A Avenida dos Estados, outrora, antes da chegada da Rodovia Anchieta e da Rodovia dos Imigrantes, uma porta escancarada à ocupação industrial de Santo André, virou tremendo mico. Por isso, o anunciado e repetido plano de recuperação de parte daquele espaço pela secretária de Desenvolvimento Econômico de Santo André, Oswana Fameli, manchetíssima do Diário do Grande ABC do último domingo, comporta muitas considerações, avaliações e, principalmente, alertas.
O resumo da ópera é o seguinte: para sair da condição de mico econômico em que se transformou, a Avenida dos Estados precisa ser pensada e repensada muito além do território de Santo André. Ou esqueceram de que também abrange São Caetano e os limites de Mauá. Sem contar a Capital.
A manchetíssima do Diário do Grande ABC não traz maiores informações sobre as pretensões da Administração Carlos Grana provavelmente porque não há mais informações. É melhor não tê-las do que estarem à disposição e se correr o risco de aprovação pelo Legislativo de algo completamente fora do sincronismo de acessibilidade logística que aquela antiga artéria exige para deixar a condição de subalternidade no sistema de transporte.
Degradação total
A degradação física, econômica e ambiental da Avenida dos Estados, que tem o leito do Tamanduateí como companheiro indissociável, numa espécie de conforto e conformismo mútuos pelo desdém que sempre sofreram ao caírem em desgraça, é o retrato mais bem acabado, também, da marginalidade como elemento estimulador de competitividade logística.
A recentemente anunciada saída da Balas Juquinha do território de Santo André não se deu apenas porque a Avenida dos Estados virou o fio de competitividade, mas sem dúvida contribuiu para isso. Aliás, como tantas outras deserções e miniaturizações produtivas consumadas ao longo dos tempos. Inclusive do complexo da Rhodia Química, em Santo André, que, recentemente, anunciou investimentos tecnológicos numa planta que já teve múltiplas vezes mais trabalhadores em seus galpões.
Pode até ser que Santo André faça da Avenida dos Estados nicho de alguma atratividade econômica após o anunciado processo de rearrumação ocupacional daquele espaço, onde haveria pelo menos 20% de ociosidade ou baixa ocupação física. Possivelmente a Prefeitura de Santo André esteja a subestimar o tamanho da bronca. Aparentemente, há muito mais espaços disponíveis a aportes de investimentos satisfatórios.
A supressão de imóveis desocupados ou ocupados precariamente pode ser mesmo uma boa pedida. Até porque, convenhamos, a vulnerabilidade explícita da Avenida dos Estados se deve principalmente às dificuldades de viver em local insalubre não só pela proximidade do Tamanduateí fétido de sempre, mas do excesso de poluição gerada principalmente pelos veículos pesados.
O projeto Eixo Tamanduatehy, de Celso Daniel, que já foi para a cucuia há muito tempo, previa ocupação mista de Primeiro Mundo em todo o entorno da Avenida dos Estados. A gestão Carlos Grana dinamita aquela proposta da forma menos aconselhável possível: sem o respaldo de estudos que fundamentassem tecnicamente as alterações ocupacionais. Por isso não pode cometer equívoco semelhante ao implantar uma nova tentativa ocupacional sem fundamentação de especialistas.
Cadê a integração?
Fossem as administrações da Capital, de São Caetano e de Santo André preocupadas com o conceito de integracionismo econômico e social, o fardo da Avenida dos Estados seria providencialmente dividido. O plano de reestruturação compartilhado de acordo com o tamanho da quilometragem reservada a cada ente municipal seria uma solução conjunta para um problema coletivo com ganhos agregados.
Por essas e por outras a Administração Carlos Grana não pode simplificar demais as soluções mais emergenciais para dar condições mais favoráveis de ocupação da Avenida dos Estados, pedaço do território reservado ao projeto Eixo Tamanduateí. Há aspectos que precisam ser considerados, os quais apenas especialistas em logística integrada são capazes de detectar.
Até prova em contrário, o desvencilhamento da Avenida dos Estados da condição de pária logístico da Província do Grande ABC, depois de viver anos de príncipe, é tarefa muito mais que desafiadora e foge completamente ao espectro de debates cujos participantes não entendem patavina de competitividade logística sem vieses particulares de locupletação pessoal ou corporativa com as mudanças. Quem são os latifundiários da Avenida dos Estados? Eis uma indagação que precisa de resposta transparente porque, de imediato, representará suspeição sobre eventuais tentativas de orquestrar mudanças na Lei de Uso e Ocupação do Solo em proveito próprio.
Rodoanel complica mais
A responsabilidade da Administração Carlos Grana em tornar a Avenida dos Estados, somente a Avenida dos Estados, eixo de desenvolvimento econômico que supere o tamanho dos obstáculos que se apresentam é proporcionalmente tão potencializadora de uma marca importante à gestão petista quanto uma armadilha que poderá custar caro nas próximas eleições.
Eu não apostaria um tostão furado na recomposição da Avenida dos Estados como matriz de desenvolvimento econômico nos próximos tempos, sobretudo após a chegada dos trechos sul e leste do Rodoanel, que nos tiram ainda mais empresas, mas já que Carlos Grana meteu a mão nessa cumbuca, que trate de evitar que o oportunismo de forças de pressão prevaleça.
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