Economia

Cai a velocidade
de novos negócios

DANIEL LIMA - 05/04/1999

Passou a febre de novos negócios no setor de comércio e de serviços no Grande ABC. No ano passado, o grupo de empresas do setor terciário que se mantiveram no mercado regional apresentou volume de crescimento relativo muito inferior ao do período imediatamente anterior. Segundo dados oficiais da Secretaria de Energia do Estado, o banco de dados mais completo sobre o número de estabelecimentos terciários, industriais e residenciais em atividade, em 1998 havia 56.300 pontos de comércio e de serviços na região, contra 55.305 de 1997. Isto quer dizer que houve aumento absoluto de 995 unidades em 1998 em relação a 1997 -- ou 83 novos negócios a cada 30 dias. No período imediatamente anterior, de 1996 (53.851 estabelecimentos) em relação a 1997 (55.305) novas 1.454 unidades se consolidaram na região -- ou seja, a média de 121 novos negócios por mês.


 


A quebra da velocidade de pontos de comércio e de serviços registrada no ano passado era fenômeno esperado depois da explosão do setor terciário no Grande ABC em consequência da abertura econômica iniciada no governo do presidente Collor de Mello, no início da década. O processo provocou maior grau de competitividade, inicialmente no setor industrial, conjugado com forte retração econômica entre 1990 e 1992. Com isso, as empresas iniciaram enxugamento de quadros para adequar-se aos novos tempos.


 


A partir de 1994, com a estabilização da moeda provocada pelo Plano Real e maior escancaramento dos portos, as indústrias apertaram ainda mais o cinto. Resultado: grandes levas de trabalhadores horistas e mensalistas utilizaram indenizações para constituir o próprio negócio, incentivadas pelo aumento do consumo das classes mais populares, amplamente beneficiadas pelo fim da inflação.


 


Atração fatal


 


A descoberta de que o Grande ABC era território muito mal servido no setor terciário atraiu, nesse mesmo período, numerosas redes comerciais e de serviços. Hipermercados, supermercados, shoppings, redes de fast-food e de tantas outras atividades passaram a disputar com avidez o potencialmente terceiro mercado consumidor do País. Resultado: às portas da virada do século a região está saturada de ofertas de produtos e serviços em muitos segmentos. A concorrência que se estabeleceu foi duplamente desastrosa: além de canibalizadora, encontrou uma região flagrantemente debilitada pelos efeitos do esvaziamento industrial que se acumulou ao longo das duas últimas décadas em forma de deserções de empresas e nos anos mais recentes por força das contrações das indústrias, que ainda não encerraram fase de reestruturação produtiva.


 


A queda da velocidade de novos negócios indica que se está tornando cada vez mais seletiva a alternativa de virar empreendedor de sucesso no Grande ABC. Nesta década, 18.048 novas empresas do setor terciário se consolidaram na região. Isto significa crescimento de 47,18% no período, ou seja: de cada 100 organizações que existiam nos sete municípios da região em 1990, outras 47 se consolidaram nos oito anos seguintes. A Secretaria Estadual de Energia não dispõe, e nenhuma entidade contabiliza, do número de mortes na batalha do empreendedorismo. Explicando: em oito anos, mais de 18 mil empresas se consolidaram no mercado, mas não se tem a dimensão numérica de quantos empreendedores fracassaram no período. Este número é literalmente o balanço dos sobreviventes.


 


É evidente que o Grande ABC não deixará de registrar saldos positivos de novos negócios, mas os estudos indicam que serão muito mais discretos. Entre 1990 e 1998, a velocidade de unidades comerciais e de serviços que surgiram e se mantiveram no mercado atingiu a média de 167 por mês. Praticamente o dobro do período de 12 meses de 1997 comparados aos 12 meses do ano passado. Se a comparação excluir o desempenho de 1998 e fixar-se no período entre 1990 e 1997, a média de unidades consolidadas atinge 203 por mês.


 


O aumento da oferta de unidades comerciais e de serviços no Grande ABC pode ser medido pela simples divisão da população pelo número de estabelecimentos. Em 1990 a região somava 1,9 milhão de habitantes e contava com 38.252 estabelecimentos, ou seja, a média de 496 pessoas por negócio do terciário. Em 1998, com 2,3 milhões de habitantes, a região contava com 56.300 estabelecimentos, média de uma unidade para cada grupo de 408 moradores. A tradução desses números é dupla e tem o mesmo efeito: aumentou em 22% a oferta de novos estabelecimentos em relação ao crescimento da população, ou se reduziu em 22% o número de consumidores comparativamente ao grupo de empreendedores em atividade no mercado. 


 


Queda industrial


 


A classe industrial apresentou queda de 6,8% na estrutura de consumo total de energia elétrica no Estado de São Paulo: era de 50,1% em 1995 e decresceu para 43,3% no período de 12 meses completado em fevereiro último. O setor cedeu espaço para as classes residencial e comercial como reflexo do processo de perdas industriais da Região Metropolitana do Estado, atacado pela guerra fiscal.


