Imprensa

Diálogo Aberto é antagonismo para
iluminar regionalidade da Província

DANIEL LIMA - 07/07/2015

Num dos livros que escrevi, registrei frase da qual jamais me arrependi e que aparentemente conflita com a constatação de que somos uma Província. Trata-se do fato de que somos múltiplos em individualidades produtivas. O contraponto nocivo e deletério é que sofremos do mal do coletivismo ou do grupismo de conveniência. 


 


Ou seja: as individualidades geralmente se esboroam ante condicionalidades de organizações que estabeleceram regras de relacionamentos cujo centro de ação é não mexer em time que está perdendo, porque alguns desse time estão ganhando. É claro que o time que está perdendo é formado pelos sete municípios da região. E os poucos que estão ganhando estão incrustrados em entidades diversas, quando não nos poderes constituídos, formalmente ou informalmente.


 


Escrevi tudo isso para dizer que o programa que passarei a apresentar a partir da semana que vem no canal de televisão de internet do Diário do Grande ABC tem marca sugestivamente conciliatória: Diálogo Aberto. Devo dizer antes de tudo que não tenho nada a ver com a inspiração do nome do programa, da cabeça e da inventividade de Juliana Bontorim, colunista social e responsável pela TVDGABC. Mas devo dizer também que aprovei de imediato a sugestão, porque sintetiza o espirito do projeto.


 


Se vira nos trinta


 


E que espírito é esse? Que, a partir de questões conflitivas colocadas pelo mediador, os dois convidados se virem nos trinta e tratem de dar respostas consistentes. Não será fácil, mas garanto que será muito, mas muito interessante. Na posição de mediador, serei apenas um provocador. 


 


São tantos os exemplos que poderia desfilar para levar à prática compreensiva o que será Dialogo Aberto que até fico paralisado. Fico na mesma situação de quem vai a uma festa e flutua a escolha entre várias opções de roupas. Ou de quem abre a porta de uma geladeira e não lhe faltam pecados capitais que vão arrebentar a dieta gastronômica. Costumo dizer que é muito melhor a dúvida da abundância do que a certeza da escassez -- porque a primeira é democrática e a segunda uma agressão à vida.


 


Mas vamos ao que interessa com um exemplo de debate que pretendo ver levado adiante, instigando os dois convidados a usarem com inteligência e argumentos o máximo de informações e dados consolidados. Já imaginaram um especialista em educação do quilate de Valmor Bolan, que sabe tudo sobre, por exemplo, Ensino Superior, opondo-se ao reitor da Universidade Federal do Grande ABC, Klaus Capelle? A recíproca é verdadeira. Teremos grandes assaltos. É provável que nocautes se cristalizem entre os telespectadores.


 


Escolha a frase


 


Fosse este jornalista Clodovil, a resposta ao embate sobre o Ensino Superior entre tantos outros, seria imediata: “Uma glória!”. Fosse este jornalista um desses machões de telenovela mexicana, a exclamação enfática se seguiria à avaliação curta e grossa: “É do cacete!”. Como este jornalista é este jornalista e está muito feliz com isso, a resposta é simples: “Assistam!”.


 


De uma coisa tenham certeza os leitores que vão virar telespectadores: não faltará emoção, coração, racionalidade e democracia em cada programa, porque o que vai estar em destaque, insuperavelmente, será a regionalidade desta Província.


 


Nos últimos anos foram várias as oportunidades para desempenhar a função de apresentador de um programa de TV na internet. Resisti porque não pretendia me meter em outra mídia, já que me dedico completamente à escrita, que exige muita leitura. Mas desta vez cedi ao convite do empresário Ronan Maria Pinto, presidente do Diário do Grande ABC.


 


E não haveria mesmo como resistir à proposta. A base conceitual do programa vai ser a Carta do Grande ABC, publicada na primeira página do jornal em 11 de maio último e que define os pontos cardiais da publicação na busca de uma regionalidade planejada, organizada, sistematizada. Tudo para mudar a história do jornalismo regional deste País, subjugado às forças de pressão.


 


Meio século de Diário


 


Vou escrever outros artigos sobre Diálogo Aberto. Inclusive sobre o número zero da programação, que reunirá os jornalistas Ademir Médici e Sérgio Vieira. Eles somam mais de 50 anos de atuação no Diário do Grande ABC. São um veterano e um jovem que podem oferecer pontos e contrapontos à audiência. Tê-los num debate será ótimo. Até porque, vou procurar extrair deles o que chamaria de resumão do que pretendo colecionar na sequência da programação, com uma entrevista semanal.


 


Quem acha que Ademir Médici e Sérgio Vieira vão ter moleza precisa se preparar para surpresas. Vou fazer de tudo para retirá-los da zona de conforto. O sentido matricial de Diálogo Aberto é a busca por faíscas que se traduzam em luminosidade. Diálogo Aberto significa civilidade na exposição de ideias. O que não necessariamente reserva algum parentesco com consensualidade. Aí é que estará a graça do programa. Já formulei mentalmente a primeira pergunta aos dois jornalistas que admiro. 


 


Vamos mostrar que contamos com individualidades extraordinárias na região. Esperamos que o programa faça com que todos saiam da sala de visitas de convergências convenientes que têm o péssimo destino de sufocar divergências fosforescentes.


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