O Diário do Grande ABC publicou nesta segunda-feira um suplemento sobre o primeiro dos 10 pontos editoriais estratégicos expostos na Carta do Grande ABC, publicada na primeira página da edição de 11 de maio último, quando o jornal completou 57 anos de circulação. Desindustrialização -- eis o nome do jogo. Vou escrever amanhã sobre o que disseram os entrevistados.
Antecipo que o que eles disseram, em larga margem, é um conjunto de desculpas esfarrapadas, de desconhecimento sobre a economia da região, de fantasias e de tantas outras bobagens que ouço há 300 anos. Tudo isso na tentativa de minimizar, quando não negar, o fato inquestionável de que a Província do Grande ABC perdeu o rumo e o prumo, embora não seja, mesmo assim, um fim de feira econômica.
Participei tangencialmente do suplemento do Diário do Grande ABC com breve texto sobre o processo de fragilização industrial e social da região. Os 3,2 mil caracteres são um pingo dágua quando confrontados com a imensidão de valores agregados que detenho sobre a economia da região. Sem falsa modéstia, ninguém conhece mais esta terra em termos econômicos do que este imbecil que ainda acredita em alguma transformação, entre outras razões porque jornalismo é a arte da utopia. Só nesta revista digital há disponíveis nada menos que 309 matérias em que o verbete “desindustrialização” aparece como protagonista ou figurante. A maioria está no compartimento de “Economia”.
Assunto maldito
Esmiuçamos ao longo dos anos e continuamos a esmiuçar tudo que se refere à economia regional. Ninguém o fez de forma tão densa, prolongada e independente como este jornalista e seus companheiros de trabalho de 20 anos na revista LivreMercado. Quem quiser entender a economia da região – e seus desdobramentos no campo social, político e criminal – tem obrigação de recorrer a estas páginas digitais que, como sugere o slogan, devem ser impressas.
Agora me sinto mais feliz porque o Diário do Grande ABC, por iniciativa de seu diretor de Redação, o jovem Sérgio Vieira, tomou a iniciativa de pegar o touro de um temário maldito a unha e levá-lo adiante. O suplemento desta segunda-feira é um bom começo e dá sequência a série de matérias sobre o assunto, publicadas nos últimos tempos.
Vou deixar para escrever sobre os aspectos editoriais do suplemento na coluna de todos os domingos naquele jornal. Mas na edição desta terça-feira vou tratar dos entrevistados. Eles precisam ser devidamente contextualizados no que afirmaram, porque têm responsabilidade muito além das funções que exercem. A sociedade consumidora de informação que durante muito tempo foi enrolada por falsificadores da verdade precisa de tradutores dos dialetos que os entrevistados utilizaram para, no fundo, no fundo, safarem-se da inoperância geral e irrestrita que os seus respectivos segmentos sociais, econômicos e sindicais patrocinaram ao longo dos tempos.
Vão sim sobrar cacetadas a todos eles. Cacetadas no sentido metafórico, é claro -- como algo de impacto sobre o que repetiram e que configura a velha ordem unida de fugir da responsabilidade que as próximas gerações vão cobrar. Ou alguém duvida que, lá pelos anos 2050, quando estarei completando o primeiro centenário de vida, não teremos por aqui gente mais ou menos qualificada intelectualmente para indagar o que gerações predecessoras fizeram para impedir que nossa economia se desmilinguisse tanto a ponto de comprometer definitivamente as conquistas sociais que se cristalizaram até o final dos anos 1980 do século anterior? Ou alguém é capaz de apostar em cenário diferente deste se o andar da carruagem não for alterado?
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)