 


O Interior do Estado apresentou durante 1998 expansão do consumo industrial principalmente nas regiões de Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São Carlos e Rio Claro, que assinalaram crescimento médio de 2%, justificado pela diversificação dos ramos industriais. Entretanto, como reflexo da recessão que atinge o País, apresentou pela primeira vez após o Plano Real queda de 0,3% na taxa anualizada em fevereiro de 1999.


 


A Região Metropolitana de São Paulo apresenta saldo negativo de 1.273 unidades industriais no período de 1995 a fevereiro de 1999, segundo estudos da Secretaria de Energia. Eram 50.273 unidades, contra 49 mil. O número parece pouco significativo, mas é comprometedor quando se leva em conta a explosão de terceirizações, que poderiam compensar numericamente as evasões de grandes e médias indústrias. O Interior paulista apresentou acréscimo de 16.381 unidades no mesmo período -- eram 86.619 empresas e agora são 103 mil. Traduzindo: em 1995, a Grande São Paulo contava com 36,72% do total de indústrias do Estado. Agora a relação foi reduzida a 32,23% -- o que confirma a tendência de a Grande São Paulo tornar-se mais e mais centro de negócios de comércio e serviços.


 


A diferença entre a RMSP e o Interior também pode ser dimensionada pelo consumo de energia elétrica. Na Grande São Paulo, foram consumidos 13.241 GW/h de energia em 1995, contra 11.380 GW/h nos 12 meses findos em fevereiro último -- uma variação negativa de 14,1%%. Já no Interior os 26.994 MW/h registrados em 1995 foram superados pelos 28.161 MW/h de fevereiro último, num avanço de 4,3%.  No balanço entre 1995 e fevereiro deste ano a perda do Estado é de 1,7%.


 


A classe comercial, com participação de 15,7% no mercado total, destaca-se pela da expansão após a implantação do Plano Real. De 1995 até fevereiro último, obteve incremento de energia expressivo.  A Grande São Paulo registrou variação positiva de consumo de 36,7%, contra 47,3% do Interior. A média de crescimento no Estado atingiu 41,1%. O consumo de eletricidade do segmento comercial vem, paulatinamente, aumentando participação na demanda, de 12,7% em 1995 para 15,7% em 1999. O destaque do crescimento dessa classe, segundo avaliação da Secretaria de Energia, se deve principalmente aos setores varejistas, mercado de eventos e convenções e, ainda, da modernização e ampliação das instalações.


 


A classe residencial, com 28,8% de participação no mercado, apresentou variação de 4,4% no período de 12 meses encerrados em fevereiro deste ano em relação ao mesmo período do ano anterior. O crescimento está abaixo dos anos anteriores, quando houve expansão de consumo de 11,9% em 1996 e 8,5% em 1997. Desde 1995, a Grande São Paulo registrou crescimento de consumo de energia elétrica residencial de 28,4%, contra 36,3% do Interior. Comparando-se o volume de vendas de energia elétrica nos períodos de 12 meses findos em fevereiro de 1999 em relação a janeiro de 1995, constata-se expansão da oferta em 32,5%. Tanto o mercado da RMSP quanto o do Interior apresentaram expansão significativa de 28,4% e 36,3%, respectivamente. Uma evolução de 6,4 mil GW/h no período de referência. Situação que deverá ser comprometida com os efeitos da desvalorização do Real.


 


A pesquisa da Secretaria de Energia do Estado baseia-se nos dados das principais concessionárias paulistas. A Eletropaulo Metropolitana atende a Capital e os demais Municípios da Região Metropolitana, incluindo-se os sete do Grande ABC. EBE (Empresa Bandeirante de Energia), CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) e Elektro Eletricidade e Serviço abastecem a maior parte do Interior e todo o Litoral do Estado. O mercado de distribuição de energia elétrica paulista é servido por 13 empresas privadas, cabendo ao Estado o papel de regulador e fiscalizador das atividades, por meio da CSPE (Comissão de Serviços Públicos de Energia).


 


Gás natural


 


O consumo de gás natural no Estado de São Paulo atende a cerca de 230 indústrias de todos os setores de produção. A participação na matriz energética nacional é residual, de apenas 2,6%. A expectativa é de que o gasoduto Brasil-Bolívia possibilite a elevação para 12%. A capacidade projetada do sistema é de transporte de 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia, em 2010.


 


O primeiro trecho do gasoduto Brasil-Bolívia foi inaugurado em fevereiro, a 23 quilômetros de Corumbá (MS). Com 1.790 km, partindo da cidade boliviana de Santa Cruz de La Sierra em direção a Campinas, transportará no primeiro ano de atividades quatro milhões de metros cúbicos de gás por dia. 


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