Economia

Disque “M” de Marinho e “M” de
Marques para matar o bom-senso

DANIEL LIMA - 10/07/2015

O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo (de Diadema e de Ribeirão Pires) Rafael Marques, certamente seriam vilões hitchcockianos depois das entrevistas publicadas nesta sexta-feira no Estadão e no Valor Econômico. Cada um a seu modo, mas de modo coerentemente incoerente, típico de sindicalista acostumado a falar a plateias doutrinadas nos bastidores para aprovar tudo o que foi combinado na oficialidade dos atos, Marinho e Marques deixaram um recado claro aos leitores.


 


O primeiro recado é de Marinho, que não se corrige mesmo, fechando-se em delírios interpretativos. O segundo recado, de Marques, acreditando-se mais esperto que a esperteza. Como esperar uma Província do Grande ABC de volta à condição de Grande ABC com personagens como esses? O que lhes falta de bom-senso abunda em arrogância, mas por aqui eles são incensados como a fina flor da modernidade. Barbaridade de crime.


 


Rafael Marques disse ao Valor Econômico, a propósito dessa insanidade corporativista chamada Programa de Proteção ao Emprego, que pretende arrancar das montadoras a fatia de perda salarial que o rebaixamento de 30% da carga de trabalho provocaria à massa de operários. Ou seja: ele já dá como favas contadas que as montadoras e os trabalhadores das montadoras vão aderir ao PPE e já exterioriza o próximo passo, um passa-moleque nas empresas. Vou reproduzir alguns trechos sequenciais da matéria do Valor Econômico para que não me tomem por impreciso. Leiam:


 


 Rafael Marques, presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, diz que a complementação salarial tida hoje em programas de layoff poderá ser batalhada também nas negociações em torno do PPE. “Acho que o caminho é esse. O governo estabeleceu um patamar mínimo (de quanto as empresas devem pagar). Temos que estudar formas para que a perda salarial seja mínima ou não aconteça”, diz Marques, um dos negociadores do PPE pelo lado sindical – escreveu o Valor Econômico.


 


Mistura explosiva


 


A mistura entre sindicalismo e ativismo político-partidário fragiliza o território geoeconômico no qual está incrustada. O sindicalismo cutista dos metalúrgicos de São Bernardo está no topo da permanente debilidade do tecido econômico da região porque esparrama distorções aos demais setores. A queda contínua do PIB regional, muito acima da média nacional, é um convite a reflexões que as instâncias politicas, econômicas e sociais insistem em desprezar.


 


Nos anos da presidência de Fernando Henrique Cardoso, os sindicalistas da escola de Lula da Silva tiveram mais que um concorrente pernicioso à estrutura industrial regional. Tiveram um predador durante oito anos. Mas Fernando Henrique Cardoso foi embora com a abertura econômica apressada e sem contrapartidas e vieram os petistas ligadíssimos a esta Província, Lula da Silva e Dilma Rousseff. Eles incentivaram intensamente a retomada de vícios sindicais que pareciam em frangalhos. Tudo com a cobertura de uma política de consumo muito acima do razoável. Até que a farra das commodities acabou.


 


Rafael Marques é a renovação dessa frota de sindicalistas ultrapassados, com agravante de que é jovem, um jovem envelhecido em ideias. Quando se tem um jovem envelhecido em ideias em postos de comando a desgraça é completa, porque há imensas possibilidades de a longevidade perseverar e doutrinar um exército de semelhantes.


 


O drible da vaca que Rafael Marques pretende aplicar nas montadoras e provavelmente nas autopeças reflete o conceito de um sindicalismo que enxerga exclusivamente os próprios limites operacionais dos gabinetes em que se perpetua e de onde distribue ordens aos bovinos de chão de fábrica.


 


Vou escrever sobre o que chamo de insanidade do PPE outro dia, mas, resumidamente, trata-se de intervenção estatal no mercado de trabalho com suporte propagandístico do modelo aplicado na Alemanha. A diferença é que na Alemanha de elevadíssima competitividade há condicionantes em forma de critérios de produtividade, entre tantos outros, além da tessitura das finanças públicas. Nada a ver, portanto, com as improdutividades das fábricas locais num País freneticamente esbanjador da elevada carga tributária e de complicações logísticas e de infraestrutura. 


 


Marinho, o detonador


 


Se o “M” de matar de Marques reflete o aperfeiçoamento corporativista dos metalúrgicos de São Bernardo, o “M” de matar de Marinho carrega todos os vícios de um politico despreparado para entender as transformações por que passa o País. Perguntado no Estadão de hoje sobre a avaliação que faria da Operação Lava Jato, Luiz Marinho ultrapassou todos os limites do ponderável e todas as barreiras do precário conhecimento do caso ao dizer exatamente o seguinte:


 


 (...) Não estudei o processo, mas como cidadão vejo de forma espantosa como um juiz de primeira instância (Sérgio Moro) possa colocar de joelhos as instâncias superiores da forma como tem feito. Parece até encomenda e é preciso que as instâncias superiores assumam a responsabilidade por este processo. É um absurdo que delatores A, B ou C acusem alguém sob tortura. (...) O que se ouve de bastidor é que está havendo tortura não só psicológica. E alguém falando nessas condições tem o direito de mentir. Sugiro que os senadores (da oposição, que foram à Venezuela para tentar visitar os presos políticos do regime de Nicolás Maduro) façam uma comissão e, em vez de ir à Venezuela, vejam o que está acontecendo em Curitiba, que é muito mais perto – afirmou Marinho.


 


Bobagens insuperáveis


 


Concordam os leitores que de duas uma: ou Luiz Marinho endoidou de vez ao acreditar que está num palanque diante de metalúrgicos, como nos tempos de sindicalista, quando podia dizer o que bem entendesse, ou endoidou de vez porque não suportou o peso da destruição que o Petrolão provocou no orçamento paralelo do PT e de partidos da coalizão que transformaram a maior estatal do País em convenção permanente de vigaristas.


 


Não existe alternativa às declarações de Luiz Marinho. Se os demais veículos de comunicação não repercutirem essa loucura de um ex-ministro de Estado e prefeito de uma das maiores cidades do País, bem como candidato a candidato ao governo do Estado nas próximas eleições, diria que Luiz Marinho ganhou um concorrente à altura em desvario e em irresponsabilidade – a própria mídia eventualmente omissa – ou então Luiz Marinho é muito menos importante no jogo político nacional do que se supõe.   


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