Não sou daqueles que acham de jornalista não pode escrever sobre jornalista porque jornalista que escreve sobre jornalista fere a ética. Bobagem. E isso vale para todas as profissões. O que o companheiro Leo Júnior escreveu recentemente no site “Click ABC” é uma janela imensa de oportunidade para que eu possa dar respostas que eventualmente não tenham ficado claras nas exposições sobre o trabalho que desenvolvo no Diário do Grande ABC.
Somente ontem tomei conhecimento daqueles artigos. Li-os com atenção e, como sempre faço, até porque o slogan desta revista digital é “leitura para ser impressa”, tratei de transformar o virtual em material. Leo Júnior tem toda a razão nos questionamentos diretos e subliminares do texto. E como é de seu estilo, que deve ser respeitado, não perdeu a oportunidade para me cutucar. Pode ter certeza que, diferentemente da menção que fez ao quadrilheiro Milton Bigucci, jamais pensarei esse caso e em nenhum outro -- até porque seria estupidez -- partir para qualquer tipo de retaliação, inclusive no Judiciário. Minha opinião sobre Leo Júnior não mudou em nada.
Gosto dele e está acabado. E o que expôs é muito importante para que eu possa fazer comentários que se seguem. Para tanto, reproduzirei em parcelas os textos de Leo Júnior, entremeados com as respectivas contraposições. Tudo para ficar bem didático.
Sob o título “Daniel Lima fuma cachimbo da paz com Ronan Maria Pinto e volta como ombudsman do DGABC, Leo Júnior se manifestou assim:
Leo Júnior -- A mais nova estratégia comercial do jornal Diário do Grande ABC é uma tática bem conhecida do empresário Ronan Maria Pinto, que detém hoje o controle acionário do jornal: a recontratação do jornalista Daniel Lima, que deve chegar ao predinho da Rua Catequese nos próximos dias como Ombudsman e assumir um cargo diretivo no jornal. Estratégia à parte, só não se sabe bem qual o lado mais desesperado nesta nova união. Daniel Lima, recentemente, se viu às voltas com a Justiça e por muito pouco não teve complicações maiores com a Lei, em ação interposta pelo empresário Milton Bigucci, presidente da Construtora MBigucci e da Associação das Construtoras e Incorporadoras do Grande ABC.
Resposta deste jornalista – Se existe alguém desesperado nessa junção de forças não é este jornalista e tampouco o empresário Ronan Maria Pinto. Talvez desesperados sejam todos que torceram o tempo todo para que não houvesse convergência inquestionável: o interesse em valorizar a Província do Grande ABC, retirando-a do acostamento do desenvolvimento econômico, que, afinal, penaliza a todos.
Leo Júnior -- Já Ronan Maria Pinto, depois de acompanhar os altos e baixos do jornal, em especial os problemas advindos de falta de material humano em número suficiente para honrar a tradição do jornal que se intitula como o Braço Direito do Grande ABC, e as briguinhas caseiras, nunca bem resolvidas, entre a direção do jornal e alguns de seus maiores anunciantes, as prefeituras locais.
Resposta deste jornalista – Tudo o que tratei com Ronan Maria Pinto versou sobre a importância de tornar o Diário do Grande ABC, numa maratona de mudanças, uma publicação que jamais fora ao longo dos tempos, ou seja, descolada das forças de pressão que sequestraram sua linha editorial mesmo no período de vacas gordas da região, quando tudo que se plantava, dava. As correções de rota na linha editorial do Diário do Grande ABC foram preconizadas e impressas num planejamento editorial com o qual desembarquei naquela empresa em julho de 2004, mas, infelizmente, não teve sequência porque aquela empresa vivia uma situação de ajustes acionário-diretivos que, ao que parece só mais recentemente se consolidaram.
Leo Júnior -- Também não foram levadas em consideração a artilharia verbal e escrita do jornalista contra o seu ex-patrão do ramo jornalístico. Daniel Lima só não chamou Ronan de santo. Mas também não se fez de rogado para, nas páginas do próprio jornal que tanto criticou, publicar um novo questionamento à Justiça pelo resultado judicial da pendenga com seu ex-amigão Milton Bigucci.
