Economia

Imprensa ignora balanço onírico de
especuladores imobiliários na região

DANIEL LIMA - 16/06/2015

Não existe meio termo -- ou existiriam duas alternativas espertamente dissimuladoras? -- ao se analisar o balanço que o Clube dos Especuladores Imobiliários divulgou ontem à Imprensa mais uma vez pelo porta-voz da cenarização ideal, empresário Milton Bigucci: ou os empreendedores do setor na região estão enlouquecidos, porque não enxergam a baita crise que enfraquece a economia regional em proporções muito maiores do que a média do País, ou simplesmente a entidade divulgadora das estatísticas mais uma vez mente descaradamente. Talvez haja uma terceira ou até mesmo uma quarta variante explicativa preparada para maquiar os dados apresentados. Tudo é possível quando interesses corporativos, e não da sociedade, estão em jogo. 


 


Acompanhem o seguinte raciocínio: como é possível o mercado imobiliário da Capital do Estado, a cidade mais rica do País, registrar no balanço do primeiro trimestre deste ano queda de 50,4% no número de lançamentos residenciais e a Província do Grande ABC -- que vive uma baita crise decorrente, entre outras situações, de um setor automotivo em frangalhos -- apontar crescimento de 171,8%, conforme declarou Milton Bigucci ontem à Imprensa?


 


Cadê a Imprensa?


 


Talvez esteja exagerando ao dizer que Milton Bigucci declarou ontem à Imprensa, porque, pelo visto, nenhum jornal impresso e digital traz as informações que constam do site daquela entidade. Será que a Imprensa descobriu de vez que tanto aquela organização quanto aquele presidente são fraudes institucionais?


 


Sei que, a propósito do balanço do trimestre, talvez Milton Bigucci responda que tudo é questão de base de comparação, entre os números dos primeiros três meses do ano passado na região – inexplicavelmente até hoje muito abaixo da média histórica – e o primeiro trimestre deste ano. Nem mesmo assim convencerá os céticos ou terá o apoio dos mais positivistas.


 


A disparidade de números é monumental. Um presidente de uma entidade mesmo que sofrível mas que mexe com o sistema de informação público não pode produzir meias verdades ou mentiras inteiras em função de um corporativismo predatório.


 


Exceto em caso de um terremoto localizado no 1,5 mil quilômetro quadrado da Capital, preservando-se milagrosamente os 840 quilômetros quadrados de território da Província, não há termos de comparação entre os dois mercados imobiliários e, portanto, a disparidade de números é um acinte que deveria ser minuciosamente explicada. Se explicação existe.


 


Manchete esperta


 


O titulo da matéria que consta da página da Internet do Clube dos Especuladores Imobiliários para divulgar o novo balanço anunciado por Milton Bigucci é claramente enganador: “Pesquisa da Acigabc demonstra melhora no marcado imobiliário em 2015”. Trata-se de fanfarronice pura, típico de Espertíssima Trindade que funde interesses corporativos, institucionais e pessoais.


 


Mesmo a se dar crédito ao número de lançamentos que, repito, teriam aumentado 171,8% no período, as vendas de imóveis verticais na Província do Grande ABC teriam caído no primeiro trimestre 21,59% em relação ao mesmo período do ano passado. Nesse ponto, há semelhança com os dados da Capital, onde a baixa de venda de apartamentos registrou 27,1%. Mas, pensando bem, mesmo assim há discrepância. A Capital dos paulistanos não depende demais de uma atividade econômica como a Província do setor automotivo. Sem contar que é o centro de uma metrópole, não subúrbio metropolitano como esta Província.


 


Numeralha chutada


 


A grande distância que separa as informações do Clube dos Especuladores Imobiliários dos dados que o Secovi (Sindicato da Habitação de São Paulo) informa regularmente à mídia é que somente no caso da entidade da Capital há atuação da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio), até prova em contrário controlada por especialistas que zelam pela credibilidade e idoneidade informativas.


 


Já o Clube dos Especuladores Imobiliários produz numeralhas chutadas a torto e a direita, sem lastro de oposição a manipulações. Tanto que o presidente Milton Bigucci jamais se predispôs a reunir a Imprensa e representantes de mutuários do setor imobiliário para oferecer a base desses estudos ao escrutínio de análises técnicas.


 


Convém lembrar que esta não é a primeira e provavelmente nem será a última vez que Milton Bigucci vai chamar a Imprensa para explicar a situação do momento do mercado imobiliário na região. Será continuamente incongruente, como o foi ontem, já que esconde dados comparativos mesmo com a base de informações furada.


 


Por exemplo: quando afirma no título da matéria do site da entidade que a pesquisa anunciada demonstra melhora no mercado imobiliário, não só se ignoram dados de vendas do primeiro trimestre deste ano em relação ao primeiro trimestre do ano passado como também de trimestres ainda mais pretéritos. No primeiro trimestre de 2012, quando o PIB (Produto Interno Bruto) da região caiu 5,8%, o Clube dos Especuladores Imobiliários anunciou em coletiva de imprensa o lançamento de 1023 imóveis novos. Como foram 848 no primeiro trimestre desta temporada, a queda é de 17%. Quanto às vendas nesses dois períodos comparativos, a queda alcançou 25,7%. Considerando-se que naquele 2012 o PIB de São Bernardo, Município que conta com maior porcentual de venda de imóveis novos na região, caiu 11,11%, dá para imaginar o tamanho do tombo neste ano, quando a projeção é de um buraco ainda maior. Posto isso, como é possível acreditar que os empresários estejam a investir maciçamente em novos lançamentos nesta temporada quando sequer desovam os encalhes mesmo com queima de preços?


 


Desmoronamento institucional


 


Por essas e outras é que, quando escrevo que a oficialmente Acigabc é de fato Clube dos Especuladores Imobiliários, não há maneira de cristalizarem-se objeções que não sejam de subjetividades típicas dos mandachuvas que detestam ser contrariados.


 


Fosse este País sério, há muito o presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários estaria respondendo civil e criminalmente por enganar o distinto público usando uma entidade de fachada para manipular o ambiente imobiliário.


 


A maciça ausência da mídia que até outro dia acreditava nas informações fraudulentas de Milton Bigucci parece ter sido a melhor notícia de ontem, durante a coletiva de imprensa programada pelo Clube dos Especuladores Imobiliários.


 


Coletiva de imprensa sem imprensa é a desmoralização completa de qualquer instituição, porque é o momento supremo em que fontes oficiais de informações e representantes da sociedade que atuam na mídia se encontram para acerto de contas.


 


Milton Bigucci cansou de abusar da credibilidade alheia. Talvez a ficha dos jornalistas da região tenha caído de vez. Resta saber até quando o empresário vai seguir à frente de uma obra institucional que desmorona a cada dia.


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