente em função dessa necessidade de buscar referenciais extra região, porque não somos uma ilha, criei nos anos 1990 o Instituto de Estudos Metropolitanos (IEME) que, no fundo, no fundo, produziu um ranking com 15 indicadores diversos, das mais diferentes atividades econômicas e sociais. Selecionei o link abaixo para entendimento mais apurado daquele trabalho.


 


Posição vexatória


 


Mas volto ao assunto e, quem sabe, mexa com os brios e a cabeça indolente de muita gente. Acabo de ler no Estadão de hoje sobre o Índice de Competitividade Mundial produzido pelo International Institute for Managemente Developmente (IMD), escola suíça de negócios que trabalha em parceria com a Fundação Dom Cabral.


 


A posição brasileira é vexatória entre 61 participantes do ranking. Ocupamos a 56ª posição, depois de cair pelo quinto ano consecutivo.


 


Os triunfalistas poderiam pinçar um ponto do relatório que indica que não haveremos de cair mais, segundo as previsões. Mas basta acompanhar a reportagem para descobrir que a perspectiva de não desabar mais se deve à ruindade dos países que estão abaixo do Brasil na classificação geral, casos de Mongólia, Croácia, Argentina, Ucrânia e Venezuela.


 


O ranking de competitividade das regiões do Estado de São Paulo, uma primeira escala de um processo que poderia ser nacionalizado inclusive para reforçar essa ferramenta de avaliação permanente de nossos pontos fracos e fortes, possivelmente não reuniria tantos indicadores quanto o ranking mundial dos países, com mais de três centenas de quesitos. O principal mesmo é sustentar a consistência dos estudos. Nada de subjetividades, como, aliás, fizemos à frente do Instituto de Estudos Metropolitanos.


 


Farta disponibilidade


 


Há disponibilidade de imensos bancos de dados que dariam suporte a estudos detalhados sobre vetores que ditam o ritmo de atratividade econômica dos territórios. O PIB (Produto Interno Bruto) tradicional, que, em termos municipais, é divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com dois anos de atraso, não é um medidor dos mais seguros e confiáveis. É útil, claro, mas deixa vácuos imensos que não espelham com fidelidade as minúcias levadas em conta por empreendedores decididos a investir em novas plantas industriais, por exemplo.


 


O indicador de Potencial de Consumo, especialidade da Consultoria IPC que atende aos setores privado e público, é muito mais rico em informações que o PIB, por exemplo. A diferença entre riqueza produzida num determinado período (caso do PIB) e de riqueza acumulada num mesmo período (caso do potencial de consumo) é imensa, mas nem por isso os dois indicadores são excludentes.


 


Quando avaliados numa linha de tempo mais extensa, tanto o PIB como o Potencial de Consumo convergem para determinada direção, com a diferença de que o primeiro é um voo panorâmico sujeito a interpretações equivocadas enquanto o segundo é um voo rasante que dificilmente flerta com o desperdício de informações.


 


Passivo desestimulador


 


Possivelmente o Clube dos Prefeitos e a Agência de Desenvolvimento Regional não se entusiasmariam com a proposta deste jornalista porque seus integrantes se dariam conta de que estariam engatilhando uma arma cujo tiro sairia pela culatra, atingindo-os em cheio.


 


A explicação é simples: como o viés de empreendedorismo do setor público regional é bastante frágil, já que a pauta econômica só consta da lista de preocupações da maioria quando há buracos orçamentários ditados pela flacidez arrecadatória, como nestes tempos de vacas magras, eles sentiriam na pele em tempo real não só os tropeços próprios como também dos antecessores, que praticamente nada fizeram para dar dinamismo ao desenvolvimento regional.


 


Diante da possibilidade concreta de que tanto o Clube dos Prefeitos como a Agência de Desenvolvimento não mexeriam uma palha para arquitetar com especialistas uma instância que trataria o presente e o futuro da região com inteligência investigativa, intelectual de tecnológica, só restaria mesmo uma saída: que as entidades, e classe empresarial, principalmente, se unissem acadêmicos em torno desse objetivo.


 


Arrogância cega


 


Afinal, como será possível encontrar os caminhos que se abririam à recuperação do tecido econômico regional sem conhecer mais profundamente, com bases sólidas, o que efetivamente somos e, também, o que são os concorrentes geoeconômicos no Estado de São Paulo, para os quais escafederam centenas de indústrias da região?


 


Enquanto não nos darmos conta de que somos estatisticamente um cego de arrogância em meio ao tiroteio da concorrência mais apetrechada que nos tem levado muito de nossa riqueza produtiva, o jeito será colecionar manchetíssimas e manchetíssimas de más notícias.


 


Ou então as mídias da região aceitaram bovinamente um pacto proibindo que os editores de primeira página ousem publicar com destaque alguma informação que não seja cor de rosa. Se acham que estou extrapolando é porque não viveram os anos 1990 da imprensa regional, quando a revista LivreMercado, dirigida editorialmente por mim, era um ponto fora da curva de interpretação da realidade então já preocupante.


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