Resposta deste jornalista – Possivelmente Leo Júnior tenha razão quando afirma que me utilizei de artilharia verbal e escrita contra Ronan Maria Pinto. Na raiz de todas as minhas críticas havia sim um inconformismo com a linha editorial e principalmente com a qualidade editorial do jornal mais importante da região, isso quando se tratava do empresário como dirigente maior do jornal. No campo esportivo, como presidente do Santo André, não foi diferente. Isso faz parte da história que outros jornalistas simplesmente descartaram. Quanto a Milton Bigucci, a expressão “amigão” é totalmente descabida. Jamais tive qualquer relação com aquele contraventor ético e moral, quando não material, que pudesse ser catalogada como algo próximo de amizade formal. Quanto ao que Leo Júnior chama de pendenga, seria mais apropriado que detalhasse as razões que me levaram a atuar como jornalista no embate com aquele contraventor, razões aliás que a mídia de maneira geral omite. Como o Diário do Grande ABC omitia até minha chegada à Rua Catequese. Mas nada que não faça parte de uma engrenagem de coerência deste jornalista, porque outros personagens e instituições da região que não passam de empulhação, entre outros termos mais que justos, também entraram na alça de mira da Redação. Não porque este jornalista individualmente assim o decidira. Bobagem: há consenso sobre o que é bom e o que é ruim para o futuro da região entre os jornalistas daquela casa. Sobre Milton Bigucci, sabe bem o companheiro Leo Júnior, o quanto ele se tornou nefasto na ocupação da área ocupada no passado pelos escoteiros de São Bernardo.
Leo Júnior -- Mas seriam hilárias, não fossem trágicas, as hipotéticas justificativas de Ronan Maria Pinto, numa roda de amigos empresários andreenses, em conhecida churrascaria da cidade, para minimizar as críticas do ex-desafeto. Dá até para imaginar o tom. O Daniel Lima é um grande profissional e deve ter dito tudo o que disse sobre mim num momento de desespero, pode ter sido uma dessas frases do empresário a amigos nesse hipotético encontro. A justificativa de Daniel Lima está grafada em seu Capital Social, no ícone Imprensa, no artigo "Diário e jornalista não vão ceder porque mudanças já começaram", onde tenta explicar agora o seu retorno ao ninho. "Ganhei de presente por merecimento, por persistência, por atrevimento ou qualquer outra coisa, as portas abertas do jornal que mais combati desde muito tempo, porque, principalmente, o considero o mais importante instrumento de mudanças na região". Não resta dúvida que para a ascensão do jornal, que o Daniel Lima, em nome da ética e dos bons costumes, não pode tentar negar, tem de acontecer um verdadeiro choque de gestão. E só resta saber se todo o aparelhamento e as boas intenções empresariais do DGABC irão mesmo vingar, ou se tudo não passará de um grande engodo de marketing, a exemplo do que foi a sua volta para o predinho da Rua Catequese.
Resposta deste jornalista – A possibilidade de Ronan Maria Pinto expressar-se reservadamente ou em público sobre o retorno deste jornalista ao Diário do Grande ABC não é de meu interesse e tampouco estaria sob meu controle. Só posso catalogar como resultado de fértil imaginação a narrativa de Leo Júnior. Seja como for, não escrevo condicionado a mensagens do além. Já quanto a eventualidade de uma jogada de marketing, devo dizer que essa configuração não significaria necessariamente algo danoso à região, Muito pelo contrário, porque marketing é uma atividade tão elástica em conceituação que permite também ser repositório dos objetivos reais com que conduzimos diálogos com Ronan Maria Pinto, ou seja, baseados estritamente na melhoria contínua do padrão editorial do jornal e, mais que isso, num primeiro tempo, na readequação editorial ao contexto de desmonte econômico, social e cultural de uma região metida a besta mas que não passou de Gata Borralheira nas últimas décadas.
