A debandada da Balas Juquinha e os investimentos na unidade da Rhodia Têxtil em Santo André resumem alguns dos múltiplos pontos da realidade econômica da Província do Grande ABC. Uma realidade que a maioria não enxerga porque é cega de ignorância ou de triunfalismo e a minoria não decifra porque não quer se meter em encrencas.
A Balas Juquinha desertora de Santo André representa pequenas e médias empresas familiares que estão desaparecendo da face regional desde muito tempo por se defrontarem com um desafio que atormenta também as grandes corporações mais resistentes às intempéries: competitividade, competitividade e competitividade.
Quem pode suportar o Custo ABC sobressalente ao Custo Brasil, como uma companhia internacional que é a Rhodia, vai apertar até onde for possível o torniquete da produtividade para encarar o mundo globalizado. Já a Balas Juquinha não tem mais como se coçar porque já se coçou demais e por isso mesmo pede a conta e cai fora.
Muitas empresas familiares da região que não foram para o espaço sideral de falências, concordatas e outros destinos se escafederam rumo ao Interior menos bravio no quesito sindical, menos hostil nos indicadores de qualidade de vida e mais apropriadas à economia de escala. As multinacionais que cada vez mais apertam os cintos locais e reduzem o quadro de trabalhadores para encorpar rentabilidade exigida pelos acionistas sinalizam que estão numa corrida maluca cada vez menos comprometida com repercussões sociais. O que manda é salvar a própria pele.
Sem compensação
Se fosse traduzir tudo isso que escrevi numa linguagem ainda mais simples e pedagogicamente compreensível inclusive aos analfabetos de pai e mãe, não teria dúvidas em afirmar que a Província do Grande ABC segue a viver situação econômica calamitosa. Aliás, estou cansado de apresentar estudos sofre esse processo. Sempre em conflito com os vagabundos que industrializam mentiras.
A notícia sobre o desaparecimento regional da Balas Juquinha, que agora atuará em outro endereço, no Interior do Estado, não pode ser compensada pelos oportunistas de sempre com o anúncio de investimentos na unidade da Rhodia Têxtil em Santo André. Basta dizer que a empresa multinacional conta com apenas 750 trabalhadores, quando já registrou pelo menos cinco vezes mais nos anos 1980.
A Rhodia investe em novas tecnologias para tornar-se mais competitiva e não perecer. Provavelmente reduzirá mais ainda o quadro de profissionais. A bomba atômica que atinge as montadoras de veículos, por exemplo, e que desperta a ira dos sindicalistas, é uma situação diferenciada do modelo de demissões silenciosas pactuadas inclusive com representantes dos trabalhadores para evitar estragos político-partidários. A Província só vai às manchetes de perdas industriais quando não se encontram saídas ao anonimato.
Morte morrida
A Balas Juquinha morreu aos poucos colhida por vetores que não perdoam pequenas indústrias: esclerosamento geracional com a inadaptação de herdeiros, esfacelamento fiscal com a sobrecarga de impostos em atraso, despreparo para o enfrentamento da concorrência mais lépida, fragilidade ante fornecedores de grande porte que impõem preços e condições de pagamento, entre outros aspectos. O sindicalismo é uma mão pesada também. Em muitos ramos, é a mão mais pesada por sinal.
A retirada da Balas Juquinha é uma crônica anunciada. Em março de 2008 – portanto há sete anos – escrevi para a revista LivreMercado uma reportagem-análise sobre a disposição da empresa deixar Santo André. O texto está disponível nesta revista digital, com link logo abaixo. Aliás, escrevi em complemento e com personalização territorial após o jornal Valor Econômico publicar uma matéria sobre a empresa.
A Balas Juquinha estava vendendo quase toda a área em que se instalara na Avenida dos Estados. Só preservava os 17 mil metros quadrados da fábrica e escritórios, mas sugeria o texto que também colocaria a unidade fabril à disposição dos interessados.
Acho que negligenciei a situação da Balas Juquinha. Ainda outro dia passei na Avenida dos Estados e observei aqueles escombros que um dia empregaram quase 200 trabalhadores. Pensei na hora sobre a matéria que escrevi para LivreMercado e até projetei a possibilidade de atualizar aquelas informações. Fui colhido, não de surpresa, esta semana pela notícia de que a Balas Juquinha não é mais patrimônio industrial e cultural da região. Sim, patrimônio industrial e cultural da região. Não resisto à memória afetiva e à memória degustativa de, ante a possibilidade de saborear a guloseima, desdenhar da pregação dos inimigos do açúcar. As redes sociais que repercutem o fechamento da empresa em Santo André atestam a condição de que não se interrompeu uma história qualquer.
Muito pior que perder materialmente empresas que ajudaram a construir a riqueza hoje decadente da Província do Grande ABC é refletir sobre o pouco caso com que o empreendedorismo privado é tratado naquela que já foi a meca do capitalismo do País.
Hostilidades resistentes
As hostilidades entre capital e trabalho dilaceraram nossa cultura a ponto de o extraordinário prefeito de São Bernardo, ex-sindicalista Luiz Marinho, e sua imensa capacidade de enxergar o mundo sob a ótica divisionista, mandar fazer o Museu do Trabalho e do Trabalhador como se o Capital não existisse. Deu com os burros nágua porque além de estúpido na definição do conceito daquele espaço, está a faltar dinheiro federal para dar continuidade à obra bem na cara do gol do entorno do Paço Municipal.
Balas Juquinha e Rhodia são faces da mesma moeda econômica da Província do Grande ABC. Não seria exagero algum afirmar que a Balas Juquinha é a Rhodia de amanhã. Tantas outras corporações de tamanhos, origens e características igualmente distintos já patrocinaram essa previsão em forma de realidade dura e crua.
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