Não sou qualquer um, muito menos um qualquer, porque sou o que sou e está acabado, mas acho que posso considerar que fui incluído no desafio generalizado do prefeito Luiz Marinho, publicado na edição de hoje do Diário do Grande ABC. Veja o que ele disse durante tensa plenária do Orçamento Participativo, fórmula que o PT desenvolveu para dar ares de democracia ao que não passa de imposição branda. “Desafio fazer debate da Educação, ou de qualquer área, com qualquer um” – disse o petista. Pois eu topo. Sobre todos os assuntos que listar. Vou lhe dar uma sova para aprender a conter a língua e as ambições. Não que eu seja um gênio. Nada disso. É que conheço bem as limitações do prefeito. Nada mais que isso.
A reportagem do Diário do Grande ABC sobre o encontro do prefeito com representantes da comunidade do Bairro Ferrazópolis e um exército de comissionados mostra bem até que ponto um dirigente público chega às raias da intolerância. Fosse uma intolerância construtiva, inteligente, o deslize até que não seria tão grave. Mas a intolerância de Marinho é a intolerância da insensatez.
Questões indigestas
Luiz Marinho agrediu interlocutores que procuraram explicações sobre dois dos muitos pontos esgarçados da gestão que já vai para o sexto ano completo: merenda escolar e greve dos servidores públicos. As respostas de Marinho são antológicas ou antalógicas? Depende do ponto de vista, mas tanto uma quanto outra alternativa são mais que explicativas sob o ponto de vista de qualificação técnico-cultural do prefeito.
Seria exagero dizer que Marinho é uma besta quadrada, mas como tem se esforçado tanto para justificar excessos que aumenta cada vez mais o número de quem o considere assim.
Não acho que o seja, porque se o fosse não teria chegado à Prefeitura de São Bernardo e tampouco a dois ministérios. É verdade que até Dilma Rousseff chegou à presidência da República, é verdade, mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Marinho é um prefeito autoritário que, sem atributos intelectuais e sem a modéstia avaliativa dos grandes líderes, está transformando dois mandatos à frente da Prefeitura mais rica da região em arrematado fracasso.
Cadê o dinheiro
Nem mesmo as obras com dinheiro federal que lhe dariam verniz de competência compulsória vão salvá-lo, porque acabou a farra do boi de gastança pública nacional. Os tempos são terríveis. Como mostram, por exemplo, os números da indústria automotiva, nossa galinha dos ovos de ouro.
A gestão de Luiz Marinho, portanto, se deu muito mal. Com dinheiro dos outros e alguma capacidade emprestada de formular planos é muito fácil receber uma nota de aprovação ao final de uma administração. Sem dinheiro dos outros e sem escopo administrativo, só restou a Marinho a ranzinzice de sempre.
Tanto que maltrata mulheres sem cerimônia alguma. Menos a primeira-ministra Nilza de Oliveira, a quem se mostra servilíssimo em nome da governabilidade mambembe. Ele sabe a extensão doméstica do que lhe representaria fraudar a expectativa e o mandonismo da primeira dama no ambiente corporativo-público.
Almoço dispensável
O que disse Luiz Marinho sobre o corte de merenda escolar em São Bernardo , segundo o Diário do Grande ABC, foi de lascar. “O plano (de redução da alimentação escolar) foi premiado. Não vou aceitar mentiras sobre o plano. Não tenho obrigação de dar almoço a quem entra às 13h. É correto uma mãe levar uma criança para a escola às 13h sem almoçar?”, indagou o prefeito. Luiz Marinho, pelo visto, perdeu o contato com a miséria que jamais foi eliminada pelos governos petistas ou de qualquer outra tipologia partidária e, como se sabe, está recrudescendo a topo vapor. Principalmente na periferia de regiões metropolitanas, ondes o almoço da escola é o almoço e quem sabe até o jantar de todos os dias letivos.
Passivo sindical
Sobre o movimento de greve dos servidores municipais, que durou 22 dias recordistas e que nocauteou o discurso e a prática sindicalistas de Luiz Martinho, ex-comandante dos metalúrgicos, o grau de insensatez foi semelhante. Disse o prefeito de São Bernardo: “Sindicato faltou com responsabilidade ao não entender a situação econômica do País”.
Talvez os participantes do encontro mais que manjado para supostamente definir uma parte ínfima do orçamento municipal de São Bernardo devessem ter levado à plenária uma meia dúzia de pequenos empresários que viraram pó na região ante a política coercitiva de aumentos salariais e outras das chamadas conquistas que a dinastia do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Marinho entre eles, enfiou goela abaixo anos após anos, independentemente da situação econômica nacional.
Ou seja: por mais que supostamente tenha razão, Luiz Marinho não tem defesa quando o temário é reivindicação sindical. O passado significa passivo biográfico que contamina o administrador público intolerante.
Por essas e por outras estou esperando que os assessores de Luiz Marinho consigam romper o cinturão de aço que o separa da sociedade que vive a realidade de penúria e lhe transmitam a decisão que tomei: topo debater com ele em qualquer lugar do mundo todos os assuntos que pretender, de corrupção no mercado imobiliário, uma de suas mais sensíveis fragilidades, até mesmo sobre investimentos públicos, supostamente uma de suas especialidades. Venha Marinho. Prepare-se para apanhar.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)