Na edição de 17 de abril do Click ABC, Leo Júnior volta à carga com duas notinhas. A primeira, sob o título "É notícia ou amizade...". Reproduzo-a e a comento:
Leo Júnior -- É lamentável, quase trágico, profissionalmente falando. Agora que o jornalista Daniel Lima resolveu voltar para os braços do empresário Ronan Maria Pinto, o jornal Diário do Grande ABC entendeu se tratar de notícia a forma como se conduziu e terminou a venda do antigo terreno da Villares, em São Bernardo, para um pool de empreiteiras para a construção do Marco Zero, que acabou ficando apenas com a MBigucci. O Diário, que sequer tinha entrado no caso, agora vem manchetando, e dando páginas e mais páginas para o assunto. Antes mesmo de o nosso Diário entrar no caso, a questão foi parar na Justiça, e Daniel foi derrotado pelo empresário Milton Bigucci, seu amigão nos tempos de Livre Mercado e que também era um fiel cliente da publicidade do jornal. Mas nem assim virou manchete, sequer pauta, no braço direito do Grande ABC. Quer dizer, pau que dá em Chico, algumas vezes, não dá em Francisco...
Resposta deste jornalista – É pura verdade que o Diário do Grande ABC não dera absolutamente nada sobre aquela maracutaia até que este jornalista foi contratado. Da mesma forma que jamais batera para valer nas associações comerciais que pouco fazem, na Pirelli que pode deixar a Província do Grande ABC e também na teimosia de negar a desindustrialização da região. Tudo isso, e não só o caso do terreno que pertenceu a Villares, não estava na agenda do Diário do Grande ABC. Passou a estar porque houve consenso editorial e diretivo de que deveria estar. Uma decisão coletiva. Se acertou nesse ponto, Leo Júnior deu uma furada monumental sobre o resultado das denúncias que fiz sobre aquele terreno que gerou a construção do empreendimento Marco Zero. Ao contrário do que afirma o jornalista, Milton Bigucci, ou quem quer que seja da quadrilha de empresários que arrematou irregularmente aquela área jamais judicializou minhas denúncias. E estou esperando que o façam, porque só assim vai ser possível escancarar a verdade, sustentada por provas testemunhais e materiais. O texto de Leo Júnior sobre o empreendimento da MBigucci está completamente equivocado. Quanto às relações comerciais de Milton Bigucci com a revista LivreMercado, da qual este jornalista era diretor de Redação, jamais contou com meu envolvimento. A direção comercial não integrava meu arco de ações. Jamais misturei jornalismo com publicidade.
Vamos agora à nota sequencial do site Click ABC sob o titulo "Jornalismo ou balcão de classificados":
Leo Júnior -- E nem se trata de saber quem tem a razão neste caso, ou quem vai ganhar com a parceria Daniel Lima-Ronan Maria Pinto. O que fica claro é que se o jornalista e o empresário quiserem mesmo dar uma nova roupagem ao conteúdo jornalístico do DGABC é preciso lavar muita roupa suja e, algumas, de forma urgente, tem de ser destinadas para doação. Pode ser que fiquem tão surradas que não sirvam nem de pano de chão... Mas voltando ao Diário, torço sim, pela recuperação do bom conteúdo jornalístico, sem picuinhas, sem perseguições, sem amizades ou desafetos, mas com jornalismo.
Resposta deste jornalista – Leo Júnior e tantos outros jornalistas, além dos leitores, devem ficar mesmo de olho, de tocaia, em tudo o que este jornalista exercitar como colaborador do Diário do Grande ABC, bem como nas páginas da revista digital CapitalSocial. A transparência que exijo de terceiros é consequência do que aplico no dia a dia de profissional de comunicação. A transformação do Diário do Grande ABC no veículo dos meus sonhos é uma ação para 10 anos. Outrora em 2004, quando ali estive por apenas nove meses como diretor de Redação, diagnostiquei que seriam necessários cinco anos. Ronan Maria Pinto reconhece que perdeu tempo entre outras razões porque a governança interna assim o exigiu. Convém sempre lembrar que da mesma forma que Ronan Maria Pinto mereceu as cacetadas que lhe dei como presidente do Santo André, sobretudo porque, como a maioria dos dirigentes esportivos brasileiros, colocou a paixão acima da razão, convém ressaltar, dizia, que o Diário do Grande ABC só existe porque ele, Ronan Maria Pinto, amenizou o circuito de desmanche que vinha dos fundadores. Isso não significa e jamais significou que tenha salvo-conduto à crítica. Tanto não tem e tanto demonstrou ser mais preparado à crítica que a quase totalidade dos protagonistas de vida regional é que, vejam só, contratou como espécie de ombudsman, embora eu não seja isso, mas muito mais que isso, o jornalista que mais acirradamente acompanha a história do Diário do Grande ABC na região